O "selvagem" entre dois tempos: a escrita etnográfica de Couto de Magalhães

Abstract

Resumo: Este estudo discute a construção, no século XIX, de uma narrativa que retoma o topos clássico do "retorno do herói", com base no romance O coronel Chabert (Le colonel Chabert), de Honoré de Balzac. A obra balzaquiana foi analisada na chave do conceito de aemulatio, buscando perceber as apropriações que o autor faz da poesia épica Odisseia, de Homero. Abstract: This article discusses a narrative that reclaims the classic topos of the "hero's return", built on the XIX century based on the work of Honoré de Balzac, Le colonel Chabert. The balzachian novel is analyzed on the key concept of aemulatio, as to distinguish what the author has appropriated from Homero's epic, Odyssey. A odisseia de Chabert Tanto a historiografia literária como a historiografia da cultura têm analisado a relação entre antigos e modernos sob a luz da topologia, ou seja, a partir de topoi literários que, constituídos na antiguidade, são retrabalhados quando da constituição moderna da literatura, no século 1 Este artigo originalmente foi escrito como um capítulo da Monografia apresentada ao

Seguindo os passos não dados de Alexander von Humboldt e A. Bonpland no Brasil oitocentista

“…A publicação de O selvagem (1876), obra de encomenda a pedido do imperador destinada à Exposição Universal do Centenário da Independência de Filadélfia no mesmo ano, é fruto de suas observações de vários grupos indígenas e de seus estudos linguísticos. Couto de Magalhães ocupou cargos políticos, como a presidência das províncias de Goiás, Pará, Mato Grosso e São Paulo(Turin, 2012). 28 Atribuir a C.F.P.…”

Conflito entre os Tembé-Tenetehara e os posseiros no nordeste paraense: impactos de uma proposta de sobreposição territorial

“…A oposição entre os termos "selvagem" e "civilizado" não aparece apenas nesses trabalhos. De acordo com Turin (2012), essa oposição fez parte da formação do discurso etnográfico desde o Brasil oitocentista. As pesquisas desenvolvidas a partir desse período tinham como objetivo analisar se os grupos indígenas tinham permanecido num "estado de natureza" -ou seja, sem qualquer interferência da "civilização" -ou, ao contrário, eram formas decaídas de civilizações anteriores para, assim, compreender o papel desses indivíduos na história nacional.…”

“…Segundo Turin (2012), os conceitos utilizados para delimitar os contornos da alteridade indígena, como religião, trabalho, propriedade e liberdade, eram os mesmos conceitos através dos quais os pesquisadores buscavam definir sua identidade, fazendo valer uma visão e uma divisão do mundo social. O esquema conceitual estabelecido por eles estava centrado na efetiva capacidade de incluir a alteridade indígena, de modo hierarquizado, à nação.…”

“…Essa ideia pode ser observada na perspectiva de civilização de Dodt (1939), que atrelava às práticas consideradas não indígenas entre os Tembé -o uso de roupas e as lavouras para sustento -como próximas ao estado de "civilização", já os que não abdicavam de suas práticas culturais ainda eram selvagens. Para legitimar essa compreensão, o alemão afirmou que em relação aos indígenas, as classes sociais mais pobres da região possuíam como vantagem, a "felicidade de ser batizados (DODT, 1939, p. 171)", demonstrando assim a possibilidade de salvação mencionada por Turin (2012).…”