This article discusses aspects of culture-nature relations among indigenous groups in Southern Brazil. Based on the ethnography of Kaingang groups in the state of Santa Catarina, conceptions of culture and nature are considered taking into account the relationship between politics and cosmology. More specifically, this article focuses on the analysis of two different kinds of ethnographic sources, namely: the historical processes of recovery of indigenous lands; and, the references to nature expressed in mythological narratives and ritual processes. Indeed, in the recent history of the Kaingang, the struggle for "indigenous tradition" has triggered scenes and scenarios from the past. These scenarios not only involve inter-ethnic resistance, but also specific notions of nature, culture and environmental recovery. In summary, this article argues that the link between political and cosmological conceptions forms the very basis of the indigenous perspective concerning their territorial and environmental rights.
Este artigo apresenta a análise sobre a participação dos Kaingang da Terra Indígena Ivaí nas eleições de 2004 no município de Manoel Ribas (Paraná). Nestas eleições as coligações partidárias foram representadas pela disputa entre o "15" e o "23". Entre os indígenas as tensões faccionais acompanharam todo o processo eleitoral, o que implicou transformações em seu ordenamento político. Acompanhando a teoria antropológica, este artigo discute as condições culturalmente específicas envolvidas nos regimes de trocas kaingang, conduzindo a questionamentos sobre as definições nativas de domínio público. Para tanto, são confrontados aspectos da organização social e dimensões classificatórias da experiência sócio-política dos Kaingang do Ivaí.
This article presents an overview of Kaingang ethnic territorialization processes in Southern Brazil. Based on historical and ethnographic data, this article analyzes tensions found in the agencyings of territories, emphasizing the resistance of the Kaingang in face of impositions from colonization. The analysis focuses on the different periods of colonial expansion, highlighting the processes of territorial expropriation, conflicts, struggles and negotiations between the Kaingang and different agents of the state. The main objective is to broaden the debates about the importance of the ethnic territories in southern Brazil, based on an appreciation of the perspective of the Kaingang about the processes of territorial confinement and their “retakings” of territories in the past forty years.
ENTREVISTA Edilene Coffaci de Lima Maria Inês Smiljanic Ricardo Cid Fernandes UFPRCampos 9(2):139-157, 2008. Uma Antropologia Engajada: entrevista com Terence TurnerNo começo dos anos 1960, Terence Turner chegava ao Brasil e começava sua carreira como antropólogo. À procura de inteirar-se da antropologia local e em busca do domínio da língua portuguesa, freqüentou o Curso de Especialização em Antropologia Social, organizado por Roberto Cardoso de Oliveira, então oferecido no Museu Nacional/UFRJ. De lá foi aos Kayapó, para onde, de tempos em tempos, sempre volta.A entrevista aconteceu em Curitiba, em 18 de outubro de 2007, após a apresentação da palestra intitulada "Humanidade, forma e objetivação na consciência social Kayapó", no PPGAS/UFPR, e foi concedida em português. Na primeira metade de 2009, a partir de uma intensa correspondência eletrônica, a entrevista foi editada e preparada para publicação com sua participação direta. Nela Terence Turner se declara um "privilegiado" por ter testemunhado e documentado a ascensão política dos Kayapó, que resultou na demarcação de suas terras. Também reconstrói parte de sua trajetória acadêmica e, principalmente, concentra-se nas bases conceituais que motivam seu exercício intelectual. Aposentado como professor pela Universidade de Chicago, hoje Terence Turner ensina e pesquisa na Universidade de Cornell. Campos: Como o senhor ingressou na Antropologia?Terence Turner: Foi um processo de eliminação. Eu saí do exército procurando algo que valesse a pena fazer na vida. Eu tinha feito, na graduação, História Moderna Européia. Então pensei que uma carreira acadêmica, como professor de uma faculdade, talvez fosse uma boa escolha. Fiz o pedido de ingresso na Universidade da Califórnia (Berkeley) em História Moderna Européia, e fiz uma especialidade em História da França da Terceira República, as políticas sócio-econômicas etc. Passei um ano em Berkeley estudando história. Isso foi em 1958-59. Naquela época, nos Estados Unidos, a abordagem da história era muito positivista, muito concentrada em estudos quantitativos, não tratava muito da dimensão cultural. Eu fiquei meio insatisfeito com as limitações metodológicas e teóricas da história. Mas, dentro das ciências sociais, a sociologia era ainda mais quantitativa e positivista, e desligada de questões de interpretação cultural. Toda a perspectiva marxista foi excluída naquela Entr evis ta 140 ENTREVISTA Edilene Coffaci de Lima, Maria Inês Smiljanic, Ricardo Cid Fernandes época. Então, as alternativas não eram muito atraentes. Por um processo de eliminação acabei na antropologia. Eu nunca havia feito antropologia em cursos; tinha lido um pouco, mas não sistematicamente. Decidi me transferir de volta para minha universidade de graduação, que era Harvard (em Cambridge, Massachusetts), e entrar no programa de antropologia -que na época fazia parte do departamento de "Relações Sociais", que combinava sociologia (Talcott Parsons foi o grande sociólogo de Harvard na época), psicologia social e individual, e antropologia. Inicialmente p...
