ResumoNos últimos anos as metodologias feministas têm influenciado fortemente a psicologia e as ciências sociais em geral, trazendo para o domínio da investigação novas possibilidades de pesquisa e de entendimento das dinâmicas sociais. A denominada crise positivista, muito marcada pelas críticas feministas à objectividade e neutralidade da ciência, legitimou a emergência de portentosas ferramentas analíticas, entre as quais a reflexividade. Este artigo explora a importância da adopção da reflexividade no processo de investigação e a sua influência na construção de uma ciência mais responsável. São discutidos os pontos de convergência entre a reflexividade e os pressupostos que presidem à utilização das metodologias feministas na psicologia. Palavras-chave: Metodologias feministas; reflexividade; ciências sociais.
Feminist Methodologies: Reflexivity in Social Sciences Research AbstractIn recent years feminist methodologies has greatly influenced psychology and social sciences in general, bringing up to the research field new possibilities of analysis and knowledge about social dynamics. The positivist crisis, affected in a large extent by feminist critics related with objectivity and neutrality of science, legitimated the emergence of potent analytic tools, among them reflexivity. This paper explores the importance of adopting reflexivity in the research process and its influence in the construction of a more responsible science. Convergent topics between reflexivity and the principles that underlie feminist methodologies in psychology are discussed. Keywords: Feminist methodologies; reflexivity; social sciences. As ciências sociais, durante décadas, invocaram a chancela da objectividade como pilar de garantia da produção de discursos científicos independentes, fidedignos, verdadeiros e universais (Breuer, Mruck & Roth, 2002;Neves & Nogueira, 2003; Nogueira, 1996;Miller, 2000;Tittoni & Jacques, 1998). Tentando criar a impressão de que os seus produtos seriam eles mesmos objectivos, as ciências sociais foram sustentando a crença de que o conhecimento científico não poderia ser senão autónomo da pessoa que o produzia (Breuer & cols., 2002), o que lhe deferia um rigor e uma imparcialidade inquestionáveis.As abordagens positivistas da ciência, cujo legado se mantém visível nas práticas e metodologias de investigação científica actuais, ao encorajar a neutralidade e a isenção dos/as investigadores/as face a todo o processo de pesquisa e de interpretação dos resultados dele provenientes, perpetuaram a visão do/a cientista alheado/a do seu objecto de conhecimento e de costas voltadas para a repercussão que a sua própria subjectividade causava no modo como lia e analisava os elementos observados. O ideal do/a cientista competente seria compatível, por isso, com a imagem do/a cientista despido/a das suas crenças, valores e ideologias e convenientemente desatento/a aos factores sociais, culturais, históricos e políticos que enformavam as performances dos/as actores/actrizes sociais com os/as quais interagia (face-a-face o...