A proposta deste artigo é analisar os traços dos textos de João Guimarães Rosa, Johann Wolfgang von Goethe e John Milton, a saber, Grande sertão: veredas, Fausto e Paradise Lost, respectivamente, que compõem diálogos poético-bíblicos, cantos paralelos ou transcriações. Este artigo também investigará o modo como o romance brasileiro dialoga com a peça trágica alemã na elaboração e recriação do mito do Diabo e em seus desdobramentos, elementos esses que também estão presentes no diálogo entre os textos em alemão e em inglês. A noção de diálogo aqui trabalhada é a estudada por Mikhail Bakhtin, o qual sugere a ideia de dialogismo como constitutivo da intertextualidade, com o texto passando a ser visto como uma absorção de e uma resposta a um outro texto. Nesse movimento de absorção de elementos e resposta a outros textos, a lógica do suplemento de Jacques Derrida promove a noção de diálogo com o termo funcionando como a escrita de proliferação de significados.
Interview with Stephen Jay Greenblatt.
Os contos de Machado de Assis “A Igreja do Diabo” e “O Sermão do Diabo” foram publicados em 1884 e 1893, respectivamente. A referência ao mito do Diabo pode remeter o leitor a várias fontes, dentre as quais, a Bíblia, e, a partir dela, a outras representações desse personagem. A presente análise visa à inclusão de mais uma representação no universo intertextual de Machado de Assis: a do Satã miltoniano, elemento esse que está nos contos machadianos não de forma tipológica ou como cópia, mas sob uma perspectiva diferente, que promove mais uma significação para esse elemento ficcional. A relação entre o Satã miltoniano e o Diabo machadiano é lida, então, pela lógica do suplemento, como proposto por Jacques Derrida, na qual, Machado de Assis, leitor de Milton, atualiza, em seus contos, o discurso literário sobre o mito do Mal e não escapa ao destino, à tradição e à herança do autor inglês. PALAVRAS-CHAVE: Diabo; Machado de Assis; John Milton.
Resumo: Os textos de Machado de Assis e principalmente seus romances estabelecem muitos diálogos com diferentes escritores e tradições. Entretanto, a forma que Machado de Assis escolheu para se referir ao poeta inglês do século XVII, John Milton, no seu romance, Memórias póstumas de Brás Cubas, merece uma atenção cuidadosa. Nesse romance, o autor brasileiro também se refere a Milton, mas não de maneira direta ou nomeada; ao contrário, as alusões a Milton são indiretas, criando uma composição textual com o poeta inglês e o convidando, de maneira ausente, a também fazer parte da narrativa. Machado de Assis, na elaboração dos delírios e deleites de Brás Cubas, reflete sobre seu ato de composição e estabelece diálogos também com o poeta inglês, como uma tentativa de proliferar sentidos da obra de Milton, mais especificamente Paradise Lost, no contexto literário brasileiro. Esses diálogos serão analisados com base na ideia de dialogismo de Mikhail Bakhtin (1973, p. 39) que é constitutivo da intertextualidade e desvia o foco das noções de autoria, causalidade e finalidade, e o “texto passa a ser visto como uma absorção de e uma resposta a um outro texto”. Assim, é pertinente dizer que Machado de Assis absorve elementos de composição do universo miltoniano e responde a eles nas Memórias póstumas de Brás Cubas, revivendo, em sua criação literária, suas experiências como leitor desse poeta inglês.Palavras-chave: Machado de Assis; Brás Cubas; dialogue; Milton.Abstract: The texts of Machado de Assis and mainly his novels established many dialogues with different writers and traditions. However, the way Machado de Assis chose to refer to the English poet of the seventeenth century, John Milton, on his Posthumous Memoirs of Brás Cubas, demands a careful observation. In this novel, the Brazilian writer refers to Milton but not in a direct manner; on the contrary, the allusions to Milton are indirect, creating a textual composition within the English poet and inviting him, in an absent way, to be also part of the narrative. It seems that Machado de Assis, in the elaboration of Brás Cubas’s deliriums and delights, reflects upon his act of composition and establishes a textual dialogue with the English poet, as an attempt to proliferate the meanings of Milton’s oeuvre, more specifically Paradise Lost, in the Brazilian literary context. These dialogues will be analyzed based on Mikhail Bakhtin’s studies on the idea of dialogism, which is a constituent of the concept of intertextuality and deviates the focus on the notions of authorship, causality and finality, with writing working “as a reading of the anterior literary corpus and the text as an absorption of and reply to another text” (1973, p. 39). Thus, it is possible to say that Machado de Assis absorbs some elements of composition from Milton’s creative universe and answers him on his Posthumous Memoirs of Brás Cubas, reviving them in his literary creation and in his experiences as a reader of the English poet.Keywords: Machado de Assis; Brás Cubas; dialogue; Milton.
RESUMO: Este artigo discute a influência de John Milton, poeta inglês do século XVII, na produção literária de Machado de Assis. A fim de abordar distintamente a influência, sua noção é colocada sob rasura, operação proposta pelo escritor franco-argelino Jacques Derrida. Para a compreensão dessa rasura, uma ideia é sugerida, a qual se desdobra nos termos: intertextualidade, destinerrance, eleição de precursores, ironia e afinidade eletiva. Baseando-se nos termos desse grupamento, as análises das obras de Machado de Assis e Milton são trabalhadas e articuladas no diálogo estabelecido entre esses autores. É pertinente dizer que Machado de Assis dá vida à obra miltoniana, por reviver, em sua criação literária, suas experiências como leitor desse poeta inglês. Em sendo pouco extensa a recepção de Milton no cenário literário brasileiro, enseja-se, por meio dessa leitura, instigar o interesse por Milton por meio de Machado de Assis, ou seja, ler Milton machadianamente. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis, John Milton, Influência, DiálogoABSTRACT: This article goal is to present a discussion on the influence of the English poet of the 17th century, John Milton, on Machado de Assis´s oeuvre. It is the aim of this study to provide a different perspective on the notion of influence, using this term under erasure, in an operation proposed by the French-Algerian philosopher Jacques Derrida. To understand the under-erasure act upon influence, an idea that presents a binding is offered on the terms intertextuality, destinerrance, election of precursors, irony, and elective affinity. It is possible to say that Machado de Assis gives life to Milton´s oeuvre, reviving it in his literary creation, in his experiences as a reader of the English poet. It is also the objective of this text to entice the interest for Milton through the reading of Machado de Assis´s texts, in other words, to read Milton in a machadian way.
A reading of the visual metaphors of Paradise Lost will provethat the dialectics of traditional philosophy on the issue ofvision/blindness should be placed “under erasure”. The abovementionedoperation is accomplished in the epic through a“darkness visible” perspective in the establishment of an(in)stance in the matters of interpretation.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.