Apresentação à Texto Poético 23. ---DOI: http://dx.doi.org/10.25094/rtp.2017n23a465
Os mitos pretéritos constituem um dos principais núcleos de criação da poesia de Carlos Drummond de Andrade. Presente em toda a obra do poeta, desde o livro de estreia, Alguma poesia, até a publicação póstumaFarewell, o passado torna-se eixo nuclear em três volumes publicados nas décadas de 60 e 70: Boitempo I (1968), Menino antigo (Boitempo II, 1973) eEsquecer para lembrar (Boitempo III, 1979), mais tarde conhecidos como série Boitempo. Mas os poemas memoriais não representam um bloco homogêneo. Ao longo do itinerário poético drummondiano, a exumação do pretérito e a sua recriação em poesia assumem inflexões bastante diversas, as quais estão em consonância com mudanças que se processam no projeto estético do autor. Segue essas diferentes modulações uma reflexão crítica sobre os conteúdos de representação mnemônica e sobre a própria linguagem, numa atitude crítica que está na base da poesia de Drummond e da literatura moderna de um modo geral. Este artigo acompanha modulações da memória drummondiana em três momentos: o de Alguma poesia, aquele que se manifesta na poesia mais estritamente social de A rosa do povo e o da série Boitempo.
<span></span><span><p><strong>Resumo: </strong>No ano seguinte ao lançamento de <em>Pedra do sono </em>(1942), de João Cabral de Melo Neto, Antonio Candido publica uma resenha sobre esse livro, na qual, além de pressentir acertadamente a grande promessa representada pelo poeta estreante e perceber as linhas mestras do livro, não deixa de lhe censurar o hermetismo e de chamar a atenção do autor para a necessidade de “elevar a pureza da sua emoção a valor corrente entre os homens” (CANDIDO, 2002, p. 141). Antes de Candido, Drummond, em janeiro de 1942, numa carta ao jovem poeta, já havia feito restrição semelhante à poesia do pernambucano, considerando-a muito hermética para o leitor comum. Cabral parece ter internalizado as censuras e as sugestões de seus primeiros leitores quanto à recepção da palavra poética e a elas “respondeu” em sua obra crítica e criativa. Neste trabalho, proponho acompanhar as soluções e tensões que estão na base das “respostas” cabralinas para o binômio poesia e leitor.</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>João Cabral; poesia moderna; poesia brasileira; leitor.</p> <p class="Pa2"><strong> </strong></p> <p class="Pa2"><strong>Abstract: </strong>In the year after the release of João Cabral de Melo Neto’s <em>Pedra do sono </em>(1942), Antonio Candido published a review of it in which he correctly perceived the great promise represented by the new poet and the guidelines of the book, as well as criticizing the hermeticism and calling the poet’s attention to the need of “bringing the purity of his emotion up to the current values of mankind” (CANDIDO, 2002, p. 141). Before Candido, Drummond in a letter to João Cabral written in January 1942 had already voiced similar restrictions to his poetry, considering it very hermetical for the common reader. Cabral seems to have taken in these criticisms and the suggestions from his first readers as to the reception of his poetry and “answered” them in his critical and creative work. In this paper, I intend to follow the solutions and tensions which are the basis of his “answers” to the pair constituted by poetry and the reader.</p> <p><strong>Keywords: </strong>João Cabral; modern poetry; Brazilian poetry; reader.</p></span>
Resumo Em 1946, João Cabral de Melo Neto organizou, a pedido de Jaime Cortesão, então exilado no Brasil, a antologia De António Nobre ao saudosismo. Cabral realizou a seleção dos poetas, escreveu o prefácio e entregou a obra, que, entretanto, não chegou a ser publicada. Dessa seleta, localizei algumas referências em cartas e depoimentos e o prefácio, ainda inédito. Proponho apresentar os rastros dessa obra não publicada, situando-a, rapidamente, nas relações de Cabral com a tradição poética portuguesa.
Este trabalho propõe examinar aspectos da poesia memorialística de Cora Coralina e mostrar como esses aspectos conectam a poeta com a modernidade literária. A memória é um dos principais núcleos de criação da obra coralineana, seja a pessoal e artisticamente recriada, seja a “coletiva subterrânea”, que a escritora resgata da clandestinidade para inscrevê-la nos autos do passado, reorganizando a história canônica. Ao tecer a sua poesia com os fios do tempo, distante dos centros culturais do país e dona de uma voz individualíssima, a autora encontra a tradição.
