Abstract:Recentemente, vozes do meio castrense brasileiro voltaram a insistir que as terras indígenas na Amazônia representam uma ameaça à soberania nacional. Nesse tipo de manifestação, que é em realidade um ataque retórico aos direitos indígenas estabelecidos sob o lastro de uma longa tradição indigenista, as críticas militares pretenderam, em nome da "segurança nacional", desqualificar a totalidade dessa política de Estado. Este artigo observa não apenas o anacronismo de tais críticas ante a tradição indigenista bra… Show more
“…Os militares, organizados em instituições próprias como o Clube Militar, o Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres), postulam que ronda as terras indígenas, ou a Amazônia, "[...] uma iminente ameaça à segurança nacional: a 'balcanização' étnica, capitaneada por ONG internacionais, por meio da instrumentalização dos povos indígenas brasileiros, [...]" (CAVALCANTI-SCHIEL, 2009, p. 149). Reações desse tipo surgem a todo momento, mas especialmente depois de aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas pela ONU em 13 de dezembro de 2008, o pertencente ao Cebres e ex-comandante Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, militar da Amazônia publica no website do clube que, se a Declaração for referendada no Congresso brasileiro, os líderes indígenas poderiam, instruídos e preparados, declarar a independência de suas nações, apartando-se do Brasil (CAVALCANTI-SCHIEL, 2009). A lógica da 'proteção' dos indígenas pelo Estado Nacional e como reclamado pelos militares, no contexto de um regime político autoritário, visa apenas camuflar a realidade sob essa pseudoproteção, mas defendendo de fato, a "expansão da fronteira agrícola e da exploração econômica, sob a forma do extrativismo empresarial ilimitado" (CAVALCANTI-SCHIEL, 2009).…”
O ensaio reflete a questão da política indigenista como política pública no sentido de fortalecer o debate sobre a questão indígena. Parte-se da pergunta: o que é política pública? e em seguida: o que é política pública indígena? Segundo Souza (2003, p. 13) a definição mais conhecida de política pública é o pensamento elaborado por Laswell (1936) que implica em responder às questões: “quem ganha o quê, por quê e que diferença faz”. E, à segunda pergunta: de acordo com o site do Museu do índio, a política indigenista é orientada pelo indigenismo, conjunto de princípios estabelecidos a partir do contato dos povos indígenas com a sociedade nacional. Buscamos refletir sobre direitos indigenistas como direitos humanos; debatemos a controvérsia tutela versus o protagonismo indígena; pincelamos sobre o ativismo militar e a implicância com a questão indígena; e, a presentamos um panorama das políticas públicas brasileiras voltadas aos indígenas, especialmente, no Estado do Maranhão. O ensaio é uma revisão de literatura que consistiu numa etnografia virtual - busca em diversas plataformas e bases de dados como Scielo. Os questionamentos levantados foram respondidos com base na visão dos autores referendados e instituições citadas.
“…Os militares, organizados em instituições próprias como o Clube Militar, o Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres), postulam que ronda as terras indígenas, ou a Amazônia, "[...] uma iminente ameaça à segurança nacional: a 'balcanização' étnica, capitaneada por ONG internacionais, por meio da instrumentalização dos povos indígenas brasileiros, [...]" (CAVALCANTI-SCHIEL, 2009, p. 149). Reações desse tipo surgem a todo momento, mas especialmente depois de aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas pela ONU em 13 de dezembro de 2008, o pertencente ao Cebres e ex-comandante Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, militar da Amazônia publica no website do clube que, se a Declaração for referendada no Congresso brasileiro, os líderes indígenas poderiam, instruídos e preparados, declarar a independência de suas nações, apartando-se do Brasil (CAVALCANTI-SCHIEL, 2009). A lógica da 'proteção' dos indígenas pelo Estado Nacional e como reclamado pelos militares, no contexto de um regime político autoritário, visa apenas camuflar a realidade sob essa pseudoproteção, mas defendendo de fato, a "expansão da fronteira agrícola e da exploração econômica, sob a forma do extrativismo empresarial ilimitado" (CAVALCANTI-SCHIEL, 2009).…”
O ensaio reflete a questão da política indigenista como política pública no sentido de fortalecer o debate sobre a questão indígena. Parte-se da pergunta: o que é política pública? e em seguida: o que é política pública indígena? Segundo Souza (2003, p. 13) a definição mais conhecida de política pública é o pensamento elaborado por Laswell (1936) que implica em responder às questões: “quem ganha o quê, por quê e que diferença faz”. E, à segunda pergunta: de acordo com o site do Museu do índio, a política indigenista é orientada pelo indigenismo, conjunto de princípios estabelecidos a partir do contato dos povos indígenas com a sociedade nacional. Buscamos refletir sobre direitos indigenistas como direitos humanos; debatemos a controvérsia tutela versus o protagonismo indígena; pincelamos sobre o ativismo militar e a implicância com a questão indígena; e, a presentamos um panorama das políticas públicas brasileiras voltadas aos indígenas, especialmente, no Estado do Maranhão. O ensaio é uma revisão de literatura que consistiu numa etnografia virtual - busca em diversas plataformas e bases de dados como Scielo. Os questionamentos levantados foram respondidos com base na visão dos autores referendados e instituições citadas.
