IntroduçãoOs grupos que deram sustentação ao golpe de 1964 compunham frente heterogênea, representando diferenças tanto de origem social (empresários, militares, classes médias, religiosos) quanto ideológica (conservadores, liberais, nacionalistas de direita). Dada essa heterogeneidade teria sido difícil reunir coalizão tão ampla em torno de programa afirmativo. Eles se uniram para lutar contra inimigo comum, para barrar processo de crescimento das esquerdas que parecia ameaçar o status quo, mas não tinham programa de governo coeso. Havia projetos diferentes entre os vencedores de 1964, o único ponto consensual era o propósito de expurgar as esquerdas, particularmente os comunistas, embora a definição sobre comunismo fosse elástica e imprecisa.O tema das reformas de base (agrária, bancária, universitária etc.) polarizou o debate político entre 1961 e 1964, mas é equivocado ver nos golpistas coligação anti-reformista radical. Parte do grupo golpista era totalmente contrária às reformas sociais, notadamente a agrária, mas algumas lideranças do movimento de 1964 as aceitavam e defendiam, principalmente empresários modernos e elites influenciadas pelos EUA, 1 embora o tipo de reformas sociais que tinham em mente não coincidisse com os projetos das esquerdas. Em suas campanhas anteriores ao golpe, tais grupos defenderam reformas "cristãs e democráticas", o que era, em parte, estratégia para esvaziar o discurso das esquerdas e do governo João Goulart, tomando posse de bandeiras de grande aceitação social. Porém, alguns dos vitoriosos de 1964 não encaravam as reformas como mero artifício retórico e sua disposição de levá-las à frente causou fissuras na coalizão golpista.Primeiro presidente do ciclo militar, o general Castelo Branco patrocinou ensaio de reforma agrária com a edição do Estatuto da Terra e de