Estrutura e personalidade na neurose: da metapsicologia do sintoma à narrativa do sofrimento

Abstract

Neste artigo, originalmente uma aula para concurso de professor titular junto ao Instituto de Psicologia da USP, são examinadas as noções de personalidade e de estrutura em sua aplicação ao diagnóstico de neurose, em psicopatologia de extração psicanalítica. Examina-se a consistência das relações de ordem, classe e gênero, que, por hipótese, ao lado da concepção de causalidade, subsidiam a força e pertinência de uma categoria diagnóstica. Discute-se o valor da exceção e a potência normativa de conformação da experiência clínica à racionalidade diagnóstica. Os resultados deste exame epistemológico preliminar nos levam a propor a tese crítica de que há menos homogeneidade no emprego da noção freudiana de neurose do que a recepção corrente vem admitindo. Argumenta-se que cada modelo metapsicológico, no qual emergem redefinições de neurose, corresponde a uma valência narrativa e uma forma de sofrimento distinto, sendo a exclusão da narrativa de sofrimento uma dimensão relevante para reconsiderar a noção de personalidade e de estrutura na diagnóstica psicanalítica.

Bases para uma teoria do projeto na estratégia clínica em orientação profissional e decarreira: entre o futuro, a narrativa e a fantasia

“…Mas, o que essa ação de narrar produz? Sobre isso, devemos atentar que a construção de significados é uma das mais importantes propriedades da narrativa (Dunker, 2014). Essa característica localiza a narrativa em um processo dialógico fundamental para a possibilidade de ela servir como um operador para a orientação profissional e de carreira.…”

“…A psicanálise, mesmo não sendo um processo à primeira vista com o foco na construção de narrativa, se trata de um trabalho de palavra, e leva em consideração esse aspecto ao considerar que a forma de incidência do sofrimento na linguagem faz parte do próprio sofrimento (Dunker, 2014). Ou seja, a narrativa que se faz de um episódio traumático afeta a própria forma como a pessoa vive o sofrimento causado por ele.…”

Problemas de sexo: da ontologia à epistemologia em psicanálise

“…É possível afirmar que, ao sistematizar os estudos sobre histeria, baseando-se em sua experiência como médico e pautado nas investigações científicas de seu tempo, Freud também fundamentou as raízes da teoria psicanalítica (DUNKER, 2014b). Epistemologia e sexual (ou, nesse momento de germinação teórica, sexualidade) se encontram no desenvolvimento da psicanálise, seja no corpo conceitual psicanalítico desenvolvido por Freud (e reformulado por Lacan), seja no momento fundante da psicanálise na sua relação com a histeria.…”