Em 2007, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) oficializou a escolha do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014 (CM). Uma grande festa foi promovida pelo governo para celebrar a vitória e a população brasileira vibrou como se um novo Mundial tivesse sido conquistado, visto que, no Brasil, o futebol é venerado e representa a atividade esportiva mais difundida entre a população (Marco ALMEIDA; Gustavo GUTIERREZ, 2005). Contudo, já naquele momento, alguns críticos apontavam para a dificuldade que o país enfrentaria, tendo em vista problemas internos, como corrupção, violência e desigualdade social (César CASTILHO, 2016). Concomitantemente, a mídia internacional publicava artigos colocando em cheque a capacidade do país para organizar o evento (Arlei DAMO;Ruben OLIVEN, 2013). Como se não bastasse, o Brasil seria escolhido, em 2009, como sede dos Jogos Olímpicos (JO) de 2016.Essas nomeações aconteceram ao longo do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 1 e certamente foram influenciadas pelo seu caráter carismático, reconhecido mundialmente (Suélen Barboza Eiras de CASTRO; Fernando Augusto STAREPRAVO; Jay COAKLEY; Doralice Lange de SOUZA, 2016) . Nessa época, o Brasil atravessava um período de transição importante, caracterizado por mudanças socioeconômicas de grande amplitude (Fernando SOUSA, 2014). Isto posto, a chegada de dois megaeventos mundiais era considerada como a "cereja no bolo", segundo o próprio governo (CASTILHO, 2016). A situação, porém, rapidamente se revelou mais complexa que o esperado -já no início das obras de infraestrutura, alguns prazos não foram respeitados (Christopher GAFFNEY, 2015).A CM e os JO ilustram o que nomeamos "megaeventos". Segundo alguns pesquisadores (Ken ROBERTS, 2004; Chris ROJEK, 2013), o que define um evento como "mega" é sua descontinuidade, sua originalidade e sua composicão global. Ademais, eles são capazes de atrair milhões de indivíduos por meio de diversos meios de comunicação. A CM 2002, organizada por Japão e Coreia do Sul, por exemplo, foi transmitida por mais de 41 mil horas para 213 países (Robert MADRIGAL; Colin BEE; Monica LABARGE, 2005). Com a exploração dos direitos de imagem desses eventos, o caráter econômico passou a ser priorizado em detrimento de outros impactos, tais como os políticos, sociais e ambientais.Atualmente, no entanto, esses benefícios têm sido contestados por diversos economistas do esporte (Anne-Line BALBUCK; Marc MAES; Marc BUELENS, 2011) , ao afirmarem que um evento esportivo não deve ser analisado levando-se em conta somente o aspecto econômico. A partir de então, outros impactos, notadamente o social, passaram a fazer parte dos estudos que analisam a relação custo/benefício dos eventos esportivos no que tange à população local (Eric BARGET; Jean-Jacques GOUGUET, 2010). A organização de um megaevento pode e deve promover mudanças sociais expressivas no país-sede, possibilitando melhorias na qualidade de vida de seus habitantes.Neste estudo, tendo como foco principal a CM 2014, buscamos traçar os impactos dos megaeven...