Resumo Ainda que a articulação entre corpo, saúde e contexto político-econômico seja extremamente complexa e mediada por processos heterogêneos, é possível problematizar o discurso produzido pela mídia sobre corpo e saúde. Este estudo teve por objetivo apresentar algumas reflexões sobre os discursos e práticas contemporâneos acerca da saúde, com enfoque nos aspectos corporais e na relação entre estética corporal e bem-estar do indivíduo. A linha argumentativa desenvolvida preconiza que, na rede discursiva que se propaga pelas grandes mídias, cria-se uma concepção de saúde intimamente atrelada ao mercado de consumo. Neste ensaio, alguns discursos midiáticos sobre saúde são analisados, tendo em vista compreender aspectos do mercado simbólico que se organiza calcado nos signos-saúde. A construção do “corpo saudável” é tematizada e problematizada por meio do percurso teórico empreendido. No novo ideal apolíneo emergente na contemporaneidade, o corpo é um objeto moldável a ser cultivado por meio de dietas e hábitos alimentares espartanos, educado em sessões exaustivas de exercícios físicos, modelado por substâncias anabolizantes, corrigido por cirurgias plásticas com finalidade estética e regulado por padrões socioculturais que almejam alcançar a imortalidade mascarada no mito da eterna juventude. Para aprimorar os cuidados em saúde, os profissionais devem compreender as transformações que incidem na imagem do corpo que tem sido valorizada na era contemporânea.
Resumo O presente estudo teve como objetivo analisar evidências de validade de uma versão brasileira da Fear of COVID-19 Scale (FCV-19S), com base em indicadores concernentes: (1) à estrutura interna; (2) à consistência interna; (3) à relação com variáveis externas; e (4) ao conteúdo. Procedeu-se a adaptação cultural do instrumento, com foco em aspectos semânticos e linguísticos próprios do Brasil. A seguir, esta versão brasileira da FCV-19S foi aplicada, em um ambiente virtual, em 211 participantes (72,98% do sexo feminino), com idade média de 37,07 anos (DP=13,03), juntamente com o Questionário de Autopercepção de Saúde Mental em Pandemia e o Questionário Sociodemográfico e Funcional. A análise fatorial confirmatória atestou unidimensionalidade. Os índices de consistência interna obtidos (alfa de Cronbach =0,921; ômega de McDonald =0,926) podem ser considerados elevados. Constatou-se correlação estatisticamente significativa entre medo e pensamento obsessivo, ansiedade generalizada, estresse generalizado, comportamento fóbico-evitativo e vivência de luto pela pandemia. As evidências de validade relativas ao conteúdo, oriundas de uma abordagem qualitativa, foram satisfatórias. Conclui-se que esta versão brasileira da FCV-19S mostrou-se adequada quanto às evidências de validade contempladas.
Este estudo teve como objetivo estabelecer um panorama da produção científica nacional relativa à Educação Interprofissional em Saúde (EIP), com ênfase nas pesquisas desenvolvidas junto a pós-graduandos ou profissionais de saúde ao longo de uma década (2008-2018). Trata-se de uma revisão integrativa realizada mediante consultas às bases de dados MEDLINE, LILACS, SciELO-Brasil e Scopus. Compuseram o corpus de análise 31 referências, as quais foram examinadas segundo um conjunto de dimensões analíticas. Evidenciou-se que as referências se concentram nos últimos cinco anos e, predominantemente, foram assinadas por pesquisadores vinculados a universidades públicas, derivam de pesquisas qualitativas voltadas à prática interprofissional e tiveram como participantes profissionais de saúde inseridos em serviços de atenção primária. Conclui-se que o fortalecimento da EIP no país se afigura como um importante caminho a ser percorrido no sentido da integralidade das ações e dos serviços de saúde, e que novas pesquisas são necessárias para tanto.
Resumo O estudo teve por objetivo compreender crenças e emoções acerca do usuário com diagnóstico de esquizofrenia vigentes no imaginário coletivo de enfermeiros inseridos na Atenção Primária à Saúde. Trata-se de estudo de abordagem qualitativa pautado pelo método investigativo psicanalítico. Os participantes foram 15 enfermeiros que atuavam no referido nível de atenção em saúde de uma cidade de médio porte. A coleta de dados foi realizada com o emprego do Procedimento de Desenho-Estória com Tema (PDE-T) e a análise de dados buscou captar campos de sentido mediante a execução dos movimentos técnicos preconizados para a operacionalização do método investigativo psicanalítico. Verificou-se que, de modo não-consciente, o usuário com diagnóstico de esquizofrenia é representado negativamente no imaginário coletivo dos participantes, pois é visto como alguém inconveniente, que cria alvoroço e desperta medo, sobretudo devido à sua “agitação” supostamente típica. Assim, deparar-se com tal usuário corresponde, para os participantes, a uma situação a ser “resolvida” com rapidez. Este estudo, portanto, demarca dificuldades no tocante à atenção em saúde mental oferecida ao usuário com diagnóstico de esquizofrenia, as quais estão relacionadas a elementos não-conscientes da subjetividade grupal que, ao mesmo tempo, possuem caráter social e individual.
Resumo Como reflexo da reconfiguração da assistência em saúde mental proporcionada pela Reforma Psiquiátrica Brasileira, as oficinas terapêuticas vieram a se tornar, gradativamente, um dos principais dispositivos de tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Porém, poucos estudos dedicados ao assunto elegeram como participantes profissionais de saúde responsáveis por oficinas terapêuticas. O presente estudo teve como objetivo compreender as concepções de um grupo de profissionais de saúde que coordenavam oficinas terapêuticas em Caps a respeito de tal prática. Trata-se de um estudo clínico-qualitativo, do qual participaram 12 profissionais de saúde que conduziam - à época da coleta de dados - oficinas terapêuticas em Caps de uma cidade do interior de Minas Gerais. A coleta de dados envolveu o recurso a uma entrevista semiestruturada e a um diário de campo. A análise de conteúdo foi a técnica aplicada ao corpus e levou à organização dos resultados em um conjunto de categorias e subcategorias. Nesta oportunidade, foram contempladas duas subcategorias, que abarcaram concepções sobre os objetivos e as especificidades das oficinas terapêuticas, e uma categoria, a qual tratou das concepções sobre a (não) adesão à referida prática. Em linhas gerais, os resultados revelam tanto aproximações quanto distanciamentos entre as concepções das participantes e a lógica do cuidado psicossocial preconizada pela Reforma Psiquiátrica Brasileira. Logo, o presente estudo reforça a necessidade de se fazer das oficinas terapêuticas objeto de reflexão permanente para que tal dispositivo de tratamento não venha a ser desfigurado.
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