Em nosso cotidiano, a música é distração e lazer, signo e linguagem, contato e convívio, percepção e diálogo acerca do mundo e da vida social. Podemos analisar a relação do ser humano com a música em diferentes perspectivas: os aspectos subjetivos, vinculados às percepções daqueles que ouvem e interagem com a música; as relações sociais que a música estabelece e proporciona em festas, shows e cultos religiosos e outros lugares de sociabilidade; a utilização da música como divulgação de modelos de linguagem, de estética e de posicionamento político; a sua construção como veículo de representações sociais que (re)produzem símbolos, valores e práticas cotidianas -e têm também uma forte dimensão crítica a eles; entre outros. A historiografia tem demonstrado que seja qual for a perspectiva, a utilização da música como fonte para a pesquisa requer do historiador conhecimentos e sensibilidades específicos, como o ouvido atento para as melodias e os olhos abertos para as letras, a compreensão de que a sua audição e dos demais está intimamente relacionada com seus respectivos contextos históricos, bem como o domínio da gramática básica da linguagem musical e das especificidades de cada gênero.
No emblemático ano de 1968, o destacado dramaturgo Dias Gomes publicou um artigo em número especial sobre o teatro brasileiro na Revista Civilização Brasileira, então periódico de referência, apontando o que considerava uma singularidade do teatro: era a arte da palavra, que acontece diante do público.O abuso de adjetivos, embora escape a uma regra básica de redação da narrativa historiográfica, foi voluntário até aqui. Visa a destacar a força da ideia (re)criada pelo texto de Dias Gomes, corrente à época e que se perpetuou, longa e fortemente, na memória social sobre a arte engajada: o teatro seria a expressão artística de resistência mais destacada durante a ditadura militar brasileira, por algumas razões.Por um lado, pelos projetos políticos e estéticos que engendrou, por vezes conflitantes, que queriam cumprir o papel de conscientizar o pú-blico, fosse promovendo a "catarse", o distanciamento e/ou o estranhamento com relação à realidade imediata (Napolitano, 2001, p. 109). Por outro, pelas relações conflituosas -estratégicas e, por vezes, cômicas http://dx
Marieta de Moraes Ferreira é pesquisadora e professora de História, figura de destaque para se pensar a constituição de campos como a história política, a história do tempo presente e a história oral na historiografia brasileira. Docente aposentada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ex-pesquisadora no Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV), autora de diversos artigos e livros acadêmicos, didáticos e paradidáticos, hoje coordena a Editora da FGV. Participou, muitas vezes concebendo e/ou coordenando, de projetos de divulgação científica, ensino de História, formação de professores e pesquisadores em História, que foram (e são) fundamentais para consolidar a feitura de uma história em relação, em parceria, para e por diferentes públicos. Na entrevista que nos concedeu, além abordar as relações entre história pública e ensino de história – temática deste Dossiê –, narrou brevemente a construção de sua trajetória e como a percebe, hoje.
Marcos Napolitano é uma das principais referências nacionais sobre a música popular, tanto no campo da historiografia da cultura brasileira, quanto no que tange a produções editoriais voltadas para a formação continuada de professores. Doutor e Livre-docente (USP), é professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo (USP). Atua também como assessor ad hoc da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do CNPq, bem como na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Líder do Grupo de Pesquisa “História e Audiovisual” (USP). Nesta entrevista, o professor Napolitano reflete sobre os rumos dos estudos sobre a música popular brasileira na historiografia brasileira e nas práticas de ensino desenvolvidas na educação básica. Relaciona as tradições historiográficas com as escolares, e aponta algumas possibilidades para as abordagens acadêmica e didática sobre o tema que ampliem o campo de pesquisa ora constituído e o repertório cultural habitual de professores e estudantes. Marcos Napolitano is one of the academic authorities in Brazilian popular music, both in the field of the historiography of Brazilian culture and in what stands to the editorial productions aimed at continued teacher training. Dr. Napolitano works in the Department of History, in the Post-Graduate Program in Social History and is a leader of the Research Group “History and Audiovisual” of the Universidade de São Paulo (USP). He also serves as ad hoc advisor to the Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) and CNPq, as well as the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). In this interview, he talks about the tendencies of popular music studies in the Brazilian historiography and teaching practices developed for basic education. He makes comparisons of traditional and academic historiography, and points out some possibilities for the academic and didactic approaches on the issue that could broaden the field of current research and the standard repertoire of teachers and students.
Este artigo pretende discutir os dados coletados em entrevistas temáticas como público consumidor do texto teatral Gota D'Água, visando a compreender traços damemória social contemporânea sobre os espetáculos realizados entre 1975 e 1980. Comparando as entrevistas entre si e com fontes de outras naturezas, foi possível identificar as formas de apropriação individuais do texto, suas áreas de interseção e as referências sociais com as quais dialogaram as memórias individuais dos espectadores. Faz-se, ainda, uma análise vertical das três categorias de lembranças mais presentes nas narrativas orais. Por um lado, a expectativa de assistir a uma peça de Chico Buarque e a interpretação de Bibi Ferreira no papel de protagonista do espetáculo, apropriações que produziram um esquecimento social sobre a presença de outros sujeitos sociais envolvidos na produção do espetáculo e uma releitura do texto que relativizam os significados políticos explícitos em sua modalidade escrita. Por outro, as recordações relativas ao cenário, que são responsáveis pela permanência, na memória coletiva, de um sentido político do texto encenado, relacionado às representações do povo e da desigualdade social.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.