Práticas de saúde em contextos de vulnerabilização e negligência de doenças, sujeitos e territórios: potencialidades e contradições na atenção à saúde de pessoas em situação de rua

Abstract

Resumo Este artigo ancora-se na premissa de que a relação entre políticas públicas, vulnerabilidade, sofrimento humano e negligência de pessoas e territórios merece ser questionada e melhor entendida. Um de seus principais pressupostos é a aposta em pontes de diálogos na produção de conhecimentos em saúde, em diferentes quadros de referência - paradigma biomédico; determinação social da saúde; vulnerabilidade social; aportes descoloniais. É fruto de estudo dedicado a acompanhar as práticas de saúde em territórios negligenciados e vulnerabilizados na cidade do Rio de Janeiro, em especial às pessoas que vivem em moradias precárias e em situação de rua. Diferentes encontros e modos de levar a vida, na feitura de cotidianos possíveis, foram vivenciados. Esses encontros forneceram elementos ao entendimento da saúde como valor social em situações concretas, pondo em questão, sob variadas leituras, a vulnerabilização de vidas humanas. Fala-se, portanto, sobre leituras críticas acerca de formas de estar no mundo, dialogicamente relacionadas às condições históricas, políticas e sociais, em que reside a aposta na resistência e nas ações cotidianas de diversos atores sociais e em dispositivos de saúde inovadores, que tenham potencial na efetivação de práticas contra-hegemônicas.

Desigualdades raciais e a morte como horizonte: considerações sobre a COVID-19 e o racismo estrutural

“…For Maldonado-Torres 12 , the paradigm of war and violence against colonized subjects orients the modernity/coloniality project. The colonization project is one of the main pillars of modernity, now cloaked differently, responding to the project of coloniality to the extent that it preserves the elements for classification of the world, updating them dynamically 14 . Modernity's capitalist power, of a colonial order, is anchored in the "imposition of racial/ethnic classification of the world population as the cornerstone of the above-mentioned power standard" 15 (p. 84).…”

Representações sociais e injustiça ambiental: o gerenciamento de riscos no Conjunto Heliópolis-Gleba L-SP

“…A corporificação dos sujeitos é uma referência do exercício de poder nos países cuja história se criou a partir do colonialismo e da escravidão (OLIVEIRA, 2018), como é o caso do Brasil. Esse poder, que leva à invisibilidade do sujeito e de seus direitos, se estrutura por meio da diferenciação biológica e/ou cultural que possui como fundamento de valorização do sujeito o eurocentrismo (OLIVEIRA, 2018).…”

“…A corporificação dos sujeitos é uma referência do exercício de poder nos países cuja história se criou a partir do colonialismo e da escravidão (OLIVEIRA, 2018), como é o caso do Brasil. Esse poder, que leva à invisibilidade do sujeito e de seus direitos, se estrutura por meio da diferenciação biológica e/ou cultural que possui como fundamento de valorização do sujeito o eurocentrismo (OLIVEIRA, 2018). Assim, o periférico, o pobre, o negro e o índio (bem como os locais onde vivem), são corporificados segundo as hierarquias do Necropoder que possuem um peso histórico tão profundo que passam a orientar as políticas, criando diferenciações de ação estatal em relação às classificações socialmente discriminatórias (OLIVEIRA, 2018).…”

“…Essas relações sociais do cotidiano produzidas por ações políticas, econômicas e sociais vulnerabilizantes (e discriminatórias), definem as assimetrias que, por sua vez, irão determinar a saúde e a vida dos sujeitos vulnerabilizados e corporificados. (OLIVEIRA, 2018).…”

“…Nesse sentido, as dinâmicas de hierarquização sociocultural se associam aos processos de vulnerabilização que conformam nuances de desigualdade social, ambiental e de condições assimétricas de acesso a direitos e do exercício de liberdade dos grupos socialmente discriminados (OLIVEIRA, 2018). Por isso, para analisar as injustiças ambientais no Brasil, é preciso olhar tanto para o modelo econômico capitalista, que concentra riqueza e reproduz desigualdades socioambientais, como para o processo de colonização que tem delimitado as diversas formas de exclusão social na história da sociedade brasileira (OLIVEIRA, 2018).…”