O trabalho analisa os padrões ideológicos das coligações realizadas nas eleições para governador, deputado federal, deputado estadual e prefeito, no período 1986/2004, em Santa Catarina. O objetivo principal é o de verificar em que medida a ideologia constitui um obstáculo à realização de coligações "inconsistentes" e se há mudança nos padrões de coligação ao longo do período. A análise revela que no início da vigência do atual sistema partidário a proporção de coligações ideologicamente inconsistentes era pequena em relação ao conjunto das candidaturas lançadas. Ao longo do tempo o número deste tipo de coligação cresce, particularmente nas duas últimas eleições.
This article analyses the ideological patterns of coalitions performed at the elections for governor, federal representative, state representative and mayor, between 1986 and 2004, in Santa Catarina. The main goal is to verify to what extent ideology constitutes an obstacle to the making of "inconsistent" coalitions and if there are changes in the coalitions patterns, along the period at study. The analysis reveals that at the beginning of the operation of the current party system the proportion of ideologically inconsistent coalitions was small, in relation to the candidatures as a whole. As time passed by, however, the proportion of ideologically inconsistent coalitions increased substantially
O artigo analisa as relações entre a identificação ideológica do eleitor brasileiro, seus "sentimentos" em relação aos partidos e o voto nas eleições presidenciais de 2002 e 2006. A principal hipótese testada, a partir da análise dos dados das duas ondas do ESEB (Estudo Eleitoral Brasileiro), é a de que após o primeiro mandato do presidente Lula houve, na percepção dos eleitores brasileiros, uma diluição das diferenças ideológicas entre os partidos, o que redundaria em uma menor associação entre identificação ideológica e voto na eleição presidencial de 2006 comparativamente à de 2002. O artigo investiga também se houve mudanças na associação entre os "sentimentos partidários" dos eleitores e seu voto.
The article analyses the relations between the Brazilian voter’s ideological identification, his/her "partisan feelings" and the vote, in the 2002 and 2006 presidential elections. The main hypothesis tested, which is based on the two waves of the ESEB (Brazilian Electoral Study) data analysis, is that after President Lula’s first mandate there was a dilution of the ideological differences between the parties in the Brazilian voters view. This dilution would result in a smaller association between ideological identification and the vote in the 2006 presidential election compared to the 2002 election. The article also examines if there were changes in the association between the voters’ "partisan feelings" and their vote
O trabalho investiga a evolução dos sentimentos partidários dos eleitores brasileiros entre 2002 e 2010 e suas relações com variáveis atitudinais e de comportamento dos eleitores. Inicialmente, é realizada uma análise descritiva geral da evolução dos sentimentos partidários dos eleitores entre 2002 e 2010, utilizando dados dos ESEB (Estudos Eleitorais Brasileiros) 2002, 2006 e 2010. A seguir, os sentimentos partidários positivos em relação ao PT e ao PSDB são tomados como preditores de variáveis atitudinais (identificação ideológica, atitudes em relação a estatismo, igualdade e democracia) e do voto, a partir de análises multivariadas, também com base nos ESEB 2002 a 2010. O trabalho conclui mostrando que há diferenças interessantes entre eleitores que manifestam sentimentos em relação ao PT e ao PSDB, quanto a atitudes relativas a temas políticos relevantes; além disso, mostra, também, que esses sentimentos estão, ainda, fortemente associados ao voto para presidente.
This paper examines how the partisan feelings of Brazilian voters evolved between 2002 and 2010 and how these feelings relate to attitudinal and behavioral variables. First a general descriptive analysis of this evolution is conducted using data from the ESEBs (Brazilian Electoral Studies) of 2002, 2006 and 2010. Then, based on multivariate analyses and again on CSES-ESEB2002 through 2010, the positive partisan feelings about the PT and the PSDB are taken to be predictors of attitudinal variables (ideological identification, attitudes towards statism, equality and democracy) and votes. The paper finally shows that there are interesting differences among voters that express feelings towards the PT and voters having feelings towards the PSDB as regards attitudes towards relevant political issues. Moreover, the paper shows that these feelings are still strongly connected to voting for president
Introdução 1São bem conhecidos na literatura brasileira os principais aspectos do debate internacional sobre identificação partidária, especialmente a discussão sobre como se origina essa identificação, sua relação com as atitudes e o comportamento dos eleitores e a tendência de declínio da identificação partidária em boa parte das democracias ocidentais nas últimas décadas. Além disso, há já uma significativa produção empírica no Brasil, analisando o perfil do eleitor com identificação partidária, a evolução dessa identificação ao longo do tempo, as atitudes associadas aos eleitores identificados com diferentes partidos e o impacto dessa identificação sobre a decisão de voto (Lamounier e Meneguello, 1986; Singer, 2000;Reis, 2000;Mainwaring, 1991;Rennó, 2007; Paiva, Braga e Pimentel Jr., 2007; Carreirão, 2007b;Ribeiro, Carreirão e Borba, 2011; Braga e Pimentel Jr., 2011;Neves, 2012; Speck, Braga e Costa, 2015;Baker et al., 2016).Bem menos desenvolvida no país é a discussão sobre identificação partidária negativa (ou sentimentos partidários negativos). Um dos objetivos deste artigo é justamente dar destaque a esse tema, inicialmente resenhando parte da literatura internacional e também da produção brasileira, que, embora incipiente, existe e tem se ampliado no período mais recente, especialmente em função do fenômeno que tem sido chamado de antipetismo. Empiricamente, também, este artigo dará ênfase aos sentimentos partidários negativos, especialmente ao antipetismo. Fazemos isso de forma longitudinal, ainda que a série histórica de dados utilizada não seja longa (de 2002 a 2014), procurando identificar mudanças significativas nos perfis desse público específico que podemos denominar de antipetista. Além disso, investigamos a relevância desses sentimentos sobre disposições subjetivas em relação a temas relevantes como adesão à democracia, preferência por democracia, igualitarismo e estatismo. Por fim, testamos também a relevância dessa condição no processo de escolha de candidatos nas eleições presidenciais.
