O artigo analisa os movimentos migratórios no Brasil, acompanhando as transformações em sua dinâmica nas últimas décadas. Os movimentos migratórios internos no Brasil, dos últimos 60 anos, estão fortemente relacionados aos processos de urbanização e de redistribuição espacial da população, marcados pela intensa mobilidade populacional. Nesse contexto, os clássicos fatores de atração e expulsão se esgotam para as explicações do fenômeno migratório. As evidências empíricas dos censos demográficos e das PNADs permitem conhecer as alterações nas tendências migratórias nacionais, revelando novas condições migratórias para diferentes estados: áreas de retenção migratória, áreas de perdas migratórias e áreas de rotatividade migratória. O século 21 anuncia a expansão dos espaços da migração no Brasil, marcados pelo crescimento de áreas de rotatividade migratória.
OResumo: Este artigo busca resgatar as tendências migratórias nacionais para o Estado de São Paulo nos anos 90, destacando a centralidade da Região Metropolitana de São Paulo. No âmbito intra-regional, são analisados os fluxos migratórios metrópole-interior, em especial nas áreas consolidadas como espaços ganhadores de população. Palavras-chave: Migração. Redistribuição da população. Urbanização. Abstract:This article seems to recover the national migratory trends for the State of São Paulo in 1990s, denoting the centrality of the São Paulo Metropolitan Area. In the intra-regional scope, the metropolis-interior migratory flows are analyzed, in special in the areas consolidated as spaces witch receive population. Key words: Migration. Redistribution of population. Urbanization. ROSANA BAENINGER SÃO PAULO E SUAS MIGRAÇÕES NO FINAL DO SÉCULO 20presente trabalho busca analisar o papel de São Paulo no contexto migratório nacional nos anos 90, bem como aprofundar aspectos da dinâmica ricas estimulam algumas interpretações teóricas que, sem abandonar a importância das transformações econômicas e suas relações com a dinâmica migratória e regional, consideram abordagens que possam ser complementares e mais voltadas para a sociologia contemporânea. ASPECTOS TEÓRICOS DA MIGRAÇÃO NAS ÚLTIMAS DÉCADASAs tendências gerais dos deslocamentos populacionais no Brasil ocorridos desde os anos 30 até a década de 70 estiveram ancoradas na enorme transferência de população do meio rural para o urbano, nas migrações com destino às fronteiras agrícolas, no fenômeno da metropolização e na acentuada concentração urbana.Na vertente da migração rural-urbana, Singer (1973) contextualizou esses movimentos migratórios no bojo do processo de industrialização em curso, onde os deslocaintra-estadual.As preocupações que permeiam o trabalho estão pautadas nas seguintes questões: houve a continuidade do processo de desconcentração populacional da metrópole de São Paulo? Qual foi o comportamento das áreas caracterizadas como de evasão populacional? Como se deu o crescimento das cidades e o crescimento da população segundo a morfologia da rede urbana paulista? Os pólos regionais continuaram sendo absorvedores de população?As tendências apontadas a seguir indicam novos arranjos migratórios no Estado: há a consolidação de determinadas áreas; a expansão da migração para regiões fora das franjas metropolitanas; ao mesmo tempo, observa-se a redefinição de espaços da migração, tanto na metrópole de São Paulo quanto no interior.1 Essas evidências empí-
Este artigo tem como principal objetivo o estudo da emigração de haitianos e haitianas para o Brasil, a partir da perspectiva teórica das migrações de crise (SIMON, 1995;CLOCHARD, 2007). Parte-se da reconstrução do panorama emigratório do Haiti até a consolidação do Brasil como espaço estratégico deste fluxo imigratório, seja como país de destino ou de trânsito (FERNANDES et al., 2014;BAENINGER; PERES, 2015). Diante do complexo cenário das migrações internacionais no país, utiliza-se o aporte de metodologias mistas (ARIZA; GANDINI, 2012) com análises de registros administrativos brasileiros e também de pesquisa de campo. O perfil sociodemográfico desses imigrantes revela especificidades importantes, como sua condição documentada a partir da concessão de vistos humanitários pelo governo brasileiro ou de solicitações de refúgio. Esta característica dos imigrantes haitianos no Brasil sustenta uma dinâmica diferenciada em relação a outros contingentes migrantes no país, como sua inserção no mercado de trabalho formal e sua migração interna. A presença haitiana no Brasil denota a complexidade do campo social da migração de crise e seus desafios na lógica internacional da emigração de países periféricos para a periferia do capital (BASSO, 2003).Palavras-chaves: Migração internacional. Migração haitiana. Migração de crise.
