Ao longo da nossa trajetória de vida vamos colecionando obras e autores que se tornam inesquecíveis. Por diversas razões, alguns trechos, personagens e tramas permanecem apesar da passagem do tempo e do acúmulo de novas experiências de leitura, compondo a paisagem de nossas bibliotecas vividas. Ao acompanhar as singularidades das trajetórias de três autoras, que apresentam elementos da tessitura de suas bibliotecas pessoais, este artigo busca investigar os sentidos formativos na construção de relações pessoais com a leitura. Compreende-se que tais aprendizados pelos livros fazem proliferar modos de pensar sobre si e sobre o outro, assim, o artigo buscará insistir sobre esses espelhamentos múltiplos dos livros nas experiências individuais. Um dos aspectos a serem considerados diz respeito aos modos como são incorporados os critérios de julgamento dos livros e seus autores às experiências por meio das quais se aprende que certas leituras são consideradas boas e reconhecidas como legítimas representantes da cultura valorizada, enquanto outras, pelo contrário, são percebidas como más, nocivas ou perigosas para a formação do leitor. Sendo também professoras, as autoras recuperam ainda as suas histórias de relação com as leituras na universidade num duplo sentido: como alunas e como docentes.
Este artigo investiga os processos de formação docente descritos em dois livros publicados na primeira metade do século XX, a saber: “O calvário de uma professora”, de Dora Lice, e “Clarissa”, de Érico Veríssimo. Investe-se na leitura desses livros como romances de formação que ao apresentarem as personagens-professoras em diferentes circunstâncias, escolares e não escolares, permitem identificar os complexos processos que constroem suas identidades profissionais. As temáticas relacionadas à escolha profissional das protagonistas, as questões de gênero presentes nos enredos das obras, assim como os usos potenciais das obras literárias para tratar dos temas da história da educação brasileira, incluindo a história da escola, da profissão docente, e os embates entre o método tradicional e as ideias renovadas de ensino constituem eixos articuladores da análise aqui proposta.
Sabemos que podemos alcançar via obras literárias uma compreensão fecunda das muitas dimensões da vida e dentre elas a educação. Muito já se disse a propósito e tanto há partidários de uma proteção das obras dos possíveis utilitarismos quanto há os que preferem sustentar que as vias de entendimento proporcionadas pela literatura são privilegiadas e não há mal em fazer delas um uso mais ou menos pedagógico. Partilhando da segunda hipótese busca-se mostrar um caso no qual a obra explicita aspectos importantes para nossas reflexões educacionais. A literatura também é um dispositivo de conhecer. Por meio da construção literária, passamos a compreender a percepção das emoções, cheiros, texturas e associações nas lógicas próprias do mundo infantil e até mesmo interrogar os discursos autorizados. Importantes questões nos lembram que no espaço dos pontos de vista sobre o que os adultos fazem em nome de educar, muitas vezes falta levar em conta que entre as lógicas de apreensão da realidade é preciso atentar para as lógicas das crianças. Tentaremos aqui evidenciar um percurso ficcional cuja plausibilidade é simbólica e pedagogicamente aterradora. A análise incide sobre a obra Quando tinha cinco anos eu me matei e identifica pontos fulcrais das relações adultos-crianças, da vida e da cultura escolar e alguns riscos engendrados pelos diagnósticos que recaem sobre crianças e, por vezes, delineiam seus destinos.Palavras-chave: literatura; mundo infantil; educação; fonte literária; educação e ficção.A BOY SPEAKS OF AFFECTS, SPEAKS OF SCHOOL, OF TEACHERS, OF DOCTORS AND OF PSYCHOLOGISTS, REFLECTIONS PROMPTED BY THE BOOK “WHEN I WAS FIVE I KILLED MYSELF” BY HOWARD BUTENAbstract We know we can, by means of literary works, reach a fertile comprehension of life’s many dimensions – and among them education. A lot have been said about this and there are partisans both who seek to protect literary pieces from possible utilitarianisms and those inclined to sustain that the paths to understanding propitiated by literature are privileged and that there is no harm in making use of them for more or less pedagogical purposes. Sharing the latter hypothesis, we seek to show one case in which a literary piece renders explicit aspects that are important for our educational reflections. Literature is also a device to achieve knowledge. By means of literary construction, we come to understand the perception of emotions, smells, textures and associations in the logics specific to the child’s world and even to interrogate authorised discourses. Important questions remind us that within the space where points of view regarding what adults do in the name of education are elaborated, one often fails to take into account that among the reality- apprehending logics one needs to pay particular attention to the logics of children. Here we will try to render evident a fictional trajectory whose plausibility is both symbolic and pedagogically terrifying. The analysis considers the text When I Was Five I Killed Myself, identifying fulcral points in the adults-children relationship, in life and in school culture and also a few of the risks engendered by the diagnoses imposed on children and that, sometimes, delineate their destinies.Keywords: literature; children’s world; education; literary source; education and fiction. UN NIÑO HABLA DE AFECTOS, HABLA DE LA ESCUELA, MAESTROS, MÉDICOS Y PSICÓLOGOS, REFLEXIONES CON EL LIBRO “CUANDO TENÍA CINCO AÑOS ME MATÉ”, DE HOWARD BUTENResumenSabemos que a través de las obras literarias podemos alcanzar una comprensión fructífera de las múltiples dimensiones de la vida, incluida la educación. Ya se ha hablado mucho de esto, y hay tantos partidarios de una protección de la literatura frente a posibles utilitarismos, como los que prefieren sostener que las formas de comprensión que brinda la literatura son privilegiadas y no hay nada de malo en tomarlas para uso más o menos pedagógico. Compartiendo la segunda opinión, buscamos mostrar un caso en que el texto muestra aspectos importantes para nuestras reflexiones educativas. La literatura es también un dispositivo de conocimiento. A través de la construcción literaria, llegamos a comprender la percepción de emociones, olores, texturas y asociaciones en las lógicas del mundo infantil e incluso interrogamos discursos autoritativos. Temas importantes nos recuerdan que en el espacio de puntos de vista sobre lo que hacen los adultos en nombre de educar, muchas veces es necesario tener en cuenta que, entre las lógicas para aprehender la realidad, hay que tener em cuenta las lógicas de los niños. . Aquí intentaremos demonstrar un percurso ficcional cuya plausibilidad es simbólica y pedagógicamente aterradora. El análisis se centra en el libro Cuando tenía cinco años me suicidé e identifica puntos clave en las relaciones adulto-niño, en la vida y la cultura escolar, como también algunos riesgos engendrados por los diagnósticos que recaen sobre los niños que, en ocasiones, delinean sus destinos.Palabras clave: literatura; mundo infantil,; educación; fuente literaria; Educación y ficción.
