RESUMO Considerando o crescente interesse por documentos de arquivos pessoais no mundo atual, procuramos, neste artigo, apresentar um balanço do modo como esses documentos têm sido utilizados, no Brasil, em um campo particularmente aberto para reflexões de cunho teórico e epistemológico: o da história da historiografia - ao qual somamos o da história intelectual e congêneres. Com isso, pretendemos mostrar, a um público mais amplo, resultados teóricos e reflexões que podem ser aproveitados tanto por especialistas como por pesquisadores pouco afeitos a essas áreas, mas que se beneficiam de seus resultados teóricos ao procurarem utilizar documentos de arquivos pessoais em suas pesquisas - tendência crescente à medida que se consolidam e aumentam as instituições de guarda e seus repertórios documentais, no Brasil e no mundo. Inversamente, pretendemos também, ao fazer tal balanço, abrir os campos específicos da história da historiografia e da história intelectual para as reflexões que se fazem em outras áreas, como a teoria literária, com base em documentos de arquivos pessoais. O objetivo é aprofundar o diálogo interdisciplinar e contribuir para um uso mais crítico das fontes em obras de história intelectual e biografias, de forma geral.
Esse texto oferece uma reflexão teórica sobre os efeitos da inteligência artificial e do universo digital no ofício do historiador. A reflexão é baseada em um conjunto de experimentos relacionados com o desenvolvimento de um “historiador cibernético”, lidando com hipóteses tais como, robôs criando narrativas históricas e dominando métodos de análise qualitativa e quantitativa. Para isso, apresentamos nossa tecnologia própria em fase de desenvolvimento, problematizando as etapas para a criação de um "robô” historiador. O termo “robô" (ou “bot”) é entendido como um programa computacional que executa tarefas de forma quase inteiramente autônoma, sem qualquer relação com o usuário humano. Por sua vez, estas tarefas são complementadas por um sistema de inteligência artificial. Essa realidade emergente nos projeto em questões urgentes sobre transparência e ética no mundo digital, e pode ser uma poderosa ferramenta para problematizar o futuro da história no mundo contemporâneo. Corrigendum publicado em 28 de abril de 2019.1. Ambos os autores contribuiram igualmente para este trabalho.2. A propriedade do algoritmo utilizado na obtenção dos dados deste artigo pertence a Oldimar Cardoso.
RESUMO O presente artigo parte de debate ocorrido na segunda metade do século XIX na historiografia brasileira a respeito de qual deveria ser o ponto de partida de uma narrativa da história do Brasil: a Europa (por meio do contexto da expansão europeia e das Grandes Navegações) ou a América (descrevendo-se, primeiramente, o território e as populações indígenas). Este debate envolvia a questão de definir os “antecedentes” da história do Brasil, assumindo para a história uma lógica narrativa dotada de implicações. O processo histórico assim escolhido definia um “centro” para a história do Brasil, que poderia ser “interno” (território e populações indígenas) ou “externo” (Europa, ou processo de expansão do capitalismo comercial). Aqui, buscamos analisar as implicações dessa tríade teórica antecedentes-processo-centro na historiografia de formação brasileira à luz, por fim, de reavaliações possíveis do lugar e papel das populações indígenas e da natureza na história.
Tendo como base estudos transnacionais que apontam para a relevância do historicismo enquanto conceito-chave do pensamento histórico, neste artigo objetivamos revisitar a reapropriação do termo, realizada na obra tardia de Sérgio Buarque de Holanda. De forma geral, buscamos sustentar que a aproximação do autor com o historicismo representou o capítulo brasileiro de uma tendência à relativização e adaptação do conceito moderno de história à realidade multiétnica e multicultural da América Latina. Assim, desenvolvemos a hipótese de que, em especial no texto O atual e o inatual em L. von Ranke (1974), Sérgio Buarque se preocupava com o processo de crise da velha matriz europeia de entendimento da história na modernidade, atentando para percepções alternativas e descontínuas sobre a questão do sentido na história.
RESUMO Este texto visa discutir as implicações do Twitter, construído para ser um documento histórico. Para isso, balizaremos os argumentos nas discussões sobre arquivos públicos e pessoais, bem como as novas demandas do universo digital, no qual entendemos que esses dados são de natureza pessoal, mas se tornam públicos no Twitter. Compreende-se que os dados cedidos à plataforma precisam ser arquivados para se configurarem como documentos históricos. Por isso, buscou-se demonstrar como é formado um arquivo do Twitter para pesquisa em história e formas de análise, construindo a evidência a partir do episódio de ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.
RESUMO Partindo de uma análise das temporalidades subjacentes ao Prefácio de Raízes do Brasil, de 1969, este artigo estuda a colaboração entre Antonio Candido e Sérgio Buarque de Holanda. Seguindo o percurso de um esboço de biografia cruzada, o texto atenta para a cumplicidade e para a apropriação colaborativa de certas ideias chave presentes em outras obras desses autores, como Monções (1945), Caminhos e fronteiras (1957), Capítulos de literatura colonial (1991), Parceiros do Rio Bonito (1964) e Formação da literatura brasileira (1959). De modo geral, as análises dos dois confluem numa representação do trabalho intelectual enquanto forma de engajamento e militância política em face da experiência da ditadura (Estado Novo, 1937-1945, e Regime Militar, 1964-1985) e nas expectativas em relação à democratização.
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