Etnoarqueologia dos grafismos Kaingang: um modelo para a compreensão das sociedades Proto-Jê meridionais Palavras-chave: Grafismo indígena; Kaingang; Etnoarqueologia; Grupos Proto-Jê do sul; cultura material. RESUMO Este estudo realiza uma articulação entre o registro arqueológico das ditas "tradições ceramistas planálticas" do sul do Brasil (Taquara, Itararé e Casa de Pedra), as quais considero Proto-Jê meridionais, e os registros etnográfico, etno-histórico e lingüístico das sociedades Jê meridionais (Kaingang e Xokleng), para tornar possível uma mais profunda e sofisticada compreensão destas populações Proto-Jê do sul. O registro arqueológico deixado por estes grupos foi analisado do ponto de vista de sua dimensão simbólica, principalmente quando ele podia ser identificado como parte de um sistema de representações visuais (grafismos). Assim, foi empreendida uma etnoarqueologia dos grafismos Kaingang, articulando-se os registros arqueológico, etnográfico, etno-histórico e lingüístico a partir de uma abordagem cognitiva, que privilegia e interpreta a produção de significados pelas populações Proto-Jê meridionais, principalmente suas representações sobre a vida em sociedade, sobre os domínios da natureza, da sobrenatureza, e sobre a morte, tendo como base estudos etnológicos a respeito da sociedade Kaingang. Ethnoarchaeology of Kaingang graphic representations: a model to understand southern Proto-Jê societies
Este texto enfoca as interpenetrações entre os diferentes domínios do cosmos Kaingang, discutindo, principalmente, o papel do sistema xamânico como mediador entre esses domínios. Ao mesmo tempo, constitui-se numa tentativa de compreender a construção cultural do conceito de "natureza" da sociedade Kaingang, refletindo sobre sua concepção cosmológica dualista que enfatiza a fertilidade da junção de princípios percebidos como contrários. The present article focuses on the interrelationships between the different domains of the Kaingang cosmos. In particular, this article discusses the role of the shaman system as a mediator between these cosmic domains. The present reflection also attempts to understand how the Kaingang society culturally construes its idea of "nature," based on studies of this societies' dualistic cosmological conception, which emphasizes the fertility of uniting principles held to be in opposition
Resumo O artigo tem por objetivo refletir sobre as relações entre sistema xamânico, produção e transmissão de conhecimentos e corporalidade, a partir de uma etnografia junto a professores bilíngues da rede escolar estadual de Educação Básica do estado do Rio Grande do Sul, e junto a sábios e intelectuais indígenas kaingang. Igualmente, tenho a intenção de retomar a discussão de práticas próprias de aprendizagem, etnografadas durante os anos de 2013 a 2015, em contextos de oficinas e encontros de formação continuada de professores durante a realização da ação “Saberes Indígenas na Escola, Núcleo UFRGS”, analisando os atuais processos de escolarização em coletivos kaingang no Sul do Brasil. A partir da discussão de sua sócio-cosmo-ontologia relacional, apresento e analiso duas concepções de produção e transmissão de conhecimentos kaingang, que coexistem e estão complexamente interrelacionadas e conectadas: uma tradição cosmo-ontológica (produção e transmissão do conhecimento a partir das agências exercidas entre todos os existentes do cosmos – humanos e extra-humanos) e uma tradição oral-iconográfica, que se consolida nas ações cujo aprendizado se conforma nas práticas sociais, nos mitos, nos rituais e nas imagens, e que enfatiza a reciprocidade entre humanos, alicerçada nos saberes e fazeres dos seus anciães, sábios e intelectuais.
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