Em resposta à inquietante fala de Marina Colasanti -"Por que nos perguntam se existimos?" -, proferida em um evento em 1996 sobre a literatura escrita por mulheres, a edição número 30 da Revista Crioula procura afirmar a diversidade e a complexidade da autoria feminina e suas multifacetadas possibilidades de resposta.Sob o recorte das análises de autoria e de personagens lésbicas, esta edição é aberta pelo artigo mestre de Natália Borges Polesso: nele, a premiada escritora discute a assinatura estética de Luciany Aparecida, ou Ruth Ducaso, num vórtice que põe à prova noções de autoria, de linguagem, de colonialidade e de gênero.A complexidade presente nas autorias femininas lésbicas também é discutida no artigo "A menina e a mulher: os discursos do desejo em Eu sou uma lésbica, de Cassandra Rios", de Jodie Elly Silva Gomes e Edson Soares Martins.Apoiado pelo contexto social de produção da obra, pela consciência dupla e pelo erotismo presente na linguagem da narradora, os autores exploram o conteúdo e a linguagem que formam as diferentes representações femininas presentes no romance.Ainda sobre Eu sou uma Lésbica, temos o artigo "A atmosfera afetiva de um criptandro", de Ruan Nunes Silva, em que vemos a análise de afetos como medo, nojo e prazer presentes na protagonista Flávia. Tal exame é feito à luz das teorias
Neste artigo, pretende-se analisar alguns aspectos da obra amadiana Tocaia Grande (1984), a fim de compreender de que modo princípios míticos de ordem afro-brasileira são apropriados no processo de construção literária da personagem Epifânia de Oxum. Tal recorte temático e metodológico nos importa pois reproduz tratamentos e concepções sociais atinentes à mulher negra e suas práticas religiosas, afetivas e interpessoais que são perceptíveis contemporaneamente na sociedade brasileira. Recorremos aos trabalhos teóricos de Azevedo (2009), Dionísio (2014), hooks (2014), Lima (2012 [2007]), Souza (2008) e outros para alinhavar nossas reflexões aqui apresentadas.
Considerando a importância das muitas contribuições do capital cultural africano e afro-brasileiro à nação brasileira, dentre as quais se destacam as religiosas e artísticas, analisaremos a construção de personagens associáveis ao orixá Oxum no conto Fios de ouro, de Conceição Evaristo, parte integrante da obra Histórias de leves enganos e parecenças. Buscamos, neste trabalho, dar ênfase à referência mitológica, a qual não parece ser perdida de vista ao longo do processo de composição do enredo e de subjetivação das personagens na obra evaristiana. Desta forma, nosso propósito é notabilizar a confluência entre produção literária afro-brasileira e o emprego das narrativas e experiências mítico-religiosas e ancestrais africanas e afro-brasileiras, sendo que são parte de um mesmo território epistemológico: a cultura negra no Brasil. Assim, analisaremos a referida obra à luz de trechos dos ìtàn — textos mitológicos compilados sobre os Orixás —, a fim de identificar possíveis fontes, apontar similaridades e propor caminhos interpretativos.
Os quase dois anos de pandemia causaram profundas mudanças em nossas vidas pessoais e em sociedade. Descobrimos, inventamos e recuperamos formas de nos relacionar, comunicar, locomover pela cidade e também de produzir e apreciar literatura. As lives no Instagram, Facebook e Youtube, os vídeos-minuto postados nestas e em outras plataformas, os eventos completamente virtuais - como lançamentos, saraus e rodas de conversa sobre literatura - são fenômenos que, apesar de não terem sido criados nos longos meses de distanciamento social que experienciamos, se tornaram ferramentas basilares para o compartilhamento e a publicização de trabalhos literários e editoriais. Este artigo, que é um recorte de comunicação oral apresentada no XX Encontro de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, objetiva apresentar e examinar algumas experiências virtuais que, ao longo da pandemia de COVID-19, foram e seguem sendo possíveis na trajetória de escritoras e iniciativas culturais brasileiras, como Carol Dall Farra, Conceição Evaristo a FLUP (Festa Literária das Periferias).
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