“…O que se manipula no triunfo da assunção da imagem do corpo no espelho é o mais evanescente dos objetos, que só aparece à margem: a troca dos olhares, manifesta na medida em que a criança se volta para aquele que de algum modo assiste, nem que seja apenas por assistir a sua brincadeira� (Lacan, 1966(Lacan, /1998c Essa separação e posterior unificação, entre o infans e a Gestalt refletida no espelho, não se dá sem efeitos� É dessa dialética que a alienação do sujeito em relação ao outro e a agressividade se colocam enquanto consequências da subjetivação no campo imaginário� Sabemos, então, que a formação do eu não se limita à captação da imago especular, mas encontra-se submetida ao reconhecimento de um Outro, sendo a partir desse reconhecimento que a criança passa a ocupar um lugar no desejo do Outro� Desse modo, o que assegura o sujeito em sua unificação é o desejo do Outro: "O desejo desse Outro sustenta as instâncias do sujeito dividido e do Ideal-de-Eu 4 que ressoam para além do campo especular" (Prado, 2009, p� 4)� Para além da aquiescência do Outro, apontamos que o sujeito constitui o seu eu a partir de uma imagem e, em decorrência disso, o eu imaginário antecederia a totalidade corporal, pois, no registro neural, haveria uma desmielinização das fibras nervosas, que só se maturariam posteriormente� Como consequência, existiria uma dissonância entre a imagem corporal (eu imaginário) e o esquema corporal de registro neural, o que faria com que a imagem corporal fosse tomada por uma certa fragilidade (Birman, 2009)� Ademais, o resultado da unificação do corpo fragmentado através da imago não acontece sem hostilidade. Birman descreve que qualquer ameaça à representação de uma unificação corpórea seria sentida com intensa angústia pelo eu, que se empenharia contra um retorno ao sentimento de corpo fragmentado: "seria preciso afirmar a vida pela manutenção insistente da unidade corporal do eu, custe o que custar, contra qualquer ameaça de fragmentação corpórea" (Birman, 2009, p� 374)� Como resultado dessa ameaça, produzir-se-ia no sujeito uma defesa de ordem agressiva�…”