Algumas manifestações de violência no namoro ocorrem através do uso das novas tecnologias, pelo que importa investigar esta tipologia de abuso apelidada internacionalmente de cyber dating abuse. O presente estudo procurou traduzir e adaptar, para a população portuguesa, o Cyber Dating Abuse Questionaire (CDAQ; Borrajo, Gámez-Guadix, Pereda, & Calvete, 2015), estudando as suas propriedades psicométricas. A versão portuguesa foi administrada a uma amostra de 272 estudantes, a grande maioria (87%) de sexo feminino e com uma média de idades de 28.41 (DP=7.02). A análise fatorial confirmatória revelou bons índices de ajustamento, permitindo confirmar o modelo fatorial do instrumento original constituído por quatro fatores correlacionados, dois relativos à vitimação por agressão direta e controlo e dois à perpetração dessas mesmas tipologias de violência. Adicionalmente, todos os fatores revelaram boa consistência interna. Ainda que os indicadores de prevalência de vitimação e perpetração por controlo (58.8% vs. 63.2%, respetivamente) se tenham revelado mais preponderantes comparativamente aos de vitimação e perpetração por agressão direta (18% vs. 14.7%), foi possível confirmar que estes dois tipos de ciberabuso íntimo constituem comportamentos entre os jovens portugueses estudantes universitários envolvidos/as em relações íntimas. As implicações práticas e empíricas futuras deste estudo são objeto de discussão neste trabalho.Palavras-chave: Ciberabuso, Relações de namoro, Jovens.
IntroduçãoO crescimento e avanço tecnológicos registados nas últimas décadas têm conduzido a um incremento das práticas digitais e do funcionamento em rede, sobretudo por parte dos adolescentes (Instituto Nacional de Estatística, 2017). O espaço virtual constitui um meio muito flexível e atrativo para encetar novas relações interpessoais, incluindo as amorosas, sendo que os jovens dispõem de uma ampla variedade de ferramentas digitais e tecnológicas (e.g., mensagens de texto e através das diferentes redes sociais, e-mails, telemóveis, o recurso à webcam, entre outros) seja para iniciar, desenvolver ou manter uma determinada relação amorosa (Burke, Wallen, Vail-Smith, & Knox, 2011). Não obstante, este recurso às novas tecnologias também poderá potenciar a emergência de outros problemas, na medida em que tornam os jovens mais vulneráveis à intrusividade 93 A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: