RESUMO: O termo "pesquisa de campo" é normalmente empregado na Psicologia Social para descrever um tipo de pesquisa feito nos lugares da vida cotidiana e fora do laboratório ou da sala de entrevista. Nesta ótica, o pesquisador ou pesquisadora vai ao campo para coletar dados que serão depois analisados utilizando uma variedade de métodos tanto para a coleta quanto para a análise. Neste texto, relatamos as conclusões iniciais de uma série de discussões sobre pesquisas de campo feita numa perspectiva pós-construcionista. Partindo das dificuldades provocadas por uma noção de campo fisicamente determinada, a discussão retoma a perspectiva de Kurt Lewin sobre o campo como totalidade de fatos psicológicos, para depois se aproximar das propostas de Ian Hacking sobre "matriz" e a discussão mais ampla sobre materialidades. A conseqüência desta reflexão foi a proposição de um "campo-tema" onde o campo não é mais um lugar específico, mas se refere à processualidade de temas situados. O texto conclui com uma discussão sobre algumas implicações desta proposta para o processo de pesquisa e para as práticas narrativas usadas para relatar as suas conclusões. PALAVRAS-CHAVE: pesquisa de campo, teoria de campo, perspectivas construcionistas, campo-tema 1 Este trabalho foi organizado e elaborado a partir das discussões semanais do Núcleo de Organizações e Ação Social -PUC-SP durante o segundo semestre de 2002. Participaram ativamente destes debates:
RESUMO: Partindo da proposta de que o cotidiano é tudo que temos, de que só há lugares e micro-lugares entendidos enquanto pequenas seqüências de eventos e nada mais além disso, o trabalho aprofunda suas conseqüências para a pesquisa em psicologia social focalizando não somente os lugares e suas re-descrições mas também o reposicionamento do pesquisador no cotidiano como somente um entre muitos membros competentes de uma comunidade moral, que busca argüir e agir para melhorias, tal como também fazem as outras.PALAVRAS-CHAVES: Cotidiano; micro-lugares; verdades; sentidos. THE CONVERSING RESEARCHER IN EVERYDAY LIFEABSTRACT: This paper examines the implications for social psychology of the proposal that the day-to-day is all we have, that there are only places and micro-places understood as small sequences of events and nothing more and goes on to look at the implications for the researcher in everyday life seen as simply yet another competent member of a moral community.KEYWORDS: Everyday; micro-places; truth, meaning.Chiang Yee, escritor chinês e excelente narrador de contos, passou o período de espera no início da segunda guerra mundial na Inglaterra e documentava suas observações no livro 'The silent traveller in war time' [O viajante silencioso em tempos de guerra, 1939]. Um dos contos era sobre os residentes de Londres no verão do 'vai -não vai' quando, na antecipação daquilo que poderia vir (e lembrando a primeira guerra mundial), mascaras de proteção contra gás foram distribuídas para toda a população em pequenas caixas de papelão que as pessoas carregavam para onde fossem. Acompanhava o texto o desenho de um escriturário, num daqueles dias raros e bonitos de verão inglês quando a temperatura sobe para mais de 18 graus centígrados, esticado na grama de um parque no centro da cidade, vestido de camisa e gravata, com o paletó dobrado cuidadosamente a seu lado e com os braços atrás da cabeça para servir de travesseiro -tomando seu banho de sol usando sua mascara de gás.O que é o cotidiano? Será que a expressão se refere a algo simplesmente mundano, uma parte corriqueira e irrelevante da vida, separada e distinta dos acontecimentos importantes ou, ao contrário, o cotidiano é tudo que temos? Argumentamos que todos vivem no seu cotidiano sejam eles presidentes, prefeitos, reis e rainhas, chefes, escriturários, moradores de rua ou qualquer um de nós. Podemos, no jogo dos sentidos, valorizar o cotidiano de alguém como sendo importante no sentido institucional; mas esta é uma questão diferente. Ao contrário, propomos que todos nós, independentemente de onde estamos e quem somos, acordamos pela manhã e entramos no dia que temos pela frente; dia este que nada mais é que um fluxo de fragmentos corriqueiros e de acontecimentos em micro-lugares.
