RESUMO: O artigo objetiva problematizar a constituição de marcadores culturais que compõem a experiência de ser surdo de maneiras distintas e propõe discutir a surdez como uma condição necessária para a existência de uma forma de vida. Para tanto, inicialmente demonstra como a surdez passou a ser interpretada no registro cultural e, em seguida, desenvolve a discussão sobre o conceito de forma de vida para, juntamente com os estudos surdos e os estudos foucaultianos em educação, analisar os sete primeiros números da Revista Ephphatha, publicados pela Associação Brasileira de Surdos-Mudos entre 1914 e 1915. Neles, é possível evidenciar a constituição de marcadores relacionados à surdez em um período que antecede à inscrição dessa experiência no registro das identidades. Assim, foram identificados e discutidos marcadores culturais relacionados à surdez como uma condição primordial de distinção; à alma em luta permanente e bipartida pela (a)normalidade; à identidade; à reunião em um espaço físico ou virtual; ao olhar; à língua de sinais; à experiência visual-gestual e ao tempo. Destacou-se a importância do marcador linguístico na constituição de uma cultura surda e observou-se que os argumentos que sustentam tal noção podem encontrar fortalecimento na medida em que sejam evidenciados mais marcadores culturais atribuídos ao processo de subjetivação dos surdos. Argumenta-se, deste modo, que a surdez determina algo de surdo em tudo o que expressa uma subjetividade marcada por ela como condição primordial de distinção.
RESUMO: O artigo analisa um conjunto de políticas linguísticas de educação de surdos para mostrar como saberes sobre a surdez se articulam a normativas de comportamentos linguísticos dos surdos e operam na constituição de formas possíveis de ser surdo na contemporaneidade. A análise utiliza, como um exemplo destacado, documentos legais que regulamentam a educação de surdos em Portugal. Nesses documentos, percebem-se recorrências discursivas que permitem pensar a produção de formas universais possíveis de ser surdo governáveis principalmente pelo uso da língua, seja ela de sinais, seja oral. Essas formas de ser podem ser pensadas para além de um território geográfico, uma vez que se inspiram em saberes e tendências internacionais da educação de surdos.
RESUMO O objetivo deste artigo é discutir a surdez como uma experiência que constitui sujeitos de uma minoria linguística nos limites do Estado nacional. Para tanto, sob a perspectiva foucaultiana da governamentalidade, explora-se um conjunto de políticas que regulamentam o comportamento linguístico das pessoas surdas no campo educacional. A partir disso, é possível assumir que as condições sociais e políticas dispostas a essa população operacionalizam a manutenção de uma vulnerabilidade linguística, portanto também social, que inviabiliza direitos dignos da vida em sociedade.
RESUMO: O presente artigo teve como objetivo explicar a representação de educação linguística de imigrantes no Brasil. A base teórica do estudo é a Historiografia Linguística (HL), cujas pesquisas visam à reconstrução do conhecimento sobre as línguas e linguagem humana em diferentes recortes temporais. Do tipo documental, o estudo tem como corpus as narrativas jornalísticas veiculadas durante o período de 1900 a 2015 na imprensa catarinense. Os jornais escolhidos como fontes para a obtenção dos dados foram: O Estado e Diário Catarinense. Adotou-se, para o tratamento dos dados, a técnica de análise de conteúdo. Os resultados foram analisados em três seções distintas. A primeira seção referiu-se ao período da Primeira Campanha de Nacionalização, na qual se discutiu a representação de educação linguística: escolas nacionalizadoras para assimilação do imigrante. A segunda referiu-se ao período da Segunda Campanha de Nacionalização, tendo como categorias: as práticas monoculturais e monolíngues nas escolas nacionalizadoras. A terceira intitulou-se a redemocratização, com as categorias: bilinguismo na escola e bilinguismo fora da escola. Os resultados indicam a superação de um passado em que se silenciava, por meio de medidas coercitivas, para dar lugar a um contexto em que se presenciam certa tolerância e proteção da diversidade linguístico-cultural existente no país. ABSTRACT: This article explains the representation of linguistic education of immigrants in Brazil. The theoretical framework of the study is based on Linguistic Historiography (LH), which addresses the reconstruction of knowledge about languages and human language in different periods of time. This is a documentary type study, with a corpus consisting of journalistic narratives published between 1900 to 2015 in the Santa Catarina press. The newspapers chosen as sources for the document corpus were: O Estado and Diário Catarinense. For the data processing, the technique of content analysis. The results were analyzed in three distinct sections. The first section focuses on the First Nationalization Campaign period, in which we discuss the representation of 1 Mestre em Educação pela Universidade do vale do Itajaí (2016), e professora de Língua Portuguesa com experiência no Ensino Fundamental II (6º ao 9º), Ensino Médio (1º e 2º) e Ensino Técnico subsequente.
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O artigo problematiza as condições epistemológicas que perpassam a história da educação linguística dos surdos no século XX. Para tanto, empreende-se uma análise em um conjunto de documentos mantidos pelo Acervo Histórico do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, compreendidos entre 1909 e 1989. Fundamentada na perspectiva da História Social da Língua e de autores pós-estruturalistas, a análise permite observar a construção de um currículo nacional planejado para a educação de surdos do século XX, a formação de professores que atuariam com esses sujeitos e as práticas pedagógicas desempenhadas para alcançar o objetivo de munir surdos de uma única língua. Assim, é possível evidenciar como a educação de surdos possibilitou o desenvolvimento de um bilinguismo clandestino, que permitiu a formação de uma resistência linguística e a possibilidade de constituição de uma forma de ser surdo observável na atualidade.
O artigo discute a manutenção da histórica vulnerabilidade linguística atribuída às pessoas com surdez e problematiza a precarização das condições de desenvolvimento e sustentabilidade do sujeito. Para tanto, usou-se o conceito foucaultiano de governamento como uma ferramenta de análise em um conjunto de políticas linguísticas de educação de surdos no Brasil. A partir do material, foi possível identificar que o mecanismo da escolha parental opera como uma estratégia de planejamento linguístico fortemente articulada à uma prática de condução pela língua oficial que age na manutenção da vulnerabilidade linguística dos surdos e na precarização de suas condições de formação e trabalho. Assim, entende-se a língua oficial como parte de um dispositivo que instaura a in/exclusão como condição contemporânea e que atua em uma espécie de repatriação de surdos.
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