Resumo: A epidemia HIV/AIDS caracteriza-se hoje, no Brasil, a partir de sua feminização, heterossexualização e pauperização. Análises de contextos sócio-culturais têm indicado que as maneiras como estes estão organizados exercem papel primordial na forma como a infecção é adquirida, entre aquelas pessoas neles inseridas. Em relação à infecção de mulheres, observa-se que o modo como o gênero feminino tem sido construído socialmente torna-se um facilitador para a maior vulnerabilidade das mulheres. Sugerir o uso do preservativo em relacionamentos estáveis ainda é uma prática pouco utilizada e o poder de negociação apresenta-se numa relação inversa ao grau de dependência da mulher. O ensaio traz uma série de reflexões a respeito da construção social do papel feminino e infecção pelo HIV. Toma como suporte as formulações teóricas propostas pelo modelo do Individualismo e Coletivismo, considerando-se a possibilidade das mulheres, culturalmente, terem um perfil com características mais coletivistas, especialmente, em relação à preservação da comunidade familiar, o que as torna mais vulneráveis à infecção. No Brasil, o aumento da infecção por HIV, em mulheres, tem sido motivo para reflexões em torno do que estaria causando a feminização da epidemia de maneira tão rápida. Sabe-se que a proporção homem/mulher deu um salto de 6:1 em 1989, para 2:1 em 1999 e que em 2002 a proporção de 1:1 se tornou uma realidade em algumas capitais de Estado, além da pauperização da epidemia 1,2 . Este quadro não é diferente do que se apresenta em diversas partes do mundo 3 . Percebe-se que o contexto cultural exerce um papel primordial na forma como a epidemia vem ocorrendo. Variados tipos de pesquisa têm se dedicado ao estudo da estruturação deste quadro, sendo já um consenso que a forma como hoje se constrói o gênero feminino é um facilitador para a maior vulnerabilidade das mulheres diante da infecção.
PalavrasOs conhecimentos básicos a respeito das formas de transmissão do vírus, assim como as maneiras de se prevenir, são conhecidas por grande parte da população feminina 4 . Entretanto, não se notam fortes mudanças no comportamento de autoproteção e os dados estatísti-cos continuam mostrando que é necessário vincular a epidemia às questões culturais.A possibilidade de adotar práticas sexu-*