Resumo A lógica da produção e de descarte de resíduos sólidos é expressão das mais perversas e paradoxais da desigual distribuição de poder no capitalismo. Estigmatiza com a ideia de “atraso”, de “indesejáveis”, indivíduos e lugares “descartáveis”, que recebem os resíduos e os riscos a eles associados que a sociedade de consumo produz. Ancorado em pesquisa documental e bibliográfica e em entrevistas abertas com moradores e ativistas envolvidos na luta pela retirada do Lixão de Marituba, como é conhecido o irregular e polêmico aterro da Região Metropolitana de Belém, este artigo focaliza e discute o caso – emblemático como cena colonial na contemporânea Amazônia urbana – a partir dos marcos da ecologia política e das noções de justiça ambiental, colonialidades, racismo e necropoder.
Partindo do movimento “#Belém 400 anos sob o olhar do gueto: a periferia atenta”, protagonizado por atores sociais de bairros periféricos da cidade, o artigo discute a recusa, por parte desses atores, de imagens estigmatizantes disseminadas pela mídia em torno deles e dos lugares onde vivem. Os dados colhidos pela pesquisa, aliada à ação de extensão, revelam uma permanente disputa entre as formas de autorrepresentação de sujeitos excluídos da ordem urbana e as representações midiáticas.
O presente trabalho busca compreender de que maneira os moradores do bairro da Terra Firme, na periferia de Belém, capital do Estado do Pará apreendem a narrativa do minidocumentário “Poderia ter sido você”, produzido pelo coletivo de mídia alternativa Tela Firme, após a chacina em 2014. O vídeo tece uma contranarrativa, ao recriar uma realidade partilhada de maneira trágica pelos moradores, buscando despertar neles identificação, em contraste com a representação hegemônica e estigmatizante do bairro e de seus moradores, que circulou massivamente no discurso midiático à época da chacina. O minidocumentário se insere em um vigoroso movimento de produção audiovisual surgido nas periferias brasileiras desde a década passada, que ultrapassa a dimensão artística e assume contornos políticos, em que a autorrepresentação desponta como uma ideia central. Essas produções buscam restituir a fala historicamente negada a esta parcela da população no espaço público. A pesquisa tem como ponto de partida a dimensão intersubjetiva da experiência na produção de sentidos nesse contexto de violência urbana. De natureza qualitativa, a pesquisa alia a observação participante, sob uma perspectiva autoetnográfica e entrevistas com moradores do bairro, membros do coletivo que produziu o vídeo e mães de jovens assassinados na chacina. Investigou-se até que ponto estes sujeitos se reconhecem e veem sua realidade projetada na narrativa do minidocumentário e se ela consegue deslocar o olhar que têm de si próprios, na contramão das representações hegemônicas do discurso midiático. Logo, o que se percebeu é que a produção audiovisual do “Poderia ter sido você” se destaca como instrumento de produção e posicionamentos discursivos do Coletivo Tela Firme diante das chacinas ocorridas nas periferias de Belém em 2014, em que os moradores se reconhecem.
Baseado em pesquisa de baseantropológica com jovens urbanosda Região Metropolitana de Belém,no norte do Brasil, o artigo propõe-sea discutir a redefinição de fronteirasentre o público, o privado e o íntimonas trocas comunicativas e narrativasvirtuais juvenis nas redes sociais dainternet. Os dados de campo revelamque, diferentemente das delimitaçõesmais claras entre os âmbitos públicoe privado da vida que marcaram amodernidade, contemporaneamente oslimites entre eles tornaram-se vagose ambíguos. A vida on-line, lugar depertencimento fundamental no cotidianode jovens, em que é permanente oconvite à autoexposição, interpenetrasecom a vida off-line. Valendo-se dasformulações de Leonor Arfuch (2005)e Rosalía Winocur (2011, 2012), oartigo postula que é possível discernirdois níveis da intimidade juvenil –a intimidade pública e a intimidadeprivada. O íntimo é o não comunicável,associado ao lugar próprio, tanto físicacomo simbolicamente falando; o públicoé o que se dá a mostrar, e pode estartanto dentro como fora da casa.
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