APRESENTAÇÃON o espaço social mais amplo, o acesso a determinados conhecimentos e ao trabalho de formulação intelectual (em oposição ao mundo prático, não reflexivo, pragmático, ordinário) legitima posições de poder, sedimentando reputações distintivas em e entre diversos segmentos de grupos dominantes (jurídicos, midiáticos, religiosos, universitários etc.). Particularmente no universo político, observa-se a associação corrente à capacidade de uso da "palavra" (escrita e oral) como recurso de entrada e trunfo contundente para a construção de carreiras.Há uma extensa bibliografia produzida por cientistas sociais brasileiros nas últimas décadas sobre carreiras e perfis de políticos. Grosso modo, a literatura -a despeito das divergências entre os autores que adotam ênfases mais societais, organizacionais, de caráter mais objetivista ou perspectivista -lança luzes sobre os padrões de institucionalização dos partidos brasileiros 1 , as clivagens partidárias e o recrutamento/seleção política 2 . A noção de carreira aqui utilizada é relacionada aos desdobramentos das apostas feitas por agentes políti-cos desde suas entradas na política (Offerlé, 1996), procurando apreender as modificações nos princípios de aferição de excelência humana e a sua reconversão em critérios de hierarquização política e intelectual, bem como as gramáticas que fixam complementaridades entre os domínios políticos e culturais em distintas conjunturas.