A expressão "um trabalho decente por um salário decente" fez parte importante das lutas operárias durante grande parte do século XX para um emprego digno, salariado e protegido. Essa mesma expressão foi recentemente assimilada pela Organização Internacional de Trabalho (OIT) como parte central de sua campanha para melhorias nas condições de trabalho. Ninguém disputaria a importância da luta dos trabalhadores em situação de emprego para uma melhoria nas suas condições. Mas, quais são as lutas das pessoas "invisibilizadas" que trabalham no imenso cotidiano das práticas informais, nas tentativas solidárias de criar outras inserções econômicas, de inserir a sua produção em relações econômicas perversas? Se a (grande) maioria das teorias elaboradas no século XX sobre trabalho focaliza como pressuposto básico o universo do trabalho formal, salariado e protegido, quais são os conceitos, práticas e teorias que poderiam apoiar e orientar as ações daquelas pessoas e suas organizações coletivas que buscam assumir o desafio de um outro desenvolvimento a partir das possibilidades do cotidiano e de uma compreensão mais coletiva de dignidade e de cidadania? O que é "trabalho decente" no mundo das micro cadeias produtivas e da nanoeconomia?Palavras-chave: Trabalho decente, Nanoeconomia, Alternativas possíveis. Micro productive chains and the nanoeconomy: rethinking decent workThe expression "a decent job for a decent pay" was an important part of the trades union struggles during much of the twentieth century for proper working conditions, a fair salary and dignity in the workplace. The same expression (decent work) was recently adopted by the International Labor Organization (ILO) as part of its campaign for improved working conditions. Nobody would dispute the importance of improving working conditions for those in employment. But what are the struggles of those many other "invisible" people who work in the immense day to day of informal practices, in the attempts to create more collective economic alternatives, or to have their products accepted in settings of perverse economic relations? If the great majority of theories of work elaborated in the twentieth century focus, as a basic assumption, formal salaried employment, what are the concepts, practices and theories that could support and give direction to the actions of those people and their collective organizations who seek another possibility of development using everyday opportunities and a more collective understanding of citizenship? What is "decent work" in the world of micro-productive chains and the nanoeconomy? Keywords: Decent work, Nanoeconomy, Possible alternatives. Introduçãoexpressão "um trabalho decente por um salário decente" fez parte das lutas e conversas operárias durante grande parte do século XX. Simbolizava uma inserção justa em um mundo caracterizado pelo emprego salariado e protegido. Foi o foco implícito e explícito da maioria das principais teorias da psicologia organizacional e do trabalho nos países centrais. Questões sobre salário, condições d...
A construção do poder local, a disputa pelos arranjos de governança dos espaços dentro dos quais se organiza a vida de muitas pessoas, é um longo processo sócio-histórico. No Brasil, estimuladas pelos avanços da Constituição de 1988, expressões como orçamento participativo, inversão de prioridades, gestão democrática e governo popular, usadas inicialmente por governos de perfil de esquerda, mas depois também pelos de centro-esquerda e de centro, são cada vez mais freqüentes em encontros e debates sobre a ação pública em âmbito local. Tais expressões demonstram a viabilidade de outra prática administrativa, voltada para os direitos individuais e coletivos. Local não é necessariamente sinônimo de municipal. Numa série de encontros recentes sobre a temática da redução da pobreza, a palavra que emergiu como mais adequada para aludir a esse espaço de ação é lugar, um horizonte de ligações, de produção de sentido e de lutas, que pode ser submunicipal, municipal, intermunicipal ou microrregional. Para a teoria organizacional, o foco no lugar como espaço de ação evidencia uma série de questões pouco abordadas. Este trabalho busca uma aproximação inicial com essa temática, para demonstrar seu potencial na reelaboração do fenôme-no organizacional como um todo. Palavras-chaves: desigualdade social; lugar; teoria organizacional. A A A A ABSTRACT BSTRACT BSTRACT BSTRACT BSTRACTIn Brazil, the process of building an effective local level of governance has been taking place for a long time. More recently, stimulated by the 1988 constitution, terms such as participative budgeting, priority inversions and democratic governance are increasingly being used in technical debates and statements by political leaders. They reflect the viability of a different administrative practice, focussed on individual and collective rights. Local, however, is not necessarily synonymous with municipal. In a series of meetings that took place on the topic of povertry reduction, the term that seemed to better describe what was happening was place, a horizon of links, of meaning production and conflicts that could be submunicipal, municipal or intermunicipal in form. For organizational theory, the focus on place as a space for action throw light on a series of questions not normally focussed and may allow a different approach to the study of the organization as a social phenomenon.
Psychologists in hospital settings are part of a complex network of professional relationships in constant negotiation. In addition, psychologists have skills that enable them to work with social phenomena and to act strategically within them. This is especially important in inter-disciplinary team work where professional boundaries can generate barriers to change. This article shows how psychologists of a maternity hospital in a working-class district of a large Brazilian city adapted to an integral approach to health care in a way that helped other professionals to rethink practices.