A publicação dos resultados amostrais do Censo Demográfico de 2000, as séries de informações consulares levantadas pelo Ministério de Relações Interiores e, principalmente, a turbulência dos primeiros anos do novo milênio constituem um estímulo propício para reflexão, balanço e reconhecimento das evidências empíricas sobre a inserção do Brasil nos movimentos internacionais de população, bem como, nesse contexto, o papel do Mercosul (Mercado Comum Sul-americano) nos deslocamentos populacionais recentes.Este texto é um desdobramento e uma atualização de pesquisas anteriores voltadas à análise das transformações e dos efeitos dos movimentos migratórios internacionais no âmbito do Mercosul. Sempre contextualizados a partir de processos macroestruturais de reestruturação produtiva e no contexto internacional da atual etapa da globalização, em suas múltiplas dimensões e desdobramentos, esses estudos também voltam-se aos possíveis efeitos da formação do bloco econômico como estratégia multilateral para fazer frente aos efeitos freqüentemente perversos do contexto contemporâneo no que diz respeito aos deslocamentos populacionais emergentes.A crescente importância das migrações internacionais no contexto da globalização tem sido objeto de um número expressivo de contribuições importantes, de caráter teórico e empírico, que atestam para sua diversidade, significados e implicações.Parte significativa desse arsenal de contribuições volta-se à reflexão das grandes transformações econômicas, sociais, políticas, demográficas e culturais em andamento no âmbito internacional, principalmente a partir dos anos de 1980. Como eixo de reflexão, situam-se as mudanças advindas do processo de reestruturação da produção, 1 o que implica em novas modalidades de mobilidade do capi-
Resumo O objetivo deste trabalho é relacionar as transformações na dinâmica urbana da Macrometrópole Paulista às novas faces de sua imigração internacional. Parte-se da hipótese de que as mudanças na divisão social do trabalho em nível global reconfiguram as formas de organização da metrópole, atribuindo novas funções econômicas a seus municípios, com alteração do perfil de seus imigrantes internacionais. Além de uma discussão teórica sobre reestruturação produtiva, metropolização e migração internacional, o artigo recupera registros administrativos de diferentes órgãos governamentais (Polícia Federal e Comitê Nacional para Refugiados) que reforçam a mudança no perfil da imigração internacional nessa espacialidade. Na análise desses novos fluxos, destacam-se o processo de substituição da população e a produção de novas paisagens étnicas nesses territórios.
IntroduçãoAo longo dos últimos cinqüenta anos do século XX, as migrações internas reorganizaram a população no território nacional, onde as vertentes da industrialização e das fronteiras agrícolas constituíram os eixos da dinâmica da distribuição espacial da população no âmbito interestadual, muito embora a primeira vertente detivesse os fluxos mais volumosos.Nesse sentido, as análises a respeito do processo de distribuição espacial da população nos anos 70 2 , e até mesmo durante a década de 80, estiveram baseadas e preocupadas em apontar o crescente e intenso movimento de concentração: a) da migração, com a predominância do fluxo para o Sudeste; b) do processo de urbanização, com a enorme transferência de população do campo para a cidade, quando cerca de 30 milhões deixaram as áreas rurais (Martine, 1994); e, c) da concentração da população, manifestada no processo de metropolização.De fato, essas características representaram e compuseram a sociedade urbano-industrial brasileira (Faria, 1991), com a
Resumo Nos últimos anos, transformações na divisão internacional do trabalho têm promovido repercussões na dinâmica das migrações internacionais, como a emergência das migrações Sul Sul. Neste sentido, a cidade de São Paulo tem se consolidado como destino para muitos novos imigrantes internacionais e solicitantes de refúgio. Este artigo tem por objetivo analisar a inserção social de imigrantes haitianos e bolivianos em São Paulo. A metodologia contempla revisão teórica sobre migrações contemporâneas e território, bem como trabalho de campo de natureza qualitativa nos espaços sociais da capital paulista com maior presença de trabalhadores imigrantes destas nacionalidades.
RESUMOA emigração haitiana não é um processo novo (CASTOR, 1978;COTINGUIBA, 2014): iniciada ainda no final do século XIX, quando se dirige especialmente a Cuba e República Dominicana, ela se orienta, já na segunda metade do século XX, a países como Estados Unidos, Canadá e França. Estes processos históricos de emigração internacional possuem particularidades, não apenas quanto às razões da migração como também no que se refere aos fluxos e suas principais características. No entanto, a emigração haitiana passa, atualmente, por uma transformação: a crise capitalista pós-2008 (MAGALHÃES e BAENINGER, 2014) repercutiu diretamente nos níveis de emprego, salário e poupança, em países constituídos como destinos tradicionais da emigração haitiana (França e Estados Unidos, especialmente), o que trouxe duas consequências importantes. A primeira, o fortalecimento do sentimento e da prática xenófobos, em razão das restrições no mercado de trabalho e a apropriação disto por setores conservadores, intensificando com isto a seletividade migratória nestes países (MAGALHÃES e BAENINGER, 2014). A segunda, também decorrente destas restrições no mercado de trabalho, foi a diminuição do nível de remessas de migrantes, o que provocou rápido contágio da crise em países dependentes de remessas, como o Haiti (CEPAL, 2009). Diante destas dificuldades (econômicas, políticas e sociais), a migração haitiana teve de reorientar-se, ou seja, encontrar novos países de destinos (FERNANDES, MILESI e FARIAS, 2011). Neste momento, o Brasil passava por um ciclo expansivo em sua economia, implementando medidas anticíclicas de promoção do consumo e de construção de obras públicas -inclusive para a realização de grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. De igual modo, o Brasil estava presente também no Haiti, seja militarmente, coordenando a Missão da ONU para Estabilização da Paz no país (LUCE, 2011; PATARRA, 2012), seja economicamente, através de um sem-número de empreiteiras operando inicialmente a construção de estradas e portos e, após o Terremoto de Janeiro de 2010, a reconstrução do país (SEGUY, 2014). Estes fatores inseriram o Brasil no rol dos destinos da emigração haitiana, ainda no final do ano de 2010 (MAGALHÃES e BAENINGER, 2014). O entendimento da presença haitiana no Brasil exige um conjunto de esforços teóricos e metodológicos. No que concerne aos esforços teóricos, há de se considerar que a emigração haitiana é um processo histórico de longa duração, que envolve desde o final do século XIX um conjunto de países, sob diversas condições sociais e políticas vigentes no Haiti (CASTOR, 1978). Explicações como a de uma migração originada por conta exclusiva do terremoto devem ser, portanto, questionadas (SEGUY, 2014;COTINGUIBA, 2014). De igual modo, a presença haitiana no Brasil requer, metodologicamente, utilização de outras fontes de dados (FERNANDES, 2014), visto que o último Censo Demográfico brasileiro deu-se antes da chegada massiva destes imigrantes. Registros como o do Mini...
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