O presente artigo busca analisar a recepção crítica de duas narrativas de José J. Veiga: o conto “A Usina Atrás do Morro”, presente no livro Os Cavalinhos de Platiplanto (1959), e o primeiro romance do escritor, A Hora dos Ruminantes (1966). Ainda que com temáticas semelhantes e publicados em espaços de tempo relativamente próximos, esses escritos recebem leituras marcadamente diversas: enquanto associa-se o primeiro ao “absurdo” e ao “fantástico” de matrizes kafkianas, toma-se o segundo, majoritariamente como uma alegoria política. Com o objetivo de examinar diferentes matizes de tais interpretações divergentes, mobilizam-se dados relativos ao contexto histórico e editorial de ambos os textos, tomando-se como referência, sobretudo, trabalhos de Chartier e Hallewell. Em linhas gerais, os dois pesquisadores corroboram e municiam, cada um à sua maneira, uma perspectiva articulada de estudo da literatura que, para além de investigar elementos intrínsecos às obras, busca compreender os processos que permeiam a composição, circulação e recepção destas enquanto livros.
Esse artigo visa apresentar duas concepções que apresentam possíveis encontros na análise da narrativa do escritor brasileiro José J. Veiga. Primeiramente, demonstraremos como se desenvolve uma das teorias de análise contemporâneas do fantástico na literatura sob a perspectiva do professor David Roas (2011, 2014). A seguir, através do estudo da obra do filósofo e escritor argelino Albert Camus, em especial seu livro O mito de Sísifo (2019), iremos apontar em linhas gerais as características mais discutidas da chamada filosofia do absurdo defendida pelo escritor. A partir dessas comparações iremos apontar as semelhanças entre os estudos filosóficos de Camus e a teoria da literatura fantástica desenvolvida por Roas e apontar como ambas apresentam pontos de intersecção na literatura do autor brasileiro José J. Veiga, em especial em dois de seus contos “O galo impertinente” e “ Onde andam os didangos?”, ambos do livro A estranha máquina extraviada (2010), conduzindo a uma leitura fantástica-absurda da obra do autor em conexão com uma possível ontologia de mundo.
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