RESUMO:O artigo destaca as contribuições e aponta alguns limites da Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu. Na primeira parte, são analisadas as reflexões do autor sobre a relação entre herança familiar (sobretudo, cultural) e desempenho escolar. Na segunda parte, são discutidas suas teses sobre o papel da escola na reprodução e legitimação das desigualdades sociais. Palavras-chave: Sociologia da Educação. Bourdieu. Família. Escola. PIERRE BOURDIEU'S SOCIOLOGY OF EDUCATION: LIMITS AND CONTRIBUTIONSABSTRACT: This paper emphasizes the limits and contributions of Pierre Bourdieu's Sociology of Education. In the first part, it discusses Bourdieu's reflections on the relationship between family inheritance (specially the cultural one) and school performance. In the second part, Bourdieu's theses about the role of school in the reproduction and legitimation of social inequalities are analized.
IntroduçãoA sociologia da educação -tanto no Brasil quanto no exterior -só muito recentemente passou a se interessar pela escolarização dos jovens pertencentes a famílias favorecidas do ponto de vista social, já que, tradicionalmente, é para os meios populares que a atenção do pesquisador se dirige. Atualmente a situação vem modificando-se com o surgimento de alguns trabalhos que deslocam o olhar da "desvantagem social para o privilégio" (Sirota, 2000, p. 166). Talvez, em nosso país, a prova mais bem acabada desse interesse seja a publicação, em 2002, da coletânea A escolarização das elites (Almeida & Nogueira, 2002) que oferece um panorama da pesquisa nacional e internacional sobre o tema e que já se encontra em sua segunda edição.No entanto, mesmo em terreno tão lacunar, uma distinção precisa ser feita. É que a reflexão sobre o impacto do patrimônio cultural familiar sobre a escolaridade dos filhos já se encontra bem mais desenvolvida, graças sobretudo aos estudos, de inspiração bourdieusiana, sobre a transmissão da herança cultural pela família. Já o papel da riqueza econômica nos destinos escolares dos indivíduos não logrou ainda se constituir em objeto sistemático de pesquisa do soció-logo. A meu conhecimento, apenas duas exceções -extemporâneas, diga-se de passagem -podem ser registradas: os trabalhos de Fourastié (1970Fourastié ( , 1972 e o livro de Ballion (1977), ambos franceses.Jean Fourastié, econometrista do Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM), em Paris, interrogou, ao longo de toda a década de 1960 e por meio de questionário, um conjunto de 1.276 famílias pertencentes a categorias socioprofissionais ditas "superiores": empresários da indústria, funcionários pú-blicos de alto escalão, artistas célebres, médicos com alta reputação, egressos das grandes écoles francesas (Politécnica, Normal Superior e Central), englobando assim tanto as frações das elites bem aquinhoadas do ponto de vista cultural, quanto aquelas privilegiadas financeiramente. Seus resultados demonstraram que, embora essas categorias sociais apresentem taxas de sucesso escolar acima da média da população, elas não são imunes ao fracasso escolar, pois uma porcentagem considerável dos filhos dos pesquisados (30%,
Este artigo trata do aparecimento, a partir dos anos 1980, de um novo objeto no campo da Sociologia da Educação: o das interações entre as famílias e a instituição escolar. Parte-se do exame das primeiras formas de tratamento dado, pelos sociólogos, ao tema da família, as quais se limitavam a observar a influência do background familiar sobre os destinos escolares das crianças. A isso ela contrapõe as abordagens atuais que enfatizam os processos domésticos e cotidianos, e as práticas concretas dos atores, através dos quais se dá (ou não) essa influência.
Resumo O objetivo deste artigo é refletir sobre o uso do conceito de capital cultural na explicação das desigualdades escolares contemporâneas. Partindo de dois balanços recentes sobre o uso do conceito no universo científico de língua inglesa e na literatura sociológica francófona, o texto tenta responder às seguintes questões: a posse da riqueza cultural ainda é um trunfo escolar decisivo para a obtenção do êxito escolar? Em que medida isso ainda ocorre após décadas de profundas transformações sociais e educacionais? A análise evidenciou que: (i) as práticas culturais consagradas são hoje menos rentáveis e menos transmissíveis do que no passado; (ii) os investimentos econômicos dos pais têm se mostrado cada vez mais um elemento impulsionador do sucesso escolar dos filhos.
O texto aborda experiências internacionais de escolarização, vistas como uma nova dimensão da realidade educacional contemporânea que marca as trajetórias escolares de jovens oriundos de meios sociais favorecidos. Discutem-se resultados de pesquisas nacionais recentes que começam a elucidar as características do fenômeno no contexto brasileiro. Uma expansão da demanda por esse bem cultural é detectada entre as camadas médias, que vêem na dimensão internacional do capital cultural um ingrediente indispensável à reconversão de seu patrimônio. Tais estratégias familiares inserem-se numa lógica de distinção, ou seja, de reforço das fronteiras entre grupos mais ou menos providos em capital econômico e cultural.
RESUMO: O artigo faz um exame do livro Os Herdeiros publicado, em 1964, na França, por P. Bourdieu e J.-C. Passeron. Inicia pela caracterização do contexto social e sociológico da obra e do corpus de dados empíricos que dá sustentação às análises dos autores. Envereda por suas teses sobre as desigualdades de acesso ao ensino superior, sobre as diferenças nas escolhas de cursos e de percursos acadêmicos no interior desse nível de ensino, e sobre as diferentes formas de se relacionar com a cultura legítima e o mundo universitário, segundo os diferentes grupos sociais. Finaliza examinando a proposta, defendida ao final da obra, de uma "pedagogia racional", como o único meio possível de neutralizar a ação da herança cultural sobre os destinos escolares dos indivíduos.Palavras-chave: Sociologia da Educação de Bourdieu; Educação e desigualdades sociais; Origem social e ensino superior.The Inheritors: fundaments for a higher education sociology ABSTRACT:The article proposes a reflection on the book The Inheritors published in 1964, in France, by Bourdieu and Passeron. The text starts by characterizing the work's social and sociological context, as well as the empirical data that supports the authors' analysis. It continues by dealing with their thesis on the inequalities of access to higher education, disparities in choice of majors and in pathways, as well as the different ways of relating with the legitimate culture and the university world, according to their different social groups. It ends with an examination of the proposal of a "rational pedagogy", defended at the end of the book, as the only possible way to neutralize the action of cultural inheritance over the individuals' schooling destinies.
A influência da família no desempenho escolar dos filhos constitui objeto de estudo da Sociologia da Educação desde, pelo menos, o período do pós-Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950 e início dos anos 1960, grandes levantamentos estatísticos foram realizados com o objetivo de identificar as variáveis associadas às disparidades de rendimento escolar entre os alunos. Os resultados, de forma geral, destacaram o meio sociofamiliar como um poderoso fator, focalizando, sobretudo, os dados posicionais do grupo familiar (renda, ocupação e escolaridade dos pais, raça etc.) e suas características morfológi-cas (número de filhos, sexo, ordem de nascimento, dentre outros) (Nogueira, 1998).Nos anos 1960-1970, com a hegemonia das teorias da reprodução, a família continua sendo um elemento importante nas análises das desigualdades escolares, enfatizando-se, agora, o patrimônio cultural por ela transmitido ou as aspirações escolares em seu seio suscitadas, tudo isso em conformidade com sua posição de classe. A partir da década de
The objective of this work is to reflect on unequal schooling opportunities in Brazil, focusing on certain characteristics that mark, nowadays, the schooling trajectories of young people from middle-and high-income families. Our previous researches showed that an important part of these families are increasingly investing in international resources, seen as a vital tool for their kids' success. This led to questions about the repercussion of this phenomenon in the strategies used by schools to fulfil parental demands. The research focuses on private schools in high-income neighbourhoods in Belo Horizonte. Interviews with school staff, an analysis on their website and other printed materials revealed that: (a) around half of the researched schools develop internationalisation initiatives such as: special programmes of foreign language learning; bilingual pedagogical projects; and trips abroad and (b) these initiatives could start in a precocious age (since kindergarten), especially foreign language learning.
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