O futebol amador, aquele praticado de forma organizada por clubes e federações, mas sem o vínculo profi ssional de seus participantes, tem sido pouco pesquisado no Brasil, apesar de sua enorme presença como prática e como veículo de mobilização comunitária. Também chamado futebol de várzea nas regiões sul e sudeste do País, materializa-se em competições que apresentam organização e regras próprias, mesmo que, em muitos aspectos, inspiradas no futebol profi ssional 1,a . Nele encontramos uma série de particularidades, como a procura pela promoção de saúde e a representação comunitária como espaço de sociabilidade, constituindo-se também como prática de reconversão profi ssional e espaço para atletas profi ssionais se manterem ativos e com visibilidade em períodos de desemprego, situação às vezes transitória entre a disputa de dois torneios. Para Souza et al. 2 , o capital formativo adquirido no futebol é de difícil reconversão no caso de uma profi ssionalização frustrada ou até mesmo no momento da aposentaria do jogador. O futebol amador se confi gura como um dos possíveis espaços para a reconversão do capital adquirido ao longo de anos de treinamento e competição. Os clubes não profissionais representam um mercado para ex-profi ssionais e para aqueles que não chegaram a se profi ssionalizar em clubes, tendo sido dispensados ainda durante a frequência às categorias de base ou ao fi nal delas. Nestes casos, é importante destacar que as trajetórias de ex-profi ssionais, diferentemente do estrelato internacional, pode signifi car a volta ao "subúrbio" e à prática do futebol comunitário 3 . Lembre-se que mais de 80% dos jogadores profi ssionais brasileiros recebem até dois salários mínimos mensais 4 , mas que mesmo no amadorismo pode haver algum tipo de remuneração, frequentemente por jogo ou na forma indireta de benefícios.As Resumo O presente trabalho trata do futebol amador, modelo praticado em bairros urbanos, comunidades rurais, clubes populares, em prática aparentemente subterrânea, pouco visível, se observarmos a importância material e simbólica de seu congênere profi ssional. Considerando desenvolvimento e institucionalização do futebol em Florianópolis, conduzimos nossas refl exões por meio de análise de documentos e uma entrevista realizada com um dos dirigentes da entidade local que regulamenta a prática, a Liga Florianopolitana de Futebol (LIFF). Compusemos um retrato do futebol não profi ssional na capital de Santa Catarina, observando que esta prática se espelha no modelo da profi ssionalização, ou seja, mais racionalização, seriedade e competitividade nos torneios.