JORGE DE LIMA NO CONTEXTO DALITERATURA MODERNISTA BRASILEIRA APRESENTAÇÃO Mais de cem anos da estreia de Jorge de Lima na literatura, sua obra firmou-se como uma das mais contundentes da lírica brasileira. Tendo surgido em meio à fase heroica do nosso Modernismo, o poeta teve participação expressiva na poesia mística que caracterizou um dos vieses da segunda geração, unindo o sincretismo religioso de ordem cristã a uma reflexão sobre a criação poética, aproximando metalinguagem e metafísica, poesia e sagração. Ao encontrar as realidades históricas na totalidade universal, transitou pelos contextos regionais em busca do ritmo e da sabedoria cósmica, unindo localismo e universalismo de modo ímpar na poesia brasileira. Não esteve à margem das vanguardas; comumente associado ao movimento surrealista, engendrou uma obra imagética, com metáforas insólitas, plasticizada por ritmos ora próximos da tradição, ora aparentemente fluidos, de uma espontaneidade que camufla seu trabalho de elaboração. Entrecruzando a mítica e a mística, o poeta dialoga aspectos caros do passado mais remoto com atmosferas poéticas e temas próprios do século XX, como a guerra, os governos totalitários, as mais variadas formas de opressão e o contexto político e social brasileiro. O texto de chamada deste dossiê propôs “compor um panorama crítico do escritor, acolhendo artigos que apresentem estudos interpretativos e analíticos de sua obra”, o que consideramos de extremo valor, tanto pela necessidade de reconhecimento e de estudos acerca de sua obra em particular quanto pelos modos com que sua produção reverbera na contemporaneidade. Composta de oito artigos, uma entrevista e uma carta inédita, a edição contempla tais propósitos, com leituras críticas de obras e de conjuntos de obras, entre poesia, prosa e fotomontagens. Abrindo a edição, Suene Honorato faz uma leitura das epígrafes de Jorge de Lima no livro Invenção de Orfeu, lidas em conjunto e em relação com a obra, em artigo intitulado “As epígrafes de Invenção de Orfeu”. A mesma obra é referendada no texto seguinte, de Sérgio Carvalho de Assunção, que a compreende “Entre delírios e vertigens: imersões extemporâneas na ilha de Orfeu”; o autor reúne elementos vários da obra, num amálgama que dispensa a leitura rígida, tentando capturar modos e formas de organização da ilha movediça criada por Jorge de Lima. Em “A infância das vanguardas e ‘O mundo do menino impossível’, do folheto ao livro”, Vagner Camilo detém-se sobre o poema de 1927, compreendido na perspectiva do poeta adulto transfigurado no entretenimento infantil, propondo leituras críticas do poema isolado, mas também “como parte de uma unidade maior”. Rafael Iatzak Rigoni, por seu turno, parte da imagem da torre em dois sonetos do Livro de Sonetos (1949) para explorar tensões que, ao contrário de recusarem o real e a comunicação, estruturam sua “negatividade”; trata-se de “Uma torre de guerra: análise da imagem da torre de marfim em dois sonetos de Jorge de Lima”. O artigo “A eterna chama e a melodia infinita: leitura de um soneto de Jorge de Lima” também faz leitura crítica de um soneto de Livro de Sonetos; Fabrício Carlos Clemente e Luana Uchôa Torres leem o poema “Essa pavana é para uma defunta” em sua relação de afirmação e transgressão do modelo clássico, tendo como aspecto central a relação entre poesia e música. Os três artigos seguintes se dedicam a outras abordagens da obra limiana, para além do estudo da poesia. Gabriela Martins Ribeiro Neta, em “Jorge de Lima e o jogo imagético entre as fotomontagens e a poesia”, debruça-se sobre as fotomontagens de A pintura em pânico e o poema Invenção de Orfeu, com vistas a explorar aspectos como o insólito, o sonho e o surrealismo. O romance O anjo (1934) é objeto de estudo do próximo artigo; em “O Herói melancólico em O anjo, de Jorge de Lima”, José Antonio Santos de Oliveira dá ênfase à “construção melancólica da personagem Herói”, entrevista pelo seu arrefecimento diante do avanço tecnológico do mundo. Fechando a seção de artigos, Samara Inácio da Silva e Manoel Freire Rodrigues trafegam pela ficção romanesca de Jorge, de modo mais geral, observando suas relações com o Modernismo da fase heroica e o modernismo regionalista de 1930, no texto que se intitula “O experimentalismo estético no romance de Jorge de Lima: do legado da geração de 22 ao romance de 30”. Num segundo momento deste dossiê, apresentamos uma entrevista com Fábio de Souza Andrade – expoente da crítica contemporânea limiana. Andrade organizou antologias crítica da obra poética de Jorge, além de edições, posfácios e aparatos críticos a seu poema maior, Invenção de Orfeu. Na entrevista, realizada por Alexandre de Melo Andrade e Solange Fiuza Cardoso Yokozawa, o crítico fala sobre questões caras da obra e da crítica em torno do escritor, como a relação entre o misticismo e a abordagem social, as fases de sua produção, sua atualidade, os modos de composição da Invenção de Orfeu, a vertente órfica do catolicismo, o olhar da crítica mais contemporânea e a relação instituída entre sua obra e os leitores. Encerrando a edição, constamos uma carta de Jorge de Lima para Adolfo Casais Monteiro, datada de 1936, com texto de apresentação de Arnaldo Saraiva. O crítico português tece comentários acerca das relações de Jorge de Lima com os poetas portugueses e trata de algumas questões que marcam o diálogo, que era frequente, entre os dois escritores. A carta foi publicada no n. 50 de julho de 1979 na Revista Colóquio/Letras, de Lisboa, cabendo à Travessias Interativas publicá-la pela primeira vez no Brasil. Não nos é possível concluir esta apresentação sem fazer os justos agradecimentos: 1) aos autores dos artigos, que certamente estão contribuindo consideravelmente para a fortuna crítica de Jorge de Lima, com novos olhares sobre sua obra; 2) a Fábio de Souza Andrade, pela disponibilidade e gentileza em nos confiar a entrevista, tão enriquecedora; 3) a Arnaldo Saraiva, que nos cedeu a republicação da carta inédita no Brasil de Jorge de Lima para Adolfo Casais Monteiro, complementada pelo seu texto de apresentação; 4) ao conselho editorial e aos pareceristas ad hoc, que nos auxiliaram na leitura crítica dos textos. É gratificante, para a equipe da Travessias e para nós, organizadores do dossiê, perceber o volume de informações e análises críticas que ora disponibilizamos, tendo a certeza de que a obra de Jorge de Lima merece todas essas leituras. Alexandre de Melo AndradeSolange Fiuza Cardoso YokoawaOrganizadores
Editorial do volume 13 da Revista Texto Poético.
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