Este artigo apresenta idéias e análises que demandam aprofundamento e debate. Procuro tomar uma constatação enquanto desafio: como entender, no Brasil, a presença legitimada da religião no espaço público? Procederei tratando das formas que permitiram essa presença por meio de definições históricas que tomaram por referência universos sociais diversos. Assim, inicio com o catolicismo, passo pelo espiritismo e pelos cultos afro-brasileiros, e termino com os evangélicos. Embora esses termos correspondam aos segmentos que nos acostumamos a reconhecer no campo religioso brasileiro, a questão é exatamente saber sob qual definição de religião foi possível acolhê-los no espaço público. Essa acolhida corresponde a alguma forma de reconhecimento da religião por meio de dispositivos jurídicos que implicam o aparato e o poder de Estado e que envolvem algum grau de legitimidade social. Aposto então que as relações entre Estado e religião no Brasil ficam mais inteligíveis se adotamos essa perspectiva histórica capaz de constatar as operações que produzem modos de presença.Reforço o sentido do termo "constatação". Não se trata, em primeiro lugar, de considerar isso um "problema", como a coisa parece se tornar quando é assumida a perspectiva que interpreta a situação brasileira iluminada pelo paradigma da secularização. A constatação, nesse caso, refere-se ao fato de que certas formas de presença da religião no espaço público não foram construídas
RESUMO: Desde a segunda metade do século XIX e até a década de 1940, as práticas e doutrinas espíritas mobilizaram o pensamento médico, num duplo empreendimento intelectual e de intervenção social. O artigo aborda vários textos elaborados, neste período, por médicos (tais como Nina Rodrigues e Leonídio Ribeiro), explorando como neles é definido e analisado o espiritismo, e localizando, entre as diversas épocas, continuidades e rupturas. Na década de 1930, o espiritismo e os cultos de possessão em geral começam a ser tratados por referência a categorias sociológicas e antropológicas, sinalizando uma transformação importante no seu estatuto (Arthur Ramos é um nome chave). No artigo, esta transição é problematizada a partir da análise da categoria "higiene mental", utilizada por intelectuais durante as décadas de 1920 e 1930 e associada às discussões sobre a constituição e destinos do Brasil enquanto nação.PALAVRAS-CHAVE: medicina, espiritismo, religião, pensamento social brasileiro.
Este texto procura refletir sobre as relações entre antropologia e trabalho de campo ao propor uma releitura dos célebres esclarecimentos prestados por Bronislaw Malinowski no capítulo de abertura dos Argonautas do pacífico ocidental, livro originalmente publicado em 1922. Considerando tanto a amplitude da questão quanto a importância do escrito a ser comentado, tentarei, antes de mais nada, deixar claro o que este texto não pretende ser. Como se sabe, naquele capítu-lo, Malinowski apresenta "uma descrição dos mé-todos utilizados na coleta do material etnográfico" (1978, p. 18) referente ao "trabalho de campo" que realizou entre os nativos das Ilhas Trobriand, uma população de 1200 melanésios da costa nordeste da Nova Guiné, durante a década de 1910. Pouco tempo depois, essa apresentação passou a ter lugar paradigmático na antropologia, alçada ora a marco de uma verdadeira revolução nos referenciais teóricos e nos objetivos gerais da disciplina, ora a padrão original e exemplar em termos metodológicos. Pois bem, meu propósito não é discutir o lugar ou as contribuições de Malinowski para a antropologia, nem analisar a produção de sua pesquisa tendo como parâmetro o contexto específico ou geral em que se insere, nem me posicionar sobre a questão de se ele efetivamente criou o "trabalho de campo", nem, enfim, incursionar pelos modos pelos quais Malinowski construiu a "autoridade etnográfica de suas ficções" ou como "convenceu" seus leitores do que disse.O propósito deste texto é realizar uma leitura de Malinowski, reconhecendo assim sua centra-
O ARTIGO propõe uma discussão sobre Estado e religião considerando alguns ideais relacionados à modernidade. Fazendo a laicidade parte desses ideais, o foco é colocado sobre a relação entre religião e escola. São analisados diversos textos que se interessam por essa relação e que se envolvem com definições jurídicas e iniciativas governamentais, procurando-se um contraponto entre as situações na França e no Brasil. Da França, escolheu-se dois relatórios encomendados pelo governo, o da Comissão sobre a Laicidade (2003) e o do "ensino do fato religioso" na escola (2002). Do Brasil, privilegiou-se quatro intervenções sobre os rumos que vêm tomando a discussão acerca do ensino religioso nas escolas públicas nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
THIS ESSAY proposes a discussion about religion and the State, taking into consideration certain ideals related to Modernity. Inasmuch as laicization is part of these ideals, the focus is on the relationship between religion and the school. Several texts dealing with this relationship, with judicial definitions and with governmental initiatives are analyzed, in an attempt to establish a counterpoint between the situation in France and in Brazil. From France, we examine two reports commissioned by the government - one from the Commission on Laicity (2003) and one on the "teaching of religious facts" in schools (2002). From Brazil, we peruse four interventions on the trends of the debate on religious teaching in public schools in the states of Rio de Janeiro and São Paulo
O objetivo deste trabalho é explorar algumas das dimensões envolvidas na produção e utilização da categoria "baixo espiritismo" a partir da delimitação de seus enunciantes e de sua temporalidade. No contexto da criminalização do espiritismo pelo Código Penal de 1890, demonstra-se como uma oposição entre práticas falsa e verdadeiramente espíritas foi construída em conjunto por agentes religiosos e abordagens jornalísticas e como essa oposição se cristaliza na ação repressiva policial, feita ela mesma através da interação com grupos espíritas. O período coberto abrange toda a primeira metade do século XX, e os resultados obtidos pretendem contribuir para a elucidação dos mecanismos pelos quais se efetivaram, em meio a conflitos, a legitimação e inserção sociais de certas práticas religiosas.
This paper explores some dimensions of the production and use of the "low spiritualism" ("baixo espiritismo") category, parting from an analysis of the category’s temporality and of its users. We show how, in the context of the spiritualism outlawing by the 1890 Brazilian Penal Code, an opposition between false and truly spiritual practices was construed by both religious agents and journalistic views. This opposition is crystallized in repressive police action, an action corroborated by the interaction of spiritual religious groups. The paper analyzes the first half of the twentieth century and we hope its results can contribute with the elucidation of the mechanisms through which the social insertion and legitimization of certain religious practices took place
This article seeks to contribute to the field of studies that, inspired in debates about ethnicity, discusses the forms and components of the notion of This text presents research results related to the project "Religion and public space in three fields" (Religião e espaço público em três âmbitos), which is supported by a grant from CNPq (The National Council for Scientific and Technological Development).
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.