Abstract:Com base no ESEB 2002 e no LAPOP 2007, o artigo analisa a evolução das bases do apoio de massa ao Partido dos Trabalhadores desde que Lula chegou ao poder em 2002. Historicamente, só o PT tem sido capaz de construir e manter uma ampla base de "identificados" com o partido entre os eleitores brasileiros. Mas, desde 2002, o PT tornou-se mais moderado e muito menos preocupado com os princípios ideológicos e partidários de seus anos iniciais e o artigo investiga o impacto da moderação da liderança do PT sobre os p… Show more
“…Esse teria sido o único partido que conseguiu desenvolver importante identificação com parte do eleitorado (denominados, pela autora, de simpatizantes), o que teria ocorrido devido à exposição do partido de forma organizada e de sua estratégia de construir um perfil diferenciado, posicionando-se como um partido de oposição e de esquerda até chegar no governo federal em 2002. Samuels (2008) investiga a origem da evolução das bases de apoio de massa do PT, verificando se o perfil do petista médio mudou entre as eleições de 2002 e 2008. Para isso compara os dados dos ESEB2002 e LAPOP 2007.…”
Section: I3 Diagnósticos Sobre Partidarismo Dos Eleitores No Brasilunclassified
ResumoO artigo recupera a discussão dos conceitos de filiação partidária e identificação partidária na Ciência Política contemporânea e analisa os respectivos dados a partir dos resultados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2014. Analisamos os dados sobre a filiação partidária e a identificação partidária, primeiro através de inferências descritivas a respeito da distribuição das variáveis na amostra do ESEB, depois avaliando o poder explicativo das variáveis para entender diferentes dimensões do comportamento e das atitudes políticas dos entrevistados. Identificamos três tipos de filiados: (i) os filiados sem empatia por um partido; (ii) os que tem empatia pelo partido ao qual estão filiados (50%) e (iii) os que apresentam empatia por um outro partido. Esses resultados indicam a necessidade de explorar diferentes dimensões da filiação partidária em futuras pesquisas. Em relação à identificação partidária, verificamos que ela contribui para explicar a probabilidade de filiação e de se engajar em diferentes formas de ativismo político. A variável identificação partidária também ajuda prever o comparecimento eleitoral. Os fenômenos da filiação partidária e da identificação partidária, pouco valorizados na Ciência Política brasileira, apresentam padrões consistentes e são ferramentas importantes para entender o comportamento político dos cidadãos. Futuras pesquisas devem dedicar mais atenção a esses fenômenos.PALAVRAS-CHAVE: filiação partidária; identificação partidária; partidos políticos; participação política; Estudos eleitorais.
I. Introdução 1A maior parte da literatura acadêmica diagnostica o vínculo entre os partidos políticos e o eleitorado brasileiro como fraco. A conturbada tradição de diferentes sistemas partidários ao longo da história brasileira e a dificuldade de associar as divisões partidárias a clivagens sociais ou ideológicas são alguns dos fatores arrolados para explicar porque os partidos não contam com eleitores fiéis (Soares 1982). A proliferação de siglas partidárias desde a volta ao multipartidarismo, a partir de 1980, e as altas taxas de fragmentação e migração partidárias seriam sintomas desses laços fracos entre partidos e sociedade. A curta tradição das organizações partidárias e o número elevado de siglas dificultaria a criação de vínculos estáveis entre eleitorado e partidos que caracteriza outras democracias representativas (Kinzo 2005). Finalmente, as pesquisas eleitorais indicam que os partidos políticos têm um papel periférico no imaginário político. Poucas semanas após o pleito somente uma pequena fração dos votantes se lembra em qual partido votou na última eleição 2 .Todos esses indícios são usualmente arrolados para fundamentar a tese da relevância limitada dos partidos políticos para estruturar as opiniões e ações do eleitorado brasileiro. Por outro lado, confrontamos o fato de que os eleitores reconduzem os partidos políticos aos cargos mais altos aproximadamente na mesma proporção dos pleitos passados. A identificação com partidos políticos no eleitorado é baixa, mas ...
“…Esse teria sido o único partido que conseguiu desenvolver importante identificação com parte do eleitorado (denominados, pela autora, de simpatizantes), o que teria ocorrido devido à exposição do partido de forma organizada e de sua estratégia de construir um perfil diferenciado, posicionando-se como um partido de oposição e de esquerda até chegar no governo federal em 2002. Samuels (2008) investiga a origem da evolução das bases de apoio de massa do PT, verificando se o perfil do petista médio mudou entre as eleições de 2002 e 2008. Para isso compara os dados dos ESEB2002 e LAPOP 2007.…”
Section: I3 Diagnósticos Sobre Partidarismo Dos Eleitores No Brasilunclassified
ResumoO artigo recupera a discussão dos conceitos de filiação partidária e identificação partidária na Ciência Política contemporânea e analisa os respectivos dados a partir dos resultados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2014. Analisamos os dados sobre a filiação partidária e a identificação partidária, primeiro através de inferências descritivas a respeito da distribuição das variáveis na amostra do ESEB, depois avaliando o poder explicativo das variáveis para entender diferentes dimensões do comportamento e das atitudes políticas dos entrevistados. Identificamos três tipos de filiados: (i) os filiados sem empatia por um partido; (ii) os que tem empatia pelo partido ao qual estão filiados (50%) e (iii) os que apresentam empatia por um outro partido. Esses resultados indicam a necessidade de explorar diferentes dimensões da filiação partidária em futuras pesquisas. Em relação à identificação partidária, verificamos que ela contribui para explicar a probabilidade de filiação e de se engajar em diferentes formas de ativismo político. A variável identificação partidária também ajuda prever o comparecimento eleitoral. Os fenômenos da filiação partidária e da identificação partidária, pouco valorizados na Ciência Política brasileira, apresentam padrões consistentes e são ferramentas importantes para entender o comportamento político dos cidadãos. Futuras pesquisas devem dedicar mais atenção a esses fenômenos.PALAVRAS-CHAVE: filiação partidária; identificação partidária; partidos políticos; participação política; Estudos eleitorais.
