A noção de consciência n' A Estrutura do Comportamento (Merleau-Ponty)

Abstract

O objetivo deste trabalho é apresentar a noção de "consciência" na filosofia de Merleau-Ponty, a partir d' A Estrutura do Comportamento, obra na qual Merleau-Ponty não se furta a uma análise da biologia para marcar a passagem para a ordem simbólica ou humana. Nesta obra, privilegia-se a noção de "estrutura" como alternativa às dicotomias da metafísica clássica entre sujeito e objeto (res cogitans e res extensa), procurando com isso a uma só vez entender a integração e as rupturas entre as diferentes ordens de fenômenos (físico, vital e humano). A vantagem da noção de estrutura também seria a possibilidade de apreender a consciência em situação, a emergência de sentido anterior à consciência de si e do mundo.

Intencionalidade e Comportamento: a Percepção Vivente em Merleau-Ponty

“…Ante as definições fornecidas pelas ciências e pela filosofia reflexiva, a noção de comportamento adquire, sob a pena de Merleau-Ponty, o estatuto de "exigência metodológica", pois tal conceito resiste às apropriações polarizantes do pensamento causal ou do pensamento criticista. O comportamento, em sua neutralidade constitutiva, "permanece fiel aos dados fornecidos pela simples descrição" (Bimbenet, 2004, p. 38 (Furlan, 2001). A própria evolução dos modelos científicos acarreta mudanças epistemológicas, de modo que é necessário que a análise filosófica se detenha em uma revisão dos pressupostos formulados pela ciência.…”

A linguagem no campo do sentir: um objeto da psicologia à luz da filosofia de Merleau-Ponty

“…A escolha do termo para este primeiro movimento reflexivo não deixa de chamar a atenção, já que se busca resgatar a especificidade do fenômeno da consciência, enquanto que o estudo científico do comportamento, à época, consistia justamente na transposição direta do pensamento causal objetivo à psicologia, definindo-se pela negação de qualquer noção de consciência em favor do organismo mecanicista, cuja objetividade se garantia na possibilidade de observação e mensuração (Furlan, 2001).…”

“…A partir do estudo de condições patológicas diversas, Goldstein (1934Goldstein ( /1995 reconhece a insuficiência da concepção mecanicista predominante nos estudos de fisiologia, e aponta para a necessidade de uma compreensão holística do organismo. Trata-se, conforme aponta Furlan (2001), de reconhecer a necessidade de se compreender a fisiologia a partir do comportamento, e não o inverso, como propõe em última instância o pensamento científico predominante no trato da questão.…”

“…Primeiro, reconhecer que a referência a um "sentido interno" não implica pressupor por detrás do comportamento uma consciência que lhe precede em causa e de onde provém então seu significado, ou seja, uma subjetividade pura onde as operações de significação se garantiriam num poder transcendente, o que seria recorrer à leitura intelectualista. Segundo, que tal sentido não se dá em um vácuo conceitual, em alguma região do mundo separada das coisas, ele se configura enquanto relação de sentido, observável entre o organismo que se comporta e seu meio (Furlan, 2001).…”

“…Trata-se então de reconhecer a estrutura como um dado originário das próprias relações de causalidade, em contraposição à visão atomista de realidade, conforme indica Furlan (2001). Sendo assim, a noção de estrutura diz respeito aqui a essa experiência de sentido que escapa tanto ao intelectualismo filosófico quanto ao naturalismo científico.…”