RESUMO Na situação pouco esperançosa imposta pela devastação a que nos submeteu o ano 2020, a inquietação acerca dos rumos possíveis para a educação num futuro próximo nos leva a procurar modos de propor a educação que se alicercem sobre valores de cuidado com o mundo. Assim, o artigo retoma o pensamento educacional de José Mário Pires Azanha e busca “pensar com” ele possibilidades educativas no nosso tempo. Ressalta-se como as formulações e ações do autor, tecidas no interior de sua produção teórica e atividades profissionais, têm oferecido elementos estruturantes aos debates acerca da escola, do trabalho pedagógico, das relações entre professores e alunos e da pesquisa educacional. Afirma-se, por exemplo, o modo como ele antecipou o empenho para com a justiça social educativa, expressa pela universalização do acesso à escola, na história educacional paulista. Unindo pensamento e ação o autor elabora proposições científicas e políticas num modelo de investigação educacional e de constituição da pedagogia que acolhe a vida e o trabalho escolar como construções sociais, valorizando a autonomia dos professores e das escolas na elaboração do projeto político pedagógico da instituição. Concebemos assim a reflexão contida no texto como uma situação exemplar para se compreender nossos “clássicos do pensamento educacional”, tomando a ideia de clássico a partir das sugestões de Ítalo Calvino.
Resumo Este artigo apresenta alguns resultados de uma pesquisa que buscou compreender as disputas pela leitura legítima de obras literárias no cotidiano escolar. Entendeu-se, a partir dela, que a leitura ganha sentidos na trama do cotidiano conforme as ações de professores e alunos revelam pontos de vista socialmente estruturados acerca da questão, questionandose, frequentemente, os imperativos escolares. Para tanto, em diálogo com autores como Pierre Bourdieu e Roger Chartier, foram realizadas observações de aula em três turmas de língua portuguesa do ensino médio, duas delas na modalidade regular e uma na Educação de Jovens e Adultos (EJA), cujos registros deram origem aos Diários de campo. Assim, a investigação se vale de recursos da etnografia escolar. Entrevistas semiestruturadas com duas professoras e oito estudantes, adolescentes e adultos, igualmente compõem o material de pesquisa. Objetivou-se, assim, compreender as tensões referentes à cultura legítima no interior de um nível de ensino que vem passando por variados processos de expansão e questionamento de seus sentidos formativos. A análise das fontes permite-nos ver a leitura como elemento que sustenta e estrutura uma dimensão relevante da vida escolar, ao mesmo tempo em que seus sentidos são construídos segundo as lógicas das interações cotidianas que auxiliam na classificação e identificação das práticas legítimas. Foi possível descrever as salas de aula à imagem do palimpsesto, em que as referências de leitura dos alunos e dos professores ocupam espaço marginal, porém pressionam as atividades e as disposições literárias oferecidas aos estudantes.
O artigo objetiva investigar a Proposta Curricular de Língua Portuguesa de 2º grau (1977) da rede estadual paulista e seus volumes associados, explorando como a ideia de pluralidade orientou as inovações pedagógicas, literárias e linguísticas do período. Discute-se em perspectiva sócio-histórica uma Proposta que incorporou as demandas de um sistema de ensino que passava por processos de expansão acentuada desde a Lei 5692/71, trazendo pluralidade social e cultural ao alunado atendido. As soluções encontradas pelo documento se expressam em suas escolhas de atividades de ensino e na incorporação de novas concepções literárias em circulação no espaço acadêmico dos anos 1980. O resultado de tais influências configurou uma Proposta de ensino e de formação que influenciou os debates educativos das décadas seguintes em que a ênfase na ideia de pluralidade se torna estratégia de reafirmação de sistemas de classificação de leitura e do que ler já tradicionais na disciplina Língua Portuguesa.
Esse texto tem como objetivo investigar as relações entre a literatura e as mulheres, a partir da compreensão das funções e significados atribuídos à literatura por elas. Para tanto, fazemos uma incursão na produção de artigos sobre o tema de modo a compreender como, ao longo do tempo, as mulheres se constituem em um público leitor e os usos que elas fazem da literatura. Este esforço se mostra importante no campo educacional, uma vez que a literatura tem se constituído como um espaço significativo de educação feminina em ambientes distantes da escola, quando se pode formar comportamentos femininos desejados bem como fazer desse objeto um modo de reivindicação social. Percebemos que a literatura tem se mostrado um lugar de disputa em que representações sobre as mulheres entram em debate. Assim, existe um conjunto de publicações que tendem à manutenção do modelo feminino ligado ao lar e aos filhos, mas existe também uma forte prática de escrita feminina que busca maiores liberdades e direitos para as mulheres.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.