Entre 1956 e 1957, o antropólogo Marvin Harris, professor da Universidade de Columbia, visitara Moçambique para realizar uma investigação sobre a exploração da força de trabalho africana naquela “Província Ultramarina”. Devido às suas críticas ao regime, Marvin Harris foi declarado pessoa non grata pelas autoridades coloniais e teve que abandonar Moçambique. Em 1960, para tentar desfazer as críticas negativas de Harris, o antropólogo português Jorge Dias convida a outro antropólogo da Universidade de Columbia, o “brasilianista” Charles Wagley, para realizar uma viagem ao longo das “Províncias Ultramarinas” (a viagem começou em Moçambique e finalizou em Guiné-Bissau). Seguindo os rastros da ideologia lusotropicalista, Jorge Dias esperava que, após essa viagem, Charles Wagley se posicionasse favoravelmente em relação à presença portuguesa na África e, a partir desse momento, apoiasse a criação de estudos superiores na “África portuguesa”. A viagem contava com o apoio do Ministro do Ultramar português, Adriano Moreira, e era parte de uma tentativa de intercâmbio acadêmico entre o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU) de Lisboa e a Universidade de Columbia. O artigo indaga sobre as consequências políticas e acadêmicas dessa viagem “confidencial” realizada, justamente, nas vésperas das lutas pela independência nas colônias portuguesas