IntroduçãoEm 1893, durante o governo de Floriano Peixoto, um decreto legislativo autorizou a criação de um estabelecimento voltado para a correção, pelo trabalho, dos vadios, vagabundos e capoeiras que fossem encontrados na Capital Federal. 1 A partir deste decreto, uma Colônia Correcional foi instalada na Ilha Grande, no ano seguinte. Dois anos após ser criada, contando com dificuldades econômicas e precariedade de pessoal, a Colô-nia foi fechada sob o argumento de que o estabelecimento era completamente incapaz de cumprir os objetivos estabelecidos pela lei. Em 1903, em função de um novo decreto, a "Colônia Correccional de Dous Rios" voltou a ser instalada, no mesmo local, sendo que desta vez com um aparato administrativo bem mais complexo. Ainda assim, foram vários os problemas enfrentados e, em 1907, avaliações oficiais reproduziam o diagnós-tico de 1895; a Colônia passou, então, por uma reformulação geral para que se adequasse aos propósitos formulados.Para alguns dos autores que investigaram as instituições disciplinadoras que se formaram nos primeiros anos da República, 2 o sistema legislativo e institucional que foi instalado neste período cumpriu um papel de destaque na repressão às classes subordinadas. 3 Não há nenhuma intenção aqui de se negar que o sistema carcerário foi forjado paralelamente ao estabelecimento de um Estado, que, embora fundado no discurso democrático e liberal, tenha sido responsável por práticas repressivas e excludentes. O objetivo deste artigo, entretanto, é investigar a relação entre normas instituídas através do sistema legislativo e judiciário e a aplicação empírica destas leis, uma vez que esta análise pode contribuir para os estudos sobre direito e cidadania.
IntroduçãoO tema da interdisciplinaridade é cada vez mais debatido no meio acadêmico. Os organizadores do encontro da SBPC em 2006, cujo título foi "Semear a Interdisciplinaridade", procuraram não só intensificar o debate sobre o tema, mas incentivar a formação de grupos de trabalho com especialistas de diferentes campos disciplinares. O ponto de partida do encontro foi o diagnóstico de que a progressiva especialização nas variadas áreas do conhecimento pode levar a uma visão retalhada e incompleta do mundo. Questões relacionadas à nanotecnologia, à biodiversidade, ao mapa genético ou à criminalidade, por exemplo, não são mais respondidas com base em marcos disciplinares já estabelecidos. Na área das ciências sociais, o debate é também muito intenso. Em duas publicações recentes, há a preocupação em ultrapassar as limitações da especialização crescente do conhecimento e fronteiras disciplinares. 1O que presenciamos, hoje, portanto, é um movimento inverso àquele responsável pela fragmentação do mundo em campos disciplinares, ou seja, a tentativa de que esses campos se comuniquem, permitindo a formação de um conhecimento mais adequado às necessidades de intervenção prática, política e social. Ao reduzirem a complexidade do mundo real, as diversas disciplinas enfrentam impasses na compreensão e na explicação de seus objetos, bem como no desenvolvimento e na aplicação de suas descobertas. Cabe ressaltar,
A maior parte dos museus mineiros parece estar empobrecida. As construções estão muitas vezes em um estado de conservação precário e as exposições "fora de época", oferecendo pouca informação contextual. Poucos museus fornecem detalhes sobre a natureza, objetivo e origem das suas coleções. As etiquetas são pouco freqüentes e limitadas a uma nota batida à máquina dando o título e, às vezes, a data e procedência do objeto (Dickenson, 1994).
O objetivo deste trabalho é mostrar três desafios surgidos a partir das primeiras apresentações do projeto Ecomuseu Ilha Grande, todos eles relacionados às diferentes formas de compreensão do que sejam natureza e cultura. O primeiro diz respeito ao equilíbrio entre preservação da natureza e bem-estar dos moradores, objetivos bastante conflitantes atualmente. Em segundo lugar, há a intenção de envolver a população local da Ilha Grande nos projetos de pesquisa acadêmica e de defesa do meio ambiente. Finalmente, há a tentativa de preservar a memória de práticas de violência e de arbitrariedade ética e moral, que são ou estereotipadas ou totalmente ignoradas pela sociedade.
RESUMOA partir do estudo sobre prisões da Ilha Grande na primeira metade do século XX, este artigo investiga a construção de uma cultura punitiva que criminalizou grupos sociais que se encontravam em condições precárias de sobrevivência. O termo "vagabundo", responsável pela prisão e maus tratos de milhares de indivíduos no período pós-abolicionista, esteve presente em leis e códigos penais, no pensamento de legisladores e em textos ditos científicos. O encontro entre lideranças políticas, adversárias do governo Vargas, e a dita vadiagem nas prisões da Ilha Grande evidenciou tratamentos diferenciados e a naturalização do conceito. Entrevistas com guardas penitenciários da Colônia Agrícola do Distrito Federal, construída em 1942, permitem indicar como essas classificações foram operacionais no interior do sistema prisional e como elas se desdobraram. Palavras-chave: Ilha Grande; sistema penitenciário; Colônia Correcional de Dois Rios; Colônia Agrícola do Distrito Federal; cultura punitiva. ABSTRACT Based on the study of Ilha Grande's prisons in the first half of the twentieth century, this paper investigates the construction of a punitive culture that criminalized social groups in poor living conditions. The term "vagabundo" [vagrant], which justified the arrest and mistreatment of thousands of individuals in the post-abolitionist period, was present in laws and penal codes, in legislators' thought, and in so-called scientific texts. The meeting between political leaders opposed to Vargas' government and the so-called vagrants indicated differential treatments and the naturalization of the concept. Interviews with prison guards of the Colônia Agrícola do Distrito Federal, built in 1942, indicate how these classifications were operating within the prison system, and how they were deployed.
RESUMOO objetivo deste artigo é analisar o uso da memória pelas Ciências Sociais a partir da investigação de fontes orais e escritas. Ao longo do trabalho, serão consideradas cinco narrativas sobre o assassinato de um lavrador da Ilha Grande por um grupo de presos que havia fugido do Instituto Penal Cândido Mendes (IPCM). Além disso, são objetos de análise a notí-cia sobre o caso que aparece na imprensa e o relatório oficial sobre a fuga dos presos encaminhado pelo diretor da penitenciária ao diretor-geral do Departamento do Sistema Penitenciário (DESI-PE). Em que pese a diferença entre os relatos apresentados, procurar-se-á mostrar que as memórias relacionam-se a perspectivas e códigos existentes entre grupos de pertencimento e que elas podem fornecer dados importantes sobre contextos, processos e conflitos sociais que fazem parte da vida dos diversos narradores do caso em questão. Palavras-chave: Memória coletiva. Ilha Grande. Presídio. Penitenciária. Violência. ABSTRACTThe objective of this paper is to investigate social practices developed by inmates of the Instituto Penal Cândido Mendes (IPCM) as well as by those who lived in Ilha Grande, the island where the prison was settled, through the analysis of different narratives about the escape of a group of convicts. The author also analyzed the escape on the news and on the official reports. The point the author makes is that despite the different reports on the escape it is possible to relate the narrative to collective memories, that is, to common rules and perspectives, which allow us to understand social conflicts, processes and contexts inherent to the lives of the narrators.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.