Os Kaingang querem desenvolver projetos hidrelétricos. Eles querem autorizar e ter participação nos lucros de pequenas centrais hidrelétricas a serem instaladas nos rios que banham suas terras. Estranho! Então é bom repetir: os Kaingang querem desenvolver projetos hidrelétricos! Analisar este enunciado é o objetivo desta comunicação. Quem, quando, como e por quê? Em que contexto surgem estas manifestações? Quais argumentos são empregados em defesa destes projetos? Como projetos hidrelétricos estão inseridos no contexto indígena? São estas questões que minha comunicação pretende abordar. São comentários ainda pouco analisados sobre a inserção de indígenas em processos de desenvolvimento a partir de considerações etnográficas. Mais que tudo, um relato, que pretende alimentar o debate.Em primeiro lugar "quem". Este enunciado -autorização e participação em PCHs -é parte de um recorte etnográfico específico, a saber: as manifestações recentes de lideranças das terras indígenas Xapecó e Toldo Chimbangue, ambas localizadas no oeste do estado de Santa Catarina. Não se trata, portanto, de uma expressão que diga respeito aos mais de trinta mil kaingang, que vivem atualmente distribuídos pelas terras indígenas ou pelas cidades no sul do Brasil. Não se trata, tampouco, de uma expressão de todos os indígenas, mas de algumas lideranças que são por vezes apoiadas e por vezes contestadas pelas próprias comunidades.Foi na Terra Indígena Xapecó, em 2002, que registrei pela primeira vez este tipo de manifestação. Durante uma palestra na escola indígena, "quando" estava em discussão a Agenda 21, o cacique, ao fazer a fala de encerramento, afirmou que estava em negociação com empreendedores do Canadá para construir uma barragem na Terra Indígena. Aquelas palavras agitaram o público presente, majoritariamente composto por alunos, professores e lideranças. Antes que a conversa entre os presentes tomasse conta do auditório, o cacique falou que a negociação já estava avançada e que os Kaingang iriam receber mais de um milhão e meio de Reais com a construção da barragem no rio Chapecozinho. Ele explicou "como" seria o
Como atividade transversal e complementar às Reuniões, Comitês e Comissões da ABA, este Fórum tem como um de seus objetivos a integração de antropólogos, acadêmicos e profissionais em torno das discussões sobre as transformações implicadas no contexto dos grandes projetos de desenvolvimento. Busca-se, desta forma, qualificar e multiplicar as discussões sobre o desenvolvimento na antropologia brasileira, problematizando a própria noção de "projeto de desenvolvimento", seus modos de efetuação e as consequências reais de seu funcionamento em contextos pré-determinados por uma geopolítica do desequilíbrio.O Seminário Antropologia e Desenvolvimento, localmente organizado pelos professores Ricardo Cid Fernandes e Edilene Coffaci de Lima, incluiu comunicações sobre as populações das regiões dos rios São Francisco, Tocantins, Xingu, Jequitinhonha, Uruguai, Tibagy, região de fronteira Brasil-Peru, grupos indígenas Guarani, Kaingang, Katukina, além de considerações teóricas sobre o próprio conceito de desenvolvimento e suas implicações. Um panorama bastante amplo (ver programação abaixo), necessariamente incompleto, mas profundamente estimulante, no qual a antropologia é projetada para o centro de um complexo cenário de disputas entre saberes e atuações políticas envolvendo populações, direitos, projetos de futuro e acesso a tradições.A publicação deste dossiê registra cinco destas comunicações, que contemplam cada uma das mesas do evento e, em conjunto, traduzem o rico debate promovido entre professores,
Em 2018, os Kaingang da TI Queimadas (Ortigueira/PR) realizavam ampla mobilização, ocupando uma área que havia sido retirada deles há mais de 70 anos. Em retomada, acampamentos eram levantados e casas ocupadas, visando à acomodação, à pernoite e às refeições. Ainda, um contingente significativo de indígenas se encontrava em fluxo e refluxo diários entre a sede da Terra Indígena e a área de retomada. Trata-se de contexto aqui analisado no recorte etnológico da guerra: na produção de coletivos e de lideranças/ chefes. Abordamos, assim, o cotidiano da guerra nesse acampamento de retomada a partir de dois eixos principais: pronunciamentos e registros audiovisuais pautados por duas lideranças indígenas principais, nos quais emergem “chefes”, “povo”, “a gente” e não indígenas; e os fogos dos acampamentos, nos quais se opera a distribuição de comida e a comensalidade. A partir desses referenciais, visamos à contribuição sobre a configuração de coletivos e lideranças/chefes entre os Kaingang, haja vista a relevância da guerra.
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