Resumo Os fenômenos do esfacelamento das relações comunitárias e do isolamento crescente dos indivíduos uns em relação aos outros surgem de maneira expressiva no pensamento de diversos autores que se voltaram à descrição dos modos de vida da sociedade contemporânea. Retomamos a problematização do tema efetuada por Charles Taylor em As fontes do Self e em A ética da autenticidade. O autor identifica três “mal-estares” presentes na sociedade atual: o individualismo, o primado da razão instrumental e a alienação do indivíduo em relação à esfera política. Evitando uma leitura restritamente negativista de tais fenômenos, Taylor os apresenta como transformações das configurações dinâmicas que constituem os processos identitários modernos. Empreendemos um resgate das noções de identidade e autenticidade presentes nas obras supracitadas, visando uma compreensão sintética de tal cenário e das possibilidades apresentadas pelo autor de sua superação, ou seja, do resgate de sentidos perdidos pela fragmentação individualista.
Crianças e adolescentes são vulneráveis a problemas de saúde mental, mas, muitas vezes, apenas questões individuais são consideradas em sua determinação. Este estudo objetivou conhecer a percepção de profissionais sobre os determinantes sociais da saúde mental infanto-juvenil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que contou com a participação de sete profissionais. Para coleta de dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas que foram analisadas segundo os pressupostos da análise temática. Os participantes demonstraram compreender de forma ampliada a saúde, incorporando em sua conceituação outras questões vistas como relacionadas a estar saudável ou adoecer. Identificou-se que as condições sociais e de vida afetam a saúde mental infanto-juvenil. Na avaliação dos participantes, no exercício profissional, sempre se está “enxugando gelo”. Os achados revelam a percepção dos profissionais sobre determinantes sociais para a saúde mental de crianças e adolescentes, o que sugere a necessidade de considerar seu impacto no manejo clínica e na organização do cuidado.
A linguagem constitui tema de grande interesse para um estudo compreensivo dos fenômenos subjetivos. Na psicologia e em outras ciências humanas, são várias as abordagens que historicamente se dirigiram aos fenômenos linguísticos como âmbito central no esforço de compreensão precisa daqueles. Na psicologia contemporânea, a linguagem permanece enquanto tema de estudo privilegiado pois abarca, ao mesmo tempo, a ordem da produção de sentidos individuais e intersubjetivos, além de se apresentar enquanto sistema cultural e historicamente instituído. Articula, desta forma, o individual e o social, fenômenos da ordem do particular que remontam a um contexto cultural de subjetivação. Como parte de um esforço para compreender o objeto de estudo da psicologia a partir da filosofia de Maurice Merleau-Ponty (1908 -1961, propusemos que um estudo aprofundado da noção de linguagem que suas reflexões subsidiam poderá representar um passo relevante. Veremos que, já no debate com as ciências do comportamento e com a fisiologia clássica, n'A Estrutura do Comportamento (1942), Merleau-Ponty realiza uma leitura de que, sem recorrer ao âmbito da consciência, é possível identificar um protótipo da atividade significativa já na relação do organismo vivo com seu meio. Posteriormente, ao voltar-se para a Fenomenologia da Percepção (1945), ponto central do projeto filosófico do autor, veremos de que maneira ele apresenta, em sua descrição da consciência perceptiva e da subjetividade corpórea, suas primeiras teses a respeito da linguagem, que têm como conceitos centrais o sentido gestual da fala e o caráter fundante da atividade expressiva em relação ao significado. Trata-se de propor que as operações de sentido se realizam através da própria expressão, e não que a expressão meramente traduz um sentido que lhe precede "em pensamento". Acompanharemos os desenvolvimentos desta temática nos anos 1950, onde o diálogo com a linguística de Saussure dá novos contornos ao projeto de compreensão da linguagem, que vai do sentido gestual para o caráter diacrítico da língua enquanto sistema sedimentado através da fala. Palavras-chave: Linguagem, Merleau-Ponty, Fenomenologia, Expressividade, Subjetividade ABSTRACT Marcon, G. H. (2017). Language in the field of Feeling: an object of psychology in light of Merleau-Ponty's philosophy. (Language presents a theme of great importance to the comprehensive study of subjectivity phenomena. In psychology, as well as in other human sciences, there are several schools of thought that historically approached the linguistic phenomena as a central scope in the effort to comprehend the cultural processes of subjectivation. In contemporary psychology, language remains a privileged field of study as it encompasses, at the same time, the orders of production of individual and intersubjective meaning, as well as presenting itself as historically instituted. Therefore, it articulates the individual and social spheres, phenomena of the personal order that remounts to a cultural context of subjectivation. As part of a larger e...
Propomos mapear as implicações do pensamento fenomenológico para as temáticas correlatas do self e da autenticidade, com ênfase na perspectiva merleau-pontyana. Perpassando as acepções distintas dos fatores identitário, unitário e relacional da experiência humana, encontramos três eixos tensionais em torno dos quais o conceito de self pode ser articulado: constância ou mudança, particularidade ou universal e pessoa ou mundo. Sob os diferentes enfoques descritivos deste campo de problemas, tais dilemas epistemológicos encontram-se redobrados em tensões éticas quando nos reportamos à questão da autenticidade. Enquanto as filosofias de Heidegger e Sartre, sob aproximações diferentes, concedem relativa centralidade à problemática da autenticidade, a fenomenologia de Merleau-Ponty, mesmo situada no diálogo direto com tais aportes de raiz comum husserliana, não concede ao tema a mesma importância de forma explícita. Ao tematizar o caráter eminentemente ambíguo da corporeidade, Merleau-Ponty oferece uma compreensão original da experiência do self e do ser autêntico: em contraponto à possibilidade radical de recuo, a inerência radical de contato. Concluímos que tal perspectiva apresenta como ganho a habilitação da apreensão descritiva, sem cair em contradição, do que há de concretude no indeterminado, de universal na singularização e de passividade na liberdade - e vice-versa, para todos os casos.
Como parte de um estudo mais amplo a respeito do desenvolvimento da temática da linguagem ao longo do projeto filosófico de Merleau-Ponty, propomos um recorte que aborde uma inflexão central do percurso, o sentido gestual da fala conforme apresentado em "Fenomenologia da Percepção", sob a perspectiva particular do ingresso no campo dos significantes linguísticos, visando compreender melhor a passagem da gestualidade geral para a fala propriamente dita. A conceptualização do sentido gestual da fala pretende auxiliar na superação de um modelo objetivista de linguagem, através da proposição de uma indissociabilidade entre significado e significante. Desvelar a forma através da qual o sistema de significantes estrutura-se como modalidade de abertura e de relação com o mundo constitui grande parte do desafio para que tal ultrapassagem se dê de forma efetiva. A aquisição da linguagem, por sua vez, apresenta um período desenvolvimental privilegiado para se refletir a respeito das particularidades do fenômeno expressivo, já que representa o momento na história individual em que o gesto dirige-se a um campo comum de ação e significação. Procuramos então abordar, sob esta perspectiva, a forma como o sentido gestual é capaz de significar e instituir um campo comum de ação e significação.
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