Acontecimentos sociais e políticos, nacionais e internacionais, têm abalado nosso cotidiano. Conquistas que pareciam sedimentadas na direção da democracia e nos temas relativos aos direitos humanos, conquistas sociais e considerações éticas na vida política, têm sido substituídas por chavões e discursos de ódio, racismo e xenofobia sob a lógica da guerra. Desse modo, têm sido enfrentados fluxos massivos de imigrantes, frutos de guerras e violências, atentados terroristas e uma tensão cotidiana em que o debate localiza no outro o perigo: generaliza-se a figura do terrorista. Vamos propor um deslocamento da lógica da guerra a fim de dialogar sobre a queda dos ideais e das ilusões e as dificuldades de traçar direções para o futuro. Vamos apontar o imbricado enlace entre ética do desejo, política e resistência à instrumentação social do gozo. Entendemos que perder um ideal é diferente de perder uma ilusão, crença ou delírio. A descrença, a desilusão, tem seus efeitos – um deles é agarrar-se à fantasia delirante. A idealização é um processo que envolve o engrandecimento e superestimação do objeto, não dizendo respeito ao ideal. A aflição psíquica nomeada “desilusão” estende-se dos ideais culturais (no plano do ideal-do-Eu) às expectativas do Eu (plano do Eu-ideal). Essa questão nos alerta para o encobrimento de outra ilusão, de autoengendramento, de poder superar a dependência simbólica ao Outro. Diferenciar esses termos nos permite apontar o imbricado enlace entre ética do desejo, política e a resistência à instrumentação social do gozo. Quanto à posição da psicanálise, retomaremos a frase de Lacan em Ciência e verdade (1966/1998): “Por nossa posição de sujeito somos sempre responsáveis. Que chamem a isto como quiserem, terrorismo”.
O presente artigo aborda os aspectos políticos da história da Redução de Danos no Brasil, bem como algumas especificidades de sua prática, a saber, a escuta em meio a troca de insumos e as estratégias de vinculação e acolhimento no território. Destacamos o período de maior reflorescimento da Redução de Danos no Brasil, a partir dos anos de 2010, quando uma série de políticas públicas em diversos âmbitos começam a articular respostas ao clamor pelo combate ao crack, e às cenas de uso em diferentes capitais do Brasil. É nesse contexto que apontamos para a circulação de teorias oriundas da psicanálise por meio dos Redutores de Danos e apoiadores, possibilitando a aplicação e atualização de referenciais teóricos nos encontros que acontecem no território. Por fim, apontamos a importância de se poder lançar mão de uma escuta clínica, operando uma diferença entre queixa e demanda na escuta dos usuários atendidos, de modo a possibilitar uma prática de cuidado com um refinamento subjacente, assim como formas de encaminhamento mais precisas.
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