O trabalho investiga a evolução dos sentimentos partidários dos eleitores brasileiros entre 2002 e 2010 e suas relações com variáveis atitudinais e de comportamento dos eleitores. Inicialmente, é realizada uma análise descritiva geral da evolução dos sentimentos partidários dos eleitores entre 2002 e 2010, utilizando dados dos ESEB (Estudos Eleitorais Brasileiros) 2002, 2006 e 2010. A seguir, os sentimentos partidários positivos em relação ao PT e ao PSDB são tomados como preditores de variáveis atitudinais (identificação ideológica, atitudes em relação a estatismo, igualdade e democracia) e do voto, a partir de análises multivariadas, também com base nos ESEB 2002 a 2010. O trabalho conclui mostrando que há diferenças interessantes entre eleitores que manifestam sentimentos em relação ao PT e ao PSDB, quanto a atitudes relativas a temas políticos relevantes; além disso, mostra, também, que esses sentimentos estão, ainda, fortemente associados ao voto para presidente.
This paper examines how the partisan feelings of Brazilian voters evolved between 2002 and 2010 and how these feelings relate to attitudinal and behavioral variables. First a general descriptive analysis of this evolution is conducted using data from the ESEBs (Brazilian Electoral Studies) of 2002, 2006 and 2010. Then, based on multivariate analyses and again on CSES-ESEB2002 through 2010, the positive partisan feelings about the PT and the PSDB are taken to be predictors of attitudinal variables (ideological identification, attitudes towards statism, equality and democracy) and votes. The paper finally shows that there are interesting differences among voters that express feelings towards the PT and voters having feelings towards the PSDB as regards attitudes towards relevant political issues. Moreover, the paper shows that these feelings are still strongly connected to voting for president
Introdução 1São bem conhecidos na literatura brasileira os principais aspectos do debate internacional sobre identificação partidária, especialmente a discussão sobre como se origina essa identificação, sua relação com as atitudes e o comportamento dos eleitores e a tendência de declínio da identificação partidária em boa parte das democracias ocidentais nas últimas décadas. Além disso, há já uma significativa produção empírica no Brasil, analisando o perfil do eleitor com identificação partidária, a evolução dessa identificação ao longo do tempo, as atitudes associadas aos eleitores identificados com diferentes partidos e o impacto dessa identificação sobre a decisão de voto (Lamounier e Meneguello, 1986; Singer, 2000;Reis, 2000;Mainwaring, 1991;Rennó, 2007; Paiva, Braga e Pimentel Jr., 2007; Carreirão, 2007b;Ribeiro, Carreirão e Borba, 2011; Braga e Pimentel Jr., 2011;Neves, 2012; Speck, Braga e Costa, 2015;Baker et al., 2016).Bem menos desenvolvida no país é a discussão sobre identificação partidária negativa (ou sentimentos partidários negativos). Um dos objetivos deste artigo é justamente dar destaque a esse tema, inicialmente resenhando parte da literatura internacional e também da produção brasileira, que, embora incipiente, existe e tem se ampliado no período mais recente, especialmente em função do fenômeno que tem sido chamado de antipetismo. Empiricamente, também, este artigo dará ênfase aos sentimentos partidários negativos, especialmente ao antipetismo. Fazemos isso de forma longitudinal, ainda que a série histórica de dados utilizada não seja longa (de 2002 a 2014), procurando identificar mudanças significativas nos perfis desse público específico que podemos denominar de antipetista. Além disso, investigamos a relevância desses sentimentos sobre disposições subjetivas em relação a temas relevantes como adesão à democracia, preferência por democracia, igualitarismo e estatismo. Por fim, testamos também a relevância dessa condição no processo de escolha de candidatos nas eleições presidenciais.
Resumo: O artigo procura testar no nível individual e para um grupo de quatro países latinoamericanos a hipótese proposta pelos defensores da teoria do desenvolvimento humano sobre a associação entre valores pós-materialistas e uma postura participativa. Utilizando dados produzidos pela Pesquisa Mundial de Valores procuramos verificar em que medida essa afirmação é pertinente no contexto de nações com questões materiais e economicas não resolvidas e caracterizadas como jovens democracias. Através de técnicas de análise bivariada e multivariada constatamos que entre os públicos desses países a participação é mais influenciada por variáveis relacionadas à centralidade social dos cidadãos do que por mudanças nas suas prioridades valorativas, o que leva à conclusão de que a transposição do modelo explicativo sugerido por Inglehart para o cenário latinoamericano é problemática e deve ser avaliada criticamente.
Abstract: The article tests at the individual level and for a group of four Latinamerican countries the hypothesis proposed by the defenders of the theory of the human development about the association between postmaterialist values and a participative posture. Using data from the World Values Survey we verify the validity of this in that measured that statement in the context of nations with economics and materials problems and characterized as young democracies. Using techniques of bivariate and multivariate analysis we verifyed that among publics of those countries the participation is more influenced by variables related to the citizens' social centrality than by changes in their value's priorities, what leads to the conclusion that the explanatory model suggested by Inglehart is problematic to Latinamerica contexts and should be criticized
Recentes pesquisas sobre o tema da confiança política têm apontado um quadro de significativo descrédito dos cidadãos em relação às principais instituições das democracias ocidentais. Entre as diferentes explicações levantadas para esse grave fenômeno, tem recebido destaque a tese que o associa a um processo de mudança cultural que estaria conduzindo ao estabelecimento de uma cidadania crítica e, conseqüentemente, a um novo padrão nas relações entre os indivíduos e o sistema político. Ainda que satisfatoriamente testada em democracias de longa tradição e relativamente consolidadas, alguns críticos têm apontado a fragilidade explicativa dessa hipótese para o caso das jovens democracias, nas quais o fenômeno seria explicado pela desilusão dos cidadãos com o funcionamento concreto das instituições que compõem o sistema político. Nesse trabalho tratamos dessa polêmica ao testar essas hipóteses no contexto latino-americano, investigando os determinantes individuais da desconfiança política. Utilizando dados produzidos pelo projeto World Values Survey em suas três ondas conduzidas na região, inicialmente analisamos a evolução recente de alguns indicadores e, na seqüência, propomos um modelo que confronta simultaneamente diferentes explicações para o fenômeno em questão.
Resumo Pela sua centralidade no regime democrático, a participação eleitoral é objeto privilegiado de muitos politólogos. Em geral, os estudos se voltaram para a realidade dos países desenvolvidos, abordando, entre outros temas, o comparecimento eleitoral e seus determinantes. Poucas são as pesquisas que contemplam, pelo menos de forma consistente, os regimes democráticos de terceira onda, especialmente os latino-americanos. Procurando contribuir para suprir essa lacuna, o presente artigo procurou mapear os determinantes do comparecimento eleitoral na América Latina, rompendo com a dicotomia macro versus micro, integrando-as em um único modelo analítico. Foram utilizados dados do Latinobarômetro, em sua rodada de 2009, dos quais extraímos as variáveis de nível micro (individual) e uma base de dados com informações macro dos países onde vivem os eleitores. Essas últimas medidas sintetizam a situação da economia dos países, características do seus sistemas eleitorais e a situação das liberdades políticas e individuais, entre outras. Os dados foram combinados em um modelo de regressão logística multinível com o uso do software HLM 6.8. A dimensão ecológica se mostrou importante, sendo que o aumento da população urbana implica o aumento das chances do eleitor comparecer, enquanto que a elevação do PIB implica redução nessa probabilidade. Do ponto de vista da configuração do legislativo, ser bicameral reduz as chances de comparecimento dos eleitores às urnas. Além disso, a obrigatoriedade do voto eleva expressivamente o comparecimento eleitoral. Quanto às variáveis individuais, o aumento dos anos de vida é acompanhado pelo aumento da participação eleitoral, assim como a escolaridade. Da mesma forma, ser favorável a democracia promove a propensão a participar do pleito, bem como considerar que as eleições ocorrem de forma limpa e transparente. O artigo contribui para o debate ao focalizar as eleições latino-americanas, já que estudos desse tipo têm sido conduzidos apenas nas democracias consolidadas. Sua relevância é ainda reforçada em razão da identificação de algumas importantes discrepâncias em relação aos resultados normalmente encontrados nesses contextos de longa tradição democrática, como os efeitos negativos do PIB e da efetividade governamental. Por fim, o que os dados indicam é que o comparecimento eleitoral na América Latina é a “voz” dos cidadãos portadores de maiores recursos, que valorizam a democracia e suas instituições, mas que estão insatisfeitos com a economia e que vivem em contextos de baixa efetividade na atuação dos governos.
This article analyzes the effects of antipartisanship in explaining the Bolsonaro vote in the 2018 presidential elections. The expansion of the anti-Workers' Party sentiment known in Portuguese as 'antipetismo' into an antipartisanship that accommodates a wider range of targets and a growing association between antipartisanship and political intolerance provide the context for and underscore the relevance of our tests. Our expectation is that the vote for Bolsonaro was strong related to both antipetismo and negative attitudes towards mainstream political parties, especially when such attitudes were intense. The empirical basis of the present work was data from the Barometer of the Americas (LAPOP), particularly from the 2018/2019 wave. Empirical tests indicate that antipartisanship in its varied forms is a relevant phenomenon and had a major role in defining the electoral choices of 2018, particularly in the vote for Bolsonaro.
Sabe-se que a primeira tentativa de formulação sistemática e aplicação do conceito de cultura polí-tica foi empreendida por Gabriel Almond e Sidney Verba, no livro The Civic Culture, lançado na década de 1960. Nessa obra os autores afirmavam que os valores, sentimentos, crenças e conhecimentos eram relevantes para explicar os padrões de comportamentos políticos adotados pelos indivíduos. O seu objetivo era, por meio de um estudo que se estendeu por cinco países (Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Alemanha e México), determinar o grau de congruência entre esse conjunto de variáveis subjetivas e o sistema político. Esse trabalho constitui-se, portanto, em uma tentativa pioneira de estabelecer um elo explicativo entre, de um lado, as atitudes e motivações subjetivas dos atores sociais e, de outro, a sua conduta política e seus efeitos sobre o funcionamento das instituições
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