Resumo Criado em 1996 por iniciativa da Fundação Ford e a Fundação Getulio Vargas com o apoio do BNDES, o Programa Gestão Pública e Cidadania vem trabalhando de maneira ativa na identificação e disseminação de iniciativas inovadoras dos the BNDES. Its objective is to identify and disseminate information about innovative practices in sub national governments in Brazil that improve the quality of public services and produce a positive impact on the construction of citizenship. In the program's eight years to date, some 6,200 different experiences have been identified coming from state and local governments and the governments of the indigenous peoples. In this paper the theme of innovation is discussed using as a basis the answers of the different programs, projects activities to the same question. The result offers a new perspective of the discussion of the differences between innovations and "best practices".Keywords: public sector inovations, pratical definitions, local government, BrazilCriado em 1996, por iniciativa da Fundação Ford e da Fundação Getulio Vargas (FGV), com o apoio do BN-DES, o Programa Gestão Pública e Cidadania vem trabalhando de maneira ativa na identificação e disseminação de iniciativas inovadoras dos governos subnacionais brasileiros que melhoram a qualidade dos serviços pú-blicos e contribuem para construção da cidadania. Nos oito anos do programa, algo em torno de 6.000 experiências foram identificadas e mais de 200 estudos de caso publicados, além de bancos de dados, vídeos e outras formas de disseminação, incluindo o apoio a programas de emissoras de rádio comunitárias.Seus métodos de identificação e disseminação são relativamente novos no mundo acadêmico. Buscando criar um mecanismo capaz de ir além das inovações já conhecidas e identificar os estados e municípios de maior destaque no cenário técnico e político, o programa optou por utilizar um prêmio anual, aberto a todas as "jurisdições subnacionais" (estados, municípios e os governos próprios dos povos indígenas) e com critérios flexíveis de inscrição. Essa abordagem inclusiva também se faz presente no processo de disseminação, onde todas as experiências enviadas ao Programa Gestão Pública e Cidadania são incluídas no banco de dados e recebem certificados de participação.O processo de avaliação é feito em três etapas. Na primeira, são selecionados 100 programas, projetos ou atividades semifinalistas, a partir da informação fornecida na ficha de inscrição. Na segunda, após receber maiores detalhes dos programas semifinalistas, são selecionados 30 pré-finalistas, que recebem a visita de um técnico ou pesquisador para verificar in loco a iniciativa. Na etapa final, 20 finalistas são selecionados para compor o conjunto de experiências exemplares do ano, apresentadas num evento de confraternização e aprendizagem onde cinco destaques são indicados. Ao longo do processo, pesquisadores, técnicos, professores, gestores públicos e ativistas participam do processo de avaliação e discussão; debatendo a importância de cada iniciativa.
The Fundação Getulio Vargas, São Paulo, Public Management and Citizenship Program was set up in 1996 with Ford Foundation support to identify and disseminate Brazilian subnational government initiatives in service provision that have a direct effect on citizenship. Already, the program has 2,500 different experiences in its data bank, the results of four annual cycles. The article draws some initial conclusions about the possibilities of a rights-based approach to public management and about the engagement of other agencies and civil society organizations.
La narrativa dominante en gran parte de las investigaciones en psicología es aquella donde se considera la ciencia empírica como un programa de actividades muy especial, teniendo como fin lo que Richard Rorty llamó de "la verdad redentora". Es decir un "conjunto de creencias que terminarían, por siempre, con el proceso de reflexión acerca de que hacer con nosotros mismos" (200) p.2); una creencia de que hay algo "por detrás de la apariencia, la única y verdadera descripción de todo lo que pasa, el secreto final" (2000 p.2).Por presumir que llevan las esperanzas futuras de la humanidad en sus hombros, los científicos se consideran gente especial; cuidadosamente preparados y capacitados, que cumplen con sus deberes en maneras igualmente especiales. Las mensuraciones deben hacerse con cuidado, las observaciones deben ser objetivas y los procedimientos correctos se hacen necesarios para evitar la contaminación de lo observado por el observador.Aunque la orientación de la ciencia empírica es mas fuerte en la psicología experimental, la hegemonía ejercida por esta orientación es muy grande en las demás áreas -incluyendo la psicología social. En la investigación cualitativa, es necesario demostrar que las personas han sido capacitadas para hacer las entrevistas abiertas, que las conversaciones son correctamente registradas (cuando no, grabadas) y que hay métodos rigurosos de análisis. Los métodos cualitativos necesitan de "triangulación"para demostrar la validez de sus conclusiones.A aquellos que avanzan más allá del laboratorio o la sala de entrevista y se adentran en el "campo", se les exigen cuidados iguales. El "campo" es visto como un lugar donde van los psicólogos sociales para buscar "datos" que traen de vuelta para sus análisis. El empleo creciente de términos como "etnografía" o "descripciones densas" es mucho más una consecuencia de estas presiones que una atracción repentina para la antropología. Al final, es difícil dar un enfoque científico a actividades del tipo: " caminando en la calle para arriba y para abajo", "escuchando las conversaciones publicas de las otras", "charlando en las colas", "leyendo los periódicos colgados en el revistero del quiosco" o "tomar un café viendo la vida pasar".Llave para esta visión separada del campo, es la idea de diferencia. No solamente como lugar sino, desde la transferencia de la larga conversación de Malinowski en las Islas Trobriand para la ciudad de Chicago en los trabajos de Park en 1925, visto también como un proceso analítico donde el otro es considerado como un "desconocido" -o porque es un extraño incluso en términos culturales, o porque nosotros le transformamos así, a propósito, para poder observarlo. Utilizamos expresiones como "distancia", "independencia" y, claro, "objetividad". Sin embargo, cuando las personas normales
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.