RESUMO: Foi realizado um inquérito sobre tabus alimentares em duas localidades do Município de Marabá, PA, Brasil: São Félix e Murumuru, tendo sido estudadas, respectivamente, 90 e 35 famílias. Dos tabus alimentares encontrados, foi grande a restrição feita à ingestão simultânea de leite com várias frutas, especialmente com manga, laranja, cajú e abacaxi; também a ingestão simultânea de ovos com frutas foram referidas como hábitos que devem ser evitados, assim como a mistura de carne de mamíferos com peixes. Quanto à ingestão simultânea de frutas, destaca-se a proibição de uma fruta regional, o açaí, com outras 10 frutas. Foi mais elevado o número de restrições alimentares durante a lactação do que durante a gravidez, principalmente de carne de caça e de peixes, abundantes na região estudada. Os motivos mais citados para justificar os tabus alimentares foram: "faz mal", "mata", "congestão" e "vômito". É na ação das pessoas, no momento em que escolhem um alimento, em detrimento de outros, que se pode identificar o grau de comprometimento que têm com padrões culturais (costumes regionais, tradições familiares, crenças, hábitos e tabus), capazes até de impedir que alimentos existentes em abundância sejam consumidos.Segundo Jelliffe 6 "cada uma das múltiplas comunidades humanas tem sua própria estrutura de comportamento, costumes e crenças, o conjunto das quais define sua própria "cultura". Em todas as culturas há práticas e costumes que são proveitosas para a saúde e nutrição do grupo, e algumas que são nocivas. Nenhuma cultura tem o monopólio da sabedoria nem do absurdo".Tal ponto de vista é partilhado por Witt 19 , quando afirma que conhecimentos sobre nutrição e hábitos alimentares têm potencial para determinar o que deve ser consumido, contribuindo, assim, para o aparecimento ou agravamento de problemas nutricionais.No Brasil, país de amplitude continental, o panorama alimentar é complexo e peculiar a cada região. Assim, na Região Norte, a formação de hábitos e tabus alimentares foi determinada por forte influência indígena, pela presença do branco e do negro e pelas características geográficas que lhe são próprias. Esses fatores, associados à religiosidade popular, leva à sensível heterogeneidade de hábitos alimentares locais, tendo, cada microrregião, sua dieta básica característica 3 .Tal situação mostra que qualquer intervenção na área ligada à alimentação e nutrição, prin-