ResumoEste artigo visa problematizar as implicações psicossociais da violência na baixa prostituição na cidade de Fortaleza/CE, buscando analisar as dinâmicas da violência e identificar suas expressões psicossociais no cotidiano das prostitutas. As violências contra prostitutas encontram-se veladas no universo da violência de gênero, reproduzindo a lógica de silenciamento que envolve a violência contra a mulher mesmo ocorrendo comumente no espaço público. A pesquisa teve uma perspectiva etnográfica, contou com a participação de 7 interlocutoras formais e utilizou a Análise de Conteúdo como referência. As análises apontam que a dinâmica da baixa prostituição é atravessada pelos arranjos territoriais, estando os códigos e regras da zona de prostituição em constante disputa com o território. A violência articula-se como uma teia relacional que acaba por impedir o reconhecimento do outro (classe, gênero ou raça/etnia) mediante o uso da força física e/ou simbólica, minando as possibilidades de diálogo, por um lado, e criando outros códigos, formas de interação e performances sociais, por outro. Palavras-chave: Prostituição Feminina. Violência. Psicologia Social. Pobreza. Gênero.
INTRODUÇÃOA expressão "a profissão mais antiga do mundo" comumente é utilizada para definir a prostituição. Contudo, todas as vezes que a escuto tenho a sensação de que, quase que compulsoriamente, ela associa uma mulher ao exercício de tal atividade, e mais que isso, uma mulher pobre (SILVA, 2014). A simbiose prostituição-prostituta é alimentada por relações desiguais de gênero e pela culpabilização da mulher por sua sexualidade, que camufla perfomances e formas diversas de organização (BARRETO, 2008). Piscitelli (2005) ao utilizar o termo "mercado do sexo", intencionalmente amplia o olhar para a lógica mercantil dos intercâmbios sexuais e econômicos da complexa rede de pessoas e instituições.