Representações sociais sobre as relações de parentesco: estudo de caso em um grupo empresarial familiar

Abstract

O objetivo deste trabalho consiste em compreender as representações sociais acerca das relações de parentesco em grupo constituído por doze organizações familiares do ramo farmacêutico, situadas em uma cidade do Estado de Minas Gerais. Recorreu-se à abordagem teórico-metodológica das representações sociais, para resgatar as representações produzidas pelos diferentes atores sobre a influência das relações de parentesco no cotidiano do grupo familiar. As análises evidenciaram a ocorrência de duas grandes representações: parentesco como integração social e mecanismo de manutenção da ordem organizacional vigente e parentesco como fonte de conflito. Conclui-se que o grupo familiar estudado compartilha, no mesmo espaço, de práticas contraditórias e objetivos diversos, ora atendendo às necessidades empresariais, ora sendo dominado pelos desejos individuais e/ou familiares. Portanto, torna-se complexa a tarefa de ditar fórmulas e modelos analíticos para compreender esses objetos, como o grupo empresarial familiar, pois, em seu cotidiano, suas ações são permeadas de aspectos objetivos e subjetivos, concomitantemente, em dinâmica constante de interação de família com a organização.

O Cotidiano De Negócios Familiares Em Matozinhos/Mg

“…A compreensão do que acontece no interior das famílias que possuem empreendimentos se torna fundamental para compreendermos as dinâmicas dos negócios, como eles se criaram, se mantiveram e como são pensados os seus futuros. Lescura et al (2012) destacam o respeito entre os familiares no ambiente do grupo, transmitindo comportamentos próprios do ambiente familiar para o ambiente organizacional. Carrieri, Perdigão e Saraiva (2014) reiteram a inexistência da separação entre famílias e negócios, de tal maneira que os valores da família se reafirmam no local e nos assuntos empresariais.…”

“…Os proprietários são muitas das vezes pais, filhos, mães, tios, sobrinhos, netos que carregam todas as peculiaridades dessas relações, bem como seus conflitos e suas mazelas para o cotidiano dos negócios, interferindo diretamente em sua manutenção ou decomposição. A socialização do sujeito é realizada de tal modo que se afirme o que será aceitável e inaceitável nesse contexto, em um processo de controle e ajustamento das condutas a partir de aspectos afetivos e emocionais, pretendendo enquadrar os comportamentos nos ambientes familiares e dos negócios (LESCURA et al, 2012;SARAIVA, 2013). Cruz e Oliveira (2014, p.239) complementam que a socialização na organização familiar está diretamente relacionada com a convivência dos membros da família nas questões empresariais.…”

“…Dessa maneira, contrapomos nesse artigo o discurso de que as dinâmicas familiares não interferem nas atividades das empresas. Ao contrário disso, ressaltamos que as continuidades dos negócios ocorrem por meio de práticas tradicionais e saberes informais que contestam a gestão de caráter universal generalista, abrindo possibilidades para gestões variadas, de diversos significados e construídas de diferentes formas (LESCURA et al, 2012).…”

Representações do lucro no comércio de artigos religiosos: interpretações do sagrado e do profano no cotidiano das organizações

“…Na segunda metade do século XX, com o objetivo de superar um passado de dicotomia individual e social, emergiram estudos nessa área, tendo por base o conceito de representações sociais (Farr, 1996;Jahoda, 1988;Jovchelovitch, 1996;Sá & Arruda, 2000). O exame das relações entre o conceito de representações e outros conceitos e teorias que dizem respeito à ideologia, cultura, identidade e comunicação, dentre outros, possibilitou que ele fosse também aplicado aos estudos organizacionais (Lescura, Brito, Borges & Cappelle, 2012;Borges, Medeiros & Casado, 2011;Cavedon & Pires, 2006;Silva, Carrieri & Junquilho, 2011).…”

As representações sociais circulantes no período de margem do ritual de passagem: o caso dos peritos criminais em estágio probatório

“…No campo da administração, e mais especificamente de estudos referentes ao universo das organizações, verificamos a existência de trabalhos que contemplam as representações sociais (Diniz, Carrieri, & Barros, 2013;Salles & Costa, 2013;Azevedo, Walber, Schujmann, & Garay, 2012;Lescura, Brito, Borges, & Cappelle, 2012;Silva & Galinkin, 2011;Acevedo, Nohara, Campanario, & Telles, 2009;Corrêa & Pimenta, 2006;Corrêa, Gontijo, Assis, Carrieri, & Melo, 2007;Cavedon & Ferraz, 2005) e os rituais de passagem (Toledo & Bulcagov, 2004;Bresler, 1993;Cavedon, 1988). Todavia, pesquisas que busquem integrar as duas abordagens no campo dos serviços públicos não foram encontradas, o que se configura como um gap a ser preenchido, daí a relevância do presente trabalho que, sob uma perspectiva teórica, busca atingir avanços mediante o intercruzamento dos referidos temas e, sob o ponto de vista empírico, intenta trazer reflexões sobre os novos servidores em atuação numa área específica da Segurança Pública.…”