RESUMONeste artigo, objetivou-se apreender as estratégias dicursivo-identitárias de garçons, a fim de construir ou manter uma identidade profissional valorizada. Para isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa na qual foram entrevistados 12 sujeitos. Para a análise dos dados, utilizou-se a Análise do Discurso, adotada como metodologia e como perspectiva epistemológica. Os resultados revelaram três estratégias discursivo-identitárias: a de valoração do profissional pela definição de seus atributos específicos, a diferenciação entre garçons e "carregadores de bandeja" e a importância da profissão para a vida pessoal, para as empresas e para a cidade. Discute-se que tais estratégias buscam minimizar o conflito identitário vivido por esses sujeitos devido à ausência de reconhecimento social, mas, ao mesmo tempo em que confrontam, reforçam o discurso de desvalorização dos trabalhos braçais.
Palavras-chave: identidade; discursos; estratégias; garçons.
ABSTRACTThis article aimed to apprehend waiters's discursive-identity strategies in order to build or maintain a positive professional identity. For this, we carried out a qualitative research study in which 12 subjects were interviewed. For the analysis of data it was adopted Discourse Analysis, as a methodology, and as an epistemological perspective. The results reveal three discursive-identity strategies: a professional valuation of the definition of their specific attributes, and the differentiation between waiters 'tray's loaders', and the importance of the profession for a personal life, business as well as the city itself. It is argued that such strategies seek to minimize the conflict of identity experienced by these subjects due to lack of social recognition, but, at the same time, those strategies confront and reinforce the discourse of devaluation of manual labor.Keywords: identity; discourses; strategies; waiters.
IntroduçãoAs diversas profissões existentes, cada qual com o seu papel, compõem a vida em coletividade e propiciam o desenvolvimento social. Contudo, existem trabalhos que são alvos recorrentes de discriminação, uma vez que são percebidos socialmente como de menor valor. Esse é o caso das profissões que envolvem maior esforço físico para sua realização, cujos ocupantes são reconhecidos como trabalhadores braçais. Como discutem Kunis, Cruz e Checchia (2007), o baixo status social dessas profissões relaciona-se com a dicotomia entre trabalho braçal e intelectual advinda da própria divisão do trabalho. Segundo essa divisão, o trabalho intelectual seria independente e mais importante do que o braçal, levando à desvalorização do último e daqueles que o desempenham (Arendt, 1981;Godim, 2001).Essa percepção sobre a existência de trabalhos de qualidades distintas, para Holanda (1995), mostrase ainda mais crítica no contexto brasileiro, na medida em que um dos traços de nossa vida social é o maior decoro conferido às profissões ditas intelectualizadas. Séculos de escravidão deixaram resquícios que ainda povoam o imaginário e as atitudes relacionadas a essas...