“…2016. se percebem atualmente nas manobras legislativas com as que se pretende atacar os direitos indígenas. Meu argumento vai na direção de que esta seria a razão da dificuldade da nação brasileira em assumir-se como multiétnica, já assinalada, ademais, por quem a tem analisado recentemente (ver LIMA, 2012;CAVALCANTI-SCHIEL, 2009 Brasil nos períodos colonial e imperial observa-se a preexistência de técnicas de governança que remontam à cada época passada. Em síntese, o que permanece sempre é: 1) a questão da "civilização" ou da "nacionalização" dos índios; 2) da ocupação de suas terras, sempre reconhecidas e tomadas, de forma mais agressiva a partir da segunda metade do XIX; 3) a proteção e a tutela, que já tinha antecedentes coloniais e no Império, estabelecida sobre um status de índio em regime jurídico especial no século XX; 4) permanece sempre também a distinção entre índios "aldeados" e "inimigos", "bravos" ou "mansos" ou "pacificados"; ou, agora, nos discursos dos/as opositores aos direitos indígenas, a distinção entre índios falsos, porque miscigenados ou estrangeiros, ou verdadeiros, porque "genealógicos", técnica disciplinar que comento a seguir.…”
Section: Espaço Ameríndiounclassified
“…As dificuldades, incoerências e desafios em efetivarmos uma nação plural no Brasil vêm sendo apontadas por antropólogos, seja em face das práticas arraigadas de tutela e assimilacionismo do indigenismo oficial, que podem abrir "zonas de deslizamento entre 'políticas da diferença' e ação tutelar" (LIMA, 2012); seja diante das polêmicas atuais acerca da "segurança nacional", pretensamente desafiada pela regularização fundiária de terras indígenas, polêmicas que apontam para a urgente necessidade de discussão ampliada sobre o estatuto da diferença no espaço social (CAVALCANTI-SCHIEL, 2009). De minha parte, tentei paralelizar o caso de amor idealizado entre um indivíduo índio/a e branco/a no imaginário nacional à permanência da mentalidade colonial frente aos povos indígenas no Brasil.…”
A partir de aspectos históricos concernentes ao direito indígena a terras no Brasil desde o período colonial, correlaciono legislação, técnicas de governamentalidade e imaginário de amplo apelo na sociedade e de longa duração, com vistas a lançar luz sobre o atual ataque aos direitos indígenas no país por parte de políticos e interesses econômicos associados. Verifico três dimensões de discurso e as técnicas que articulam: a econômica, a jurídica, ambas apenas inteligíveis sob os marcos próprios de construção de alteridades no estado-nação brasileiro; e a dimensão “mitológica”, aqui entendida no sentido estruturalista de imaginário. Nesta última, encontro uma idealização que se desloca entre a aliança possível e a tutela/impotência dos índios. Concluo que a dimensão imaginária acrescenta sentido ao entendimento da tensão permanente e ainda operante entre assimilação e admissão da diferença indígena na nação brasileira hoje.
“…Esses profissionais dedicados à causa indígena não tinham formação antropológica específica e viam a si próprios como humanistas e missionários leigos interessados no contato com os indígenas e na transmissão a eles dos valores da civilização ocidental (Cavalcanti-Schiel, 2009). A participação dos antropólogos na formulação das polí-ticas indígenas só se daria a partir dos anos 40, depois de criado o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, do qual passaram a fazer parte alguns dos expoentes da antropologia brasileira.…”
Section: Vicissitudes Do Nacionalismo Racista E Da Mestiçagem Políticunclassified
“…A demarcação da área foi combatida sucessivamente por fazendeiros e produtores de arroz que ocupavam indevidamente a terra, além de garimpeiros e empresas mineradoras interessados na prospecção de minerais na região (Kayser, 2010, p. 383). O Exército se mostrou igualmente resistente à demarcação da TI Raposa, argumentando que terra indígena de tamanha dimensão coloca em perigo a segurança das fronteiras internacionais brasileiras, uma vez que o povoamento através dos indígenas não ofereceria os mesmos obstáculos a invasões estrangeiras que um povoamento por não indígenas (Cavalcanti-Schiel, 2009). …”
Resumo
O artigo estuda o padrão de relacionamento dos governos Lula com as populações indíge-nas e afrodescendentes, considerando dois horizontes de análise: a inserção do período
Abstract
This article examines the relationship between the two Lula administrations and indigenous and afro-descendant populations, considering two horizons of analysis: the insertion of Lula administrations in Brazilian nation building and its role for implementing rights established by the
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