IntroduçãoA sociologia da educação -tanto no Brasil quanto no exterior -só muito recentemente passou a se interessar pela escolarização dos jovens pertencentes a famílias favorecidas do ponto de vista social, já que, tradicionalmente, é para os meios populares que a atenção do pesquisador se dirige. Atualmente a situação vem modificando-se com o surgimento de alguns trabalhos que deslocam o olhar da "desvantagem social para o privilégio" (Sirota, 2000, p. 166). Talvez, em nosso país, a prova mais bem acabada desse interesse seja a publicação, em 2002, da coletânea A escolarização das elites (Almeida & Nogueira, 2002) que oferece um panorama da pesquisa nacional e internacional sobre o tema e que já se encontra em sua segunda edição.No entanto, mesmo em terreno tão lacunar, uma distinção precisa ser feita. É que a reflexão sobre o impacto do patrimônio cultural familiar sobre a escolaridade dos filhos já se encontra bem mais desenvolvida, graças sobretudo aos estudos, de inspiração bourdieusiana, sobre a transmissão da herança cultural pela família. Já o papel da riqueza econômica nos destinos escolares dos indivíduos não logrou ainda se constituir em objeto sistemático de pesquisa do soció-logo. A meu conhecimento, apenas duas exceções -extemporâneas, diga-se de passagem -podem ser registradas: os trabalhos de Fourastié (1970Fourastié ( , 1972 e o livro de Ballion (1977), ambos franceses.Jean Fourastié, econometrista do Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM), em Paris, interrogou, ao longo de toda a década de 1960 e por meio de questionário, um conjunto de 1.276 famílias pertencentes a categorias socioprofissionais ditas "superiores": empresários da indústria, funcionários pú-blicos de alto escalão, artistas célebres, médicos com alta reputação, egressos das grandes écoles francesas (Politécnica, Normal Superior e Central), englobando assim tanto as frações das elites bem aquinhoadas do ponto de vista cultural, quanto aquelas privilegiadas financeiramente. Seus resultados demonstraram que, embora essas categorias sociais apresentem taxas de sucesso escolar acima da média da população, elas não são imunes ao fracasso escolar, pois uma porcentagem considerável dos filhos dos pesquisados (30%,