IntroduçãoO Brasil, por seu peso geoeconômico, a dimensão de seu mercado interno e os atributos tradicionais de poder, é o ator de maior importância relativa da América do Sul. Paralelamente a essas condições, sua política exterior teve, historicamente, algumas características diferenciadoras, com uma dose maior de continuidade, juntamente com a formulação e presença de paradigmas que contribuíram para fazê-la mais previsível. Como nós mostramos em um livro recente, a atração por conceitos e categorias ajudou a fazer a política exterior mais compreensível, dando conteúdos mais precisos à formulação da Agenda, à definição de Objetivos e à procura de Instrumentos (Bernal-Meza,2000).As mudanças sistêmicas certamente causaram mudanças significativas nas políticas exteriores de nossos países e o Brasil, historicamente, não foi a exceção. Isto se refletiu com particular evidência durante as diversas etapas do longo período da ordem bipolar. Aqueles acontecimentos que se sucederam após o fim da guerra fria, que se associaram a um complexo processo de globalização e expansão do capitalismo, despojaram muitos grupos nacionais da decisão de parâmetros-chave ou de "critérios ordenadores" para a formulação da política exterior. Associada a isto, a adoção do que foi chamado o "pensamento único" -ou seja, a aplicação de políticas econômicas neoliberais, baseadas em uma interpretação conservadora das relações entre capital e Estado e entre este e a sociedade civil -teve importantes conseqüências na redefinição das estratégias nacionais de desenvolvimento que, por sua vez, exigiram perfis novos às políticas exteriores. Como assinala Amado Luiz Cervo, comparando o processo sofrido por diversos países da região: "o abandono do paradigma de relações internacionais do Estado desenvolvimentista para favorecer o paradigma neoliberal teve seu impulso inicial, em países de menor porte da América Latina nos meados da década de 1980 e concluiu-se por volta de 1990, com a chegada ao poder dos presidentes Carlos Salinas de Gortari no México, Rev. Bras. Polít. Int. 45 (1): 36-71 [2002]