I. Introdução 1A maior parte da literatura acadêmica diagnostica o vínculo entre os partidos políticos e o eleitorado brasileiro como fraco. A conturbada tradição de diferentes sistemas partidários ao longo da história brasileira e a dificuldade de associar as divisões partidárias a clivagens sociais ou ideológicas são alguns dos fatores arrolados para explicar porque os partidos não contam com eleitores fiéis (Soares 1982). A proliferação de siglas partidárias desde a volta ao multipartidarismo, a partir de 1980, e as altas taxas de fragmentação e migração partidárias seriam sintomas desses laços fracos entre partidos e sociedade. A curta tradição das organizações partidárias e o número elevado de siglas dificultaria a criação de vínculos estáveis entre eleitorado e partidos que caracteriza outras democracias representativas (Kinzo 2005). Finalmente, as pesquisas eleitorais indicam que os partidos políticos têm um papel periférico no imaginário político. Poucas semanas após o pleito somente uma pequena fração dos votantes se lembra em qual partido votou na última eleição 2 .Todos esses indícios são usualmente arrolados para fundamentar a tese da relevância limitada dos partidos políticos para estruturar as opiniões e ações do eleitorado brasileiro. Por outro lado, confrontamos o fato de que os eleitores reconduzem os partidos políticos aos cargos mais altos aproximadamente na mesma proporção dos pleitos passados. A identificação com partidos políticos no eleitorado é baixa, mas ...
“…Uma das razões para isso é que muitas decisões relativas ao processo eleitoral e partidário (por exemplo, coligações eleitorais, escolha de candidatos etc.) são tomadas pelas organizações partidárias estaduais e as organizações nacionais não têm muito poder sobre as primeiras (Mainwaring, 2001;Samuels, 2003). A combinação de baixo controle das organizações sobre os políticos e de descentralização leva à formação de partidos catch-all heterogêneos no nível nacional (Mainwaring, 2001, p. 206).…”
Section: Revisitando a Tese Das Instituições Ineficientesunclassified
“…O pSDB se situava numa posição intermediária entre o pT e os demais partidos. De modo geral, os políticos do pT e do pSDB apresentam comportamento mais coeso no legislativo e uma maior preocupação com a reputação partidária do que a média dos partidos brasileiros (Hunter, 2008;Roma, 2002;Samuels, 2008). O pT apresentava, porém, maior institucionalização, uma vez que o partido contava, no início dos anos 2000, com as mais altas taxas de identificação partidária, em torno de 20% do eleitorado (Carreirão e Kinzo, 2004).…”
Section: Uma Visão Alternativaunclassified
“…A migração partidária de prefeitos da oposição para partidos governistas é fato corriqueiro, dado que a sobrevivência política dos prefeitos depende muitas vezes do estabelecimento de boas relações com o governador. O controle sobre as máquinas políticas locais, por sua vez, permite ao governador e ao seu grupo político contar com uma ampla rede de intermediários locais para distribuir cargos e verbas e mobilizar o eleitorado (Abrucio, 1998;Samuels, 2003).…”
Section: Competição Vertical E Políticas Sociais No Federalismounclassified
“…Na visão de muitos autores, a Constituição de 1988 teria introduzido tendências centrífugas na nova democracia, fortalecendo a representação dos interesses subnacionais na arena nacional, ao mesmo tempo que promovia a fragmentação dos partidos e o individualismo político. Segundo essa vertente interpretativa, o federalismo contribuiu para a baixa institucionalização do sistema partidário, em função da descentralização da organização partidá-ria e da capacidade dos governadores e lideranças estaduais de insular as suas máquinas políticas das influências nacionais (Abrucio, 1998;Hagopian, 1996;Mainwaring, 2001;Samuels, 2003). Esta literatura enfatizou ainda os efeitos deletérios do sistema eleitoral proporcional de lista aberta sobre a institucionalização dos partidos e sobre a governabilidade.…”
Abstract. The arrival of Luiz Inácio 'Lula' da Silva and the Partido dos Trabalhadores (Workers' Party, PT) at the helm of the Brazilian federal government in represented the culmination of a slow and deep-rooted process of party transformation. Attributable partly to the inevitable consequences of the party gradually inserting itself into governmental institutions, and partly to strategic decisions made by the dominant coalition that had controlled the PT since , these transformations significantly changed the organisational features of the party, paving its way to the federal government. This article analyses these processes, and the subsequent changes throughout the Lula government, from an organisational perspective, linking exogenous challenges and the party's genetic model with the strategies consciously adopted by the petista leadership.
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