A subjetividade é o laboratório vivo onde universos se criam e outros se dissolvem. Muitas são as políticas de subjetivação e os modos de relação com a alteridade do mundo que elas implicam, combinatórias variadas e variáveis de dois modos de apreensão do mundo enquanto matéria -como desenho de uma forma ou como campo de forças -, os quais por sua vez dependem da ativação de diferentes potências da subjetividade.Conhecer o mundo como matéria-forma convoca a percepção, operada pelos órgãos dos sentidos; já conhecer o mundo como matéria-força convoca a sensação, engendrada no encontro entre o corpo e as forças do mundo que o afetam. Aquilo que do corpo é afetável por estas forças não depende de sua condição de orgânico, de sensível ou sensorial, de erógeno, nem de emocional, mas de sua condição de carne percorrida por onda nervosa: um "corpo vibrátil" (ou corpo intensivo). A percepção do outro traz sua existência formal à subjetividade, sua representação; enquanto que a sensação lhe traz sua presença viva. Entre estes dois modos de apreensão do mundo reside um paradoxo irresolúvel: de um lado, os novos blocos de sensações que pulsam na subjetividade, na medida em que vai sendo afetada por novos universos; de outro, as formas através das quais a subjetividade se reconhece e se orienta no presente. Disparidade inelutável que acaba por colocar as formas atuais em xeque, pois estas se tornam um obstáculo para integrar as novas conexões com a alteridade do mundo que provocaram a emergência de um novo bloco de sensações e, com isso, deixam de ser condutoras de processo, esvaziam-se de vitalidade, perdem sentido. Instaura-se na subjetividade uma crise que pressiona e causa desconforto. Para responder a essa pressão, mobiliza-se no homem a vida enquanto potência de resistência e de criação -vale dizer: o desconforto força a criar uma nova configuração da existência, uma nova figuração de si, do mundo e das relações entre ambos; força igualmente a lutar pela incorporação dos novos contornos, a lutar para trazê-los à existência.É a associação do exercício das duas forças que garante a continuidade da vida, sua expansão. As múltiplas transformações moleculares que daí resultam vão se acumulando e acabam precipitando novas formas de sociedadeuma obra aberta e em processo, cuja criação é portanto necessariamente coletiva. O paradoxo na subjetividade e a crise que ele provoca são assim constitutivos do processo de individuação em seu constante devir outro, eles são seus disparadores. Isto faz de todo e qualquer modo de subjetivação, uma configuração efêmera em equilíbrio instável.Praticar ou não estes dois modos de conhecimento e o lugar que cada um deles ocupa na relação com o mundo, definem modos de subjetivação que implicam políticas de relação com a alteridade cujos efeitos não são neutros: