Em 2011, a Divisão de ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade da ANPAD completou dez anos de existência e de consolidação do seu papel como promotora de discussões transversais, de caráter pedagógico, metodológico e institucional, da área de Administração como um todo. A criação no interior da Divisão de outro tema destinado a questões institucionais -Estudos Históricos, Reflexivos ou Críticos sobre as áreas de Administração e Contabilidade -foi um dos principais fatores que impulsionaram a Divisão a promover o III EnEPQ como espaço indutor do debate e de reflexões críticas de problemas específicos considerados relevantes para a área. O momento não poderia ser mais propício à reflexão sobre o que significa ensinar e pesquisar no Brasil e sobre o que se poderia chamar de trabalhos de qualidade. A escolha de um tema de interesse da comunidade e de três brilhantes professorespesquisadores ocorreu nesse cenário de planejamento do encontro de uma Divisão que, em virtude de sua essência, não pode eximir-se de participar da reflexão, da promoção da informação reflexiva e da disponibilidade em mudar.A partir das reações provocadas pelos textos dos painelistas -Maria Ester de Freitas, Alexandre Faria e Rafael Alcadipani, publicados na Seção Opinião desta publicação (v. 9, n.4) iniciamos, a seguir, a discussão de alguns pressupostos que assumimos como ponto de partida para a busca do foco e do argumento central deste ensaio.
Qual Produtivismo? Saudades de 2008Definições, algumas por vezes irônicas, e diferentes compreensões críticas do que seja este fenômeno cultural, de origem econômica, ideológica e filosófica, chamado produtivismo acadêmico, já foram amplamente tratadas na literatura brasileira, principalmente no campo de educação (SGUISSARDI, 2010a;2010b; BIANCHETTI e SGUISSARDI, 2009; BIANCHETTI e MACHADO, 2009). A própria definição é dialética, pois já engendra em si a crítica: forma de avaliação centrada na quantidade pura e simples de produções/publicações, em geral pouco lidas ou que não têm maior importância científica, e que serve de parâmetro básico para as mais diversas formas de progressão na carreira acadêmica. A maior parte da crítica é direcionada ao fato de que o centro desse modelo reside em considerar o quanto docentes/pesquisadores/programas/instituições publicam em detrimento da qualidade científica ou da relevância social do que é publicado. Na pós-graduação brasileira em gestão -âmbito deste ensaio -o produtivismo acadêmico adquire força de sobrevivência e perpetuação pelos diversos dispositivos de incentivo ao desejo de competição entre: universidades, programas de pós-graduação, docentes-pesquisadores e, até mesmo, entre discentes (SGUISSARDI e SILVA JÚNIOR, 2009; BIANCHETTI e MACHADO, 2009). Ainda que a chegada oficial do produtivismo acadêmico no Brasil remeta ao final dos anos 1970 -época em que suas características e