Política exterior do Governo Lula: o desafio africanoJOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA* O objetivo do artigo é o de avaliar, no eclipse do governo dirigido por Fernando Henrique Cardoso e na chegada ao Palácio do Planalto do novo governo liderado por Luís Inácio Lula da Silva, as possibilidades de relançamento da política africana do Brasil. Herdeiro de uma década de baixa densidade na política do Brasil para a África, o novo mandatário terá pela frente o desafio da revalorização desse capítulo essencial da inserção externa do país. A transição governamental, ao sugerir o esforço de revisão de políticas adotadas em várias áreas, é ambiente propício para passar em revista o saldo acumulado. A partir desse diagnóstico, pretende-se sugerir uma pauta de itens para a retomada da dimensão atlântica da política externa brasileira.O diagnóstico e as propostas para a ampliação do relacionamento do Brasil com a África não podem ser realizados sem se levar em conta o marco maior da própria política externa. Nesse sentido, a política africana do Brasil será observada sob um contexto mais amplo, o dos modelos de inserção externa do Brasil nas últimas décadas, sem o qual não se podem perceber certas dificuldades vividas pelo país com o outro lado do Atlântico Sul, em especial nos anos 1990 e no início do novo século.Em segundo lugar, vale buscar leitura apropriada do meio internacional, de seus constrangimentos e possibilidades. Sem essa dimensão, padeceria o estudo presente da moldura que o envolve. As relações internacionais pós-Guerra Fria promoveram novos desafios para as políticas exteriores dos Estados, desde aqueles derivados da fluidez do sistema internacional até os resultantes da própria erosão de papéis clássicos do Estado.Finalmente, a discussão sobre a política africana do Brasil não pode prescindir do debate em torno da marginalização da África nas relações internacionais contemporâneas. Esse dado trouxe inquietações ao processo decisório brasileiro, ao acrescentar dúvidas e discussões em torno das oportunidades e da funcionalidade de uma política ativa para aquele continente. A compreensão de algumas posições tíbias brasileiras nos anos recentes pode ser imputada ao próprio isolamento internacional a que a África foi submetida. 6 JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA Essas três dimensões ganham relevo na construção do argumento central do texto: o de que é possível relançar uma política mais ativa e construtiva para o continente africano. Sugerir essa linha de reflexão e de ação expõe a vontade de articular o esforço de compreensão, mais próprio ao espaço acadêmico, com o esforço da responsabilidade social, âmbito próprio ao da política.
Urnas e política externaNo ensejo da posse do novo governo brasileiro, em janeiro de 2003, ante as expectativas que se criam no seio da sociedade brasileira em torno de capítulos cruciais à inserção internacional do país no nascedouro do novo século, urge repensar a política externa. As lições das urnas parecem sugerir não apenas a reprovação do modelo de modernização gestado no Brasil no início...