A Religião como Metonímia das Relações Sociais: um Estudo a partir de uma cidade do interior de Minas Gerais
I n t r o d u ç ã oEste trabalho tem como objetivo principal demonstrar de que forma, a partir de um intenso processo de urbanização ocorrido dentre as décadas de 1970-1980, a cidade de Mariana (MG) viu seu cenário marcado por uma contundente polarização sócio-espacial, envolvendo a população já estabelecida e o contingente populacional recém-chegado. Em nosso entendimento, essa polarização incidiu de forma crucial na vida religiosa da cidade, sendo a religião não só uma projeção desse contexto, mas lugar privilegiado no qual se encenam e re-atualizam as disputas de poder e dilemas dessa sociedade. Sendo assim, subdividimos o artigo em quatro partes: a primeira descreve os percursos da pesquisa; a segunda a formação histórico-estrutural dos grupos sociais dentro da cidade de Mariana, bem como as estruturas de poder estabelecidas e sua intrínseca relação com o processo de industrialização e urbanização da cidade. Já na terceira, analisamos a projeção dessas estruturas sobre o campo religioso. Neste sentido, a religião será entendida não só como dispositivo assegurador do status quo citadino, mas como espaço privilegiado onde se encenam as disputas pelo poder e hierarquia. Na quarta parte, elencamos, rapidamente, os elementos destoantes do projeto identitário da cidade, para, a seguir concluir o artigo.A p r I m e I r A I m p r e s s ã o n ã o é A q u e f I c A A primeira vez que visitei a cidade de Mariana-MG foi em 1996, por ocasião das comemorações do dia 21 de abril, dia de Tiradentes, que acontecia na cidade vizinha, Ouro Preto. Ao contrário de sua turbulenta vizinha -com seus vai-e-vem de carros e turistas, disputados aos gritos pelos ávidos guias -Mariana, pareceu-me mais tranqüila. De topografia menos acidentada, ruas largas, retas e bem ordenadas, onde