Eu gostaria de fazer a genealogia dos problemas, das problematizações. Minha opinião é que nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso, o que não significa exatamente o mesmo que ruim. Se tudo é perigoso, então temos sempre algo a fazer. (Foucault, 1995, p. 256) RESUMO: O artigo parte dos conceitos de governamento, biopoder, norma e governamentalidade para argumentar no sentido de que as políticas de inclusão -especialmente as políticas de inclusão escolar -são dispositivos biopolíticos para o governamento e o controle das populações. Tomam-se esses e outros conceitos foucaultianos como ferramentas analíticas para argumentar que é preciso examinar as políticas e práticas inclusivas sem assumir antecipadamente qualquer juízo de valor sobre elas. Entendendo a diferença como manifestação da diversidade, e o diferente como um exótico, um portador de algo que os outros não possuem, as políticas de inclusão -nos modos como vêm sendo formuladas e em parte executadas no Brasil -parecem ignorar a própria diferença. Assim, ao invés de promoverem uma educação para todos, elas correm o risco de realizar uma inclusão excludente das diferenças. Discute-se a distinção entre campanhas públicas e políticas de inclusão em termos dos âmbitos em que ambas se efetivam. Palavras
RESUMO: O artigo objetiva problematizar a constituição de marcadores culturais que compõem a experiência de ser surdo de maneiras distintas e propõe discutir a surdez como uma condição necessária para a existência de uma forma de vida. Para tanto, inicialmente demonstra como a surdez passou a ser interpretada no registro cultural e, em seguida, desenvolve a discussão sobre o conceito de forma de vida para, juntamente com os estudos surdos e os estudos foucaultianos em educação, analisar os sete primeiros números da Revista Ephphatha, publicados pela Associação Brasileira de Surdos-Mudos entre 1914 e 1915. Neles, é possível evidenciar a constituição de marcadores relacionados à surdez em um período que antecede à inscrição dessa experiência no registro das identidades. Assim, foram identificados e discutidos marcadores culturais relacionados à surdez como uma condição primordial de distinção; à alma em luta permanente e bipartida pela (a)normalidade; à identidade; à reunião em um espaço físico ou virtual; ao olhar; à língua de sinais; à experiência visual-gestual e ao tempo. Destacou-se a importância do marcador linguístico na constituição de uma cultura surda e observou-se que os argumentos que sustentam tal noção podem encontrar fortalecimento na medida em que sejam evidenciados mais marcadores culturais atribuídos ao processo de subjetivação dos surdos. Argumenta-se, deste modo, que a surdez determina algo de surdo em tudo o que expressa uma subjetividade marcada por ela como condição primordial de distinção.
O presente artigo discute como distintas normalidades são constituídas nos sujeitos com deficiência a partir das práticas de serviços de apoio à inclusão escolar. Para tanto, foram analisadas políticas públicas, em vigor de 1990 até 2015, que determinaram parte das condições para a realização da inclusão escolar no Brasil e que fazem referência ao estabelecimento de serviços de apoio considerados necessários para efetivá-la. Utilizou-se a ferramenta teórico-metodológica da normalização para as análises do arquivo de pesquisa, ancoradas no campo dos Estudos Foucaultianos em Educação. Os exercícios analíticos apontam para práticas de constituição de curvas de normalidades diferenciais que fragmentam o indivíduo com deficiência em pequenas curvas diagnósticas. O processo de fragmentação do sujeito com deficiência, efetivado por diferentes profissionais, permite muito mais que a identificação da deficiência. Este processo de fragmentação efetiva a indicação de pequenas normalidades que constituem esse sujeito. Dessa maneira, naturalizam-se variadas expressões da deficiência, contribuindo para o esmaecimento dos impactos na vida dos sujeitos que as possuem.
ResumoEste texto analisa a inclusão a partir de uma das cinco metas previstas em um dos mais profícuos movimentos da sociedade civil brasileira para assegurar que até o ano de 2022 todas as crianças e jovens tenham garantido o direito de acesso à escola básica de qualidade: o Todos Pela Educação, criado em 2006. Partindo de uma perspectiva genealógica no sentido que lhe atribui Michel Foucault, a pesquisa analisa a proveniência e emergência do Movimento no cenário educacional brasileiro neste iní-cio de século e suas implicações na política educacional. A referida análise genealógica visibiliza a instauração da performatividade no cenário educacional contemporâneo, entendendo-se esse conceito com base nas teorizações de Stephen Ball. A partir da análise de excertos retirados de publicações de divulgação e de relatórios de monitoramento das metas produzidos pelo Movimento Todos Pela Educação, conclui-se que a inclusão escolar no Movimento assume um caráter de minimização do risco social e que a relação da performatividade com a inclusão se constitui em um paradoxo. Se, por um lado, num sistema escolar pautado pelas exigências da performatividade, a inclusão de todos é uma condição inegociável, absolutamente necessária para reduzir o risco social e elevar o Brasil nos rankings internacionais na Educação, por outro lado, esses ditos "incluídos" ameaçam a performatividade escolar, uma vez que seus desempenhos nas avaliações de larga escala, muitas vezes, não são considerados satisfatórios para atender às metas estabelecidas pelo Movimento Todos Pela Educação.
Entrevista com Marco Antonio Jiménez
Ao problematizar a inclusão a partir dos impactos da teorização foucaultiana no campo da Educação, o artigo propõe um exercício de desconstrução de práticas que constituem a inclusão como "foco" ou "matriz de experiência", no cenário brasileiro contemporâneo. Tomando a governamentalidade como grade de inteligibilidade em que se inscrevem as práticas inclusivas, operou-se com o governamento e a subjetivação como ferramentas teórico-metodológicas para o tensionamento pretendido. Ficou visível que, ao investir na subjetivação dos indivíduos, a matriz de experiência da inclusão torna-os capazes de aliar, no domínio de si, práticas de sujeição e práticas de liberdade. O agonismo da conjugação de tais práticas, ao capturar e submeter o indivíduo à matriz de experiência da inclusão, também possibilita condições para o exercício da contraconduta, de modo a alterar ou deslocar as formas de condução para a inclusão vivida até o presente e forjar subjetividades outras, até então impensadas.
A partir de la comprensión de los conceptos biopolítica,gubernamentalidad y del par normal/anormal, talcomo ellos fueron desarrollados por Michel Foucault,el artículo analiza las actuales políticas y prácticas deinclusión social, como dispositivos implicados en unaoperación de plegamiento del Otro sobre él Mismo.Explorando la polisemia del par inclusión/exclusión,se argumenta que el imperativo de la inclusión seinstala en consonancia con la biopolítica y al serviciodel neoliberalismo.
RESUMO: O artigo analisa um conjunto de políticas linguísticas de educação de surdos para mostrar como saberes sobre a surdez se articulam a normativas de comportamentos linguísticos dos surdos e operam na constituição de formas possíveis de ser surdo na contemporaneidade. A análise utiliza, como um exemplo destacado, documentos legais que regulamentam a educação de surdos em Portugal. Nesses documentos, percebem-se recorrências discursivas que permitem pensar a produção de formas universais possíveis de ser surdo governáveis principalmente pelo uso da língua, seja ela de sinais, seja oral. Essas formas de ser podem ser pensadas para além de um território geográfico, uma vez que se inspiram em saberes e tendências internacionais da educação de surdos.
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