O conceito de conservadorismo possui uma conotação fortemente negativa na América Ibérica. O conservador é geralmente visto como alguém aferrado a uma visão hierárquica do mundo, defensora de privilégios, que vê com maus olhos a democratização, o reconhecimento dos direitos das minorias etc. Uma das explicações possíveis dessa conotação encontra-se no legado da tradição marxista, para a qual o conservadorismo era a ideologia das classes dominantes, ou seja, do establishment sociopolítico antipopular. O século XX brasileiro foi pródigo em produzir intelectuais nessa linha, como Caio Prado Jr., Nélson Werneck Sodré, e em menor medida, José Honório Rodrigues. Outra explicação plausível, e que não é incompatível com a anterior -embora não seja exclusiva dela -reside no próprio passado colonial dos países do continente e na persistência de suas mazelas socioeconômicas. Se o conservadorismo político necessariamente tem uma postura, senão simpática, ao menos respeitosa do passado, ele acaba afrontando a percepção, bastante difundida, de que os males crônicos do continente se enraízam nesse passado colonial, caracterizado pela exploração metropolitana, pelo patrimonialismo, pelo Lua Nova, São Paulo, 74: 59-92, 2008