Utilizando o modelo das Redes Globais de Produção, argumenta-se que os fatores que levaram ao rompimento da Barragem I, da Vale S.A., em Brumadinho (MG) em 2019, podem ser interpretados a partir do exercício de poder corporativo, que anulou os sistemas existentes de pesos e contrapesos, e da captura de valor por meio da redução de custos operacionais para garantir o aumento da remuneração aos acionistas, em um contexto de crescente financeirização. O artigo é construído a partir de revisão bibliográfica e análise documental. A construção do argumento se inicia a partir da construção do conceito de estratégia, definida como um repertório de ações coordenadas desempenhadas por um ou mais agentes que envolve o exercício do poder com o objetivo de: (1) aumentar a capacidade de ampliar ou capturar valor; (2) expandir o poder ou reduzir o poder de outros agentes; e/ou (3) modificar condições de enraizamento, próprias e as de outros agentes. Lançando mão dessa definição, em seguida, apresenta-se uma análise de restrições e oportunidades de geração e captura de valor pela Vale e da associação de suas estratégias com um aumento do risco operacional da Barragem I.
Tentamos com este artigo relacionar a teoria produzida pela Cepal durante os anos 50s (dentre os vários pensadores, selecionamos basicamente Raúl Prébish e Celso Furtado) e a vertente marxista da Teoria da Dependência (André Gunder Frank, Theotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra). Nesse debate, destacamos os conceitos de subdesenvolvimento e de dependência. Buscamos em ambas teorias as origens para as chagas sociais do subdesenvolvimento e possíveis perspectivas para o desenvolvimento genuíno e autônomo. Podemos notar que a Teoria da Dependência tem forte influência cepalina, podemos até mesmo dizer que a idéia de dependência já se encontrava embrionária dentro do pensamento da Cepal. Por algum tempo, perdurou nas Ciências Sociais a interpretação evolutiva do desenvolvimento, na qual existiria um linha evolutiva entre subdesenvolvimento e desenvolvimento-hoje subdesenvolvido, amanhã desenvolvido. O que a Teoria da Dependência em geral traz de novo frente aos estudos cepalinos é a necessidade de compreender que o subdesenvolvimento seria mais uma fase no desenvolvimento do capitalismo e que se iniciou com a expansão dos países centrais. Assim, o não existe desenvolvimento sem subdesenvolvimento no capitalismo. O resgate desse debate encontra um contexto fértil nos dias de hoje, com o novo desenvolvimentismo brasileiro, surgindo novas análises baseadas na Teoria da Dependência.
O setor mineral ganhou centralidade no padrão de reprodução estabelecido no Brasil neste século. Ao fazê-lo, o setor não só incrementou a produção nas regiões tradicionalmente mineradas, como dilatou seu horizonte geográfico de operação pelas novas fronteiras da mineração. O padrão exportador de especialização produtiva alargou o horizonte geográfico de atuação do setor mineral para além das áreas tradicionalmente mineradas. Esta expansão através de novas fronteiras da mineração fez da incorporação exponencial de novos territórios um dos elementos críticos do problema mineral brasileiro. As principais características deste padrão são duas já destacadas no nome atribuído: i) é um padrão marcado pela subordinação ao mercado externo; ii) setores específicos (via de regra ligado a commodities) funcionam como eixo estruturador da reprodução do capital. Tal dispersão geográfica fez eclodir a luta pelos Territórios Livres de Mineração (TLM). Neste texto, procuramos desenvolver uma abordagem materialista dos TLM enquanto estratégia de resistência ao capital mineral.
Neste artigo, abordo o debate sobre a dependência em economias locais de base mineradora, centralizando minha análise em Brumadinho e Mariana (MG). Para tanto, defino os termos do fenômeno conhecido como minério-dependência. Acerca das economias locais de Brumadinho e Mariana, traço o perfil da estrutura de trabalho dos municípios, os empregos formais do setor extrativo mineral e de outros setores, a arrecadação municipal proveniente da mineração, as assimetrias na apropriação da renda mineira e as condições da dependência pela atividade. Analiso retrospectivamente alguns dos efeitos do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana e, enfim, busco considerar efeitos da mineração de extração em larga escala sobre outros setores. Concluo que o desenvolvimento desse tipo de mineração se faz em detrimento de outras atividades, reforçando o ciclo de dependência.
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