Este artigo desenvolve-se em três seções. Na primeira seção, examina-se o desacordo manifestado por Schopenhauer em relação à Ética kantiana naquilo que tange à linguagem prescritiva da moral. Neste ponto, o desacordo surge por Schopenhauer julgar inadmissível atribuir qualquer função moralizante à filosofia, a qual, na visão do filósofo, deve permanecer puramente teórica e contemplativa. Entretanto, em nossa análise é mostrado que Kant não manifestou semelhante pretensão moralizadora. Na segunda seção, discute-se a tese schopenhaueriana de que a linguagem prescritiva teria origem na moral teológica, o que confirmaria, na visão de Schopenhauer, não só a contingência da relação entre os conceitos de moral e de dever, mas, em uma análise mais profunda, até mesmo a incompatibilidade entre ambos. Na terceira seção, argumentamos que, apesar de explicitamente negar o estatuto moral ao conceito de dever, a Ética de Schopenhauer implicitamente afirma-o. O motivo desta afirmação implícita se sustentaria sobre o fato inelutável de que os fenômenos morais são intrinsecamente prescritivos.