ResumoO trabalho testa a hipótese de Singer (1998) de que a "identidade ideológica" dos eleitores é um fator central na decisão de voto para presidente. A partir da análise dos dados de quatro surveys realizados entre 1989 e 1997, constata que há realmente uma correlação, de intensidade média moderada, entre o posicionamento numa escala esquerda-direita e o voto para presidente, para o conjunto do eleitorado brasileiro. A conclusão é a de que a proposta de Singer de inclusão de um componente de ordem ideológica parece pertinente num modelo que pretenda compreender o comportamento político de parcela significativa do eleitorado brasileiro, especialmente os eleitores de maior escolaridade Palavras-chave: Comportamento eleitoral; Eleições presidenciais; Identificação ideoló-gica, Brasil Abstract In this study, Singer's (1998) hypothesis that the ideological identity of the voters is a central factor in the voting decision for President is tested. The findings, based on the data analysis of four surveys carried out between 1989 and 1997, shows that there really is a mild-intensity correlation between the positioning on a left-to-right scale and the vote for President, in the case of Brazilian voters. The conclusion is that Singer's proposal for the inclusion of a ideological component seems adequate within a model which aims to account for the political behavior of a large number of the Brazilian voters, especially the ones with high schooling.Key words: Voting behavior, Brazilian Presidential elections, Ideological identity, Brazil (*) Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a realização de curso de doutorado. Agradeço ao Departamento de Ciência Política da USP por financiar, com recursos do PROAP, a obtenção dos dados junto ao Cesop e à Capes pela bolsa do PICD concedida durante o período do curso. Agradeço pela gentileza e solicitude no fornecimento dos dados: ao Cesop -especialmente a seus coordenadores em diferentes momentos, Plínio Dentzien e Rachel Meneguello, e à pesquisadora Paula Cencig -e à Fundação Perseu Abramo, nas pessoas do coordenador do seu Núcleo de Opinião Pública, Gustavo Venturi e das pesquisadoras Rita Dias e Marisol Recaman. Agradeço ainda ao parecerista da revista pelas sugestões de modificações no texto.
O tema da identificação partidária tem sido central na literatura internacional sobre comportamento eleitoral, seja nos estudos da chamada Escola de Michigan, seja na abordagem da escolha racional. Apesar de ambas avaliarem de forma diferente a natureza das identificações partidárias e mesmo considerando os argumentos que apontam o declínio da importância dos alinhamentos partidários na decisão de voto, esse tema continua sendo extremamente relevante no debate internacional, como deixa claro o recente trabalho de Weisberg e Greene (2003).No Brasil, embora a literatura sobre partidos e eleições tenha acumulado estudos significativos sobre as diversas facetas da presente experiência partidário-eleitoral, a questão das identidades partidárias não tem sido objeto de exame mais detido, especialmente no que se refere a suas possíveis repercussões sobre o comportamento eleitoral. 131* A pesquisa em que se baseou este artigo teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -FAPESP, sendo um subproduto do projeto temático "Partidos e Representação Política: O Impacto dos Partidos na Estruturação da Escolha Eleitoral no Brasil".
O sistema partidário brasileiro: um debate com a literatura recenteThe Brazilian party system: a debate with the recent literature Este trabalho visa fazer uma avaliação da dinâmica do sistema partidá-rio brasileiro atual, especialmente no que se refere a aspectos relacionados com as noções de "institucionalização" (ou "consolidação") e "estrutura da competição", bem como ao papel da ideologia na estruturação do sistema.
Este trabalho analisa o comportamento dos eleitores da região da Grande São Paulo, na eleição presidencial de 2002, a partir dos dados de um survey aplicado em 2002 a uma amostra dos eleitores da região. Na primeira seção, tratamos de contextualizar a disputa eleitoral presidencial; em seguida, caracterizamos a base empírica e os aspectos metodológicos da operacionalização da análise; por fim, têm-se a análise propriamente dita e as considerações finais. Eleição presidencial de 2002: contexto e campanhaEm 2002, pela primeira vez na história brasileira, foi eleito um presidente claramente vinculado à esquerda: Lula, com 61% dos votos válidos, que venceu o candidato Serra no 2º turno eleitoral. Do contexto em que se deu o processo eleitoral, o fator mais relevante parece ter sido a avaliação que o eleitorado fazia do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). Havia, de um lado, uma parcela não desprezível que avaliava o governo positivamente (sobretudo por ele ter eliminado a hiperinflação). Por outro lado, na maioria do eleitorado a avaliação era negativa ou neutra ("regular") 1 devido, fundamentalmente, às elevadas taxas de desemprego e à manutenção de enormes desigualdades sociais. Assim, o percentual de eleitores que avaliavam positivamente o governo fornecia combustível para que um candidato situacionista pudesse chegar ao 2º turno, embora dificilmente pudesse vencê-lo.Quanto à campanha e aos candidatos, Serra conseguiu formar, junto a uma parcela substancial dos eleitores, a imagem de um